quarta-feira, 21 de abril de 2010

Veneza, prá sempre no meu coração!


Cheguei à Veneza (essa frase infelizmente não consegue transmitir com fidelidade o impacto que é “se chegar em Veneza”) às 6:00 hs de uma manhã muito chuvosa, o que me fez pensar no fracasso da empreitada de 8:00 hs espremida na cabine de um trem italiano, de Munique, na Alemanha direto à Itália, numa noite cheia de percalços.
Saí da estação de Munique às 11:00 hs da noite, já cansada pelo dia inteiro de andanças na terra da Oktoberfest. Foi magnífico, andar sem eira nem beira por uma Munique cheia de atrações, muito tradicionalista e muito cosmopolita... mas estava exausta. Bem, Munique fica para outro post. A missão agora é tentar explicar “o que é se estar em Veneza”.

Viajei toda a noite numa cabine de um trem não muito confortável, e sempre quando achava que estava pronta prá dormir, vinha um maluco abrir a porta da cabine prá procurar lugar vago, ou o cara do ticket para ver a passagem, ou o pessoal da imigração na fronteira querendo ver Passaporte, e tinha um bêbado que não deixava ninguém no vagão dormir. Foi um caos a noite toda. Tentando novamente dormir, com frio, percebi que estávamos atravessando as montanhas, provavelmente os Alpes italianos. Não dormi mais, precisava ver o que se passava pela janela, pena a máquina fotográfica estar na mala, sob a cama, estava muito sonolenta para pegá-la. Daí quando estava quase amanhecendo, um susto. O trem iria se separar do vagão em que dormíamos para seguir para Verona, e isso em minutos. Céus!! Precisava atravessar dezenas de vagões para não desviar do destino!!!Não queria ir para a cidade de Romeu e Julieta! Queria Veneza! Foi um arrumar de mala, vestir roupa, calçar meia, sapato, corrida por entre passageiros e minutos desesperadores! Mas quem entende italiano prá decifrar a mensagem que por certo correu o trem à noite...?? No fim deu tudo certo, cheguei ao vagão certo toda descabelada, arrastando mala, sem lavar o rosto, sem tomar café, com a adrenalina à mil, mas aliviada.
Prá qualquer um que tenha grana para cobrir freqüentemente um passeio à Europa, Veneza é só mais um lugar do roteiro. Prá mim, simples mortal assalariada, que parcelou a passagem em 10 x, levou 2 malas de roupa velha, R$ 800,00 no bolso prá 20 dias de Europa, dar de cara com a ponte Rialto, principal acesso à Veneza para quem chega de trem, foi uma visão do paraíso, de alguém que encontra o nirvana, o prazer absoluto, uma lembrança que me enche os olhos de lágrima ainda hoje, 10 anos depois. Impacto sem igual. Nem sei como cheguei na Rialto, saltei do trem “daquele jeito meio hippie” mas já em estado de graça, apesar do tempo pesadíssimo e prestes a cair um temporal, acho que fui andando em nuvens. Só parei na estação para fazer o câmbio (trocar Marko por Lira), e ir ao banheiro para me “recuperar” da viagem. Coloquei a mochila nas costas com o essencial para aquele dia e tudo o mais desapareceu: turistas, trens, nuvens pesadas, “só” tinha tudo aquilo pela frente, a eterna Veneza!!! Viajante de “1ª vez em Veneza” não sabe que, logo que se sai do trem, já se tem o pé, os olhos e o coração naquela maravilha toda, ninguém te avisa, te prepara o espírito. É na veia mesmo e com Nitroglicerina pura. Nenhum cartaz com os dizeres “Desembarque e deslumbre-se no choque!” Se o coração agüentar, você é duplamente vencedor. Deu prá sentir o baque??
Parei, respirei fundo, me belisquei para “deixar a moeda cair”, sem saber por onde começar a me deslumbrar primeiro. Deu vontade de dar um grito, desses de comercial psicodélico. Eu estava ali, sonhando um sonho de menina, assistindo o ir e vir frenético dos vaporetos em águas muito verdes do Mar Adriático, e pontes, muitas pontes, palacetes, hotéis maravilhosos, charmosas pizzarias ao largo do Grande Canal, gôndolas com condutores em suas indefectíveis camisetas listradas, estreitas ruas perdidas em labirintos, fabriquetas de cristal de Murano, lojas repletas de máscaras para o famoso Carnaval, e história... Quase podia ouvir os doces acordes do violino de Vivaldi, soando por aquelas infinitas ruelas impregnadas de beleza e mansidão. Ele deve ter sido muito feliz morando por aqui, pensava eu. Arrulhos e revoadas de pombos quebravam o silêncio da paz que eu estava sentindo. Estava feliz como nunca fui até então. A sensação do sonho realizado é boa demais, e o meu, pelo visto, era um sonho em grande estilo.Se algum turista fotografou o ponto onde eu estava, por certo saí na foto dele com a boca aberta, com cara de boba-alegre...
A chuva finalmente caiu, pesada com seus prometidos raios e trovões, desesperando turistas e vendedores em suas barracas de lembranças. Eu, que adoro chuva, cheguei ao êxtase. Me abriguei numa lanchonete, pedi uma fatia de pizza, uma água mineral sentei numa mesinha e fiquei ali, calmamente, observando cada detalhe daquela cidade, me convencendo de que não se tratava de nenhum sonho, de que eu estava realmente em Veneza, em uma de suas lanchonetes, saboreando a vista, uma pizza e a chuva caindo sem dó sobre as calçadas daquele lugar ímpar. Tudo absolutamente perfeito!
Quando finalmente a chuva cessou, o sol voltou tímido, aproveitei para andar e andar, agradecendo aos céus por todo aquele presente. Atravessei todas as pontes, conheci a Piazza de San Marco com sua magnífica catedral e seus milhares de pombos, ladeei o "Gran Canal" e seu grande movimento de barcos e vaporetos, visitei uma loja de cristais onde vi lindas peças sendo fabricadas na hora. Passei pela Ponte dos Suspiros e ela ainda é tão linda e intrigante que os suspiros agora são de quem a vê de fora, não mais dos prisioneiros que outrora por ela passavam e suspiravam na sua última visão da cidade. Os mesmos suspiros que eu dou quando a saudade daquele dia me aperta o coração.

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Veneza, prá sempre no meu coração!


Cheguei à Veneza (essa frase infelizmente não consegue transmitir com fidelidade o impacto que é “se chegar em Veneza”) às 6:00 hs de uma manhã muito chuvosa, o que me fez pensar no fracasso da empreitada de 8:00 hs espremida na cabine de um trem italiano, de Munique, na Alemanha direto à Itália, numa noite cheia de percalços.
Saí da estação de Munique às 11:00 hs da noite, já cansada pelo dia inteiro de andanças na terra da Oktoberfest. Foi magnífico, andar sem eira nem beira por uma Munique cheia de atrações, muito tradicionalista e muito cosmopolita... mas estava exausta. Bem, Munique fica para outro post. A missão agora é tentar explicar “o que é se estar em Veneza”.

Viajei toda a noite numa cabine de um trem não muito confortável, e sempre quando achava que estava pronta prá dormir, vinha um maluco abrir a porta da cabine prá procurar lugar vago, ou o cara do ticket para ver a passagem, ou o pessoal da imigração na fronteira querendo ver Passaporte, e tinha um bêbado que não deixava ninguém no vagão dormir. Foi um caos a noite toda. Tentando novamente dormir, com frio, percebi que estávamos atravessando as montanhas, provavelmente os Alpes italianos. Não dormi mais, precisava ver o que se passava pela janela, pena a máquina fotográfica estar na mala, sob a cama, estava muito sonolenta para pegá-la. Daí quando estava quase amanhecendo, um susto. O trem iria se separar do vagão em que dormíamos para seguir para Verona, e isso em minutos. Céus!! Precisava atravessar dezenas de vagões para não desviar do destino!!!Não queria ir para a cidade de Romeu e Julieta! Queria Veneza! Foi um arrumar de mala, vestir roupa, calçar meia, sapato, corrida por entre passageiros e minutos desesperadores! Mas quem entende italiano prá decifrar a mensagem que por certo correu o trem à noite...?? No fim deu tudo certo, cheguei ao vagão certo toda descabelada, arrastando mala, sem lavar o rosto, sem tomar café, com a adrenalina à mil, mas aliviada.
Prá qualquer um que tenha grana para cobrir freqüentemente um passeio à Europa, Veneza é só mais um lugar do roteiro. Prá mim, simples mortal assalariada, que parcelou a passagem em 10 x, levou 2 malas de roupa velha, R$ 800,00 no bolso prá 20 dias de Europa, dar de cara com a ponte Rialto, principal acesso à Veneza para quem chega de trem, foi uma visão do paraíso, de alguém que encontra o nirvana, o prazer absoluto, uma lembrança que me enche os olhos de lágrima ainda hoje, 10 anos depois. Impacto sem igual. Nem sei como cheguei na Rialto, saltei do trem “daquele jeito meio hippie” mas já em estado de graça, apesar do tempo pesadíssimo e prestes a cair um temporal, acho que fui andando em nuvens. Só parei na estação para fazer o câmbio (trocar Marko por Lira), e ir ao banheiro para me “recuperar” da viagem. Coloquei a mochila nas costas com o essencial para aquele dia e tudo o mais desapareceu: turistas, trens, nuvens pesadas, “só” tinha tudo aquilo pela frente, a eterna Veneza!!! Viajante de “1ª vez em Veneza” não sabe que, logo que se sai do trem, já se tem o pé, os olhos e o coração naquela maravilha toda, ninguém te avisa, te prepara o espírito. É na veia mesmo e com Nitroglicerina pura. Nenhum cartaz com os dizeres “Desembarque e deslumbre-se no choque!” Se o coração agüentar, você é duplamente vencedor. Deu prá sentir o baque??
Parei, respirei fundo, me belisquei para “deixar a moeda cair”, sem saber por onde começar a me deslumbrar primeiro. Deu vontade de dar um grito, desses de comercial psicodélico. Eu estava ali, sonhando um sonho de menina, assistindo o ir e vir frenético dos vaporetos em águas muito verdes do Mar Adriático, e pontes, muitas pontes, palacetes, hotéis maravilhosos, charmosas pizzarias ao largo do Grande Canal, gôndolas com condutores em suas indefectíveis camisetas listradas, estreitas ruas perdidas em labirintos, fabriquetas de cristal de Murano, lojas repletas de máscaras para o famoso Carnaval, e história... Quase podia ouvir os doces acordes do violino de Vivaldi, soando por aquelas infinitas ruelas impregnadas de beleza e mansidão. Ele deve ter sido muito feliz morando por aqui, pensava eu. Arrulhos e revoadas de pombos quebravam o silêncio da paz que eu estava sentindo. Estava feliz como nunca fui até então. A sensação do sonho realizado é boa demais, e o meu, pelo visto, era um sonho em grande estilo.Se algum turista fotografou o ponto onde eu estava, por certo saí na foto dele com a boca aberta, com cara de boba-alegre...
A chuva finalmente caiu, pesada com seus prometidos raios e trovões, desesperando turistas e vendedores em suas barracas de lembranças. Eu, que adoro chuva, cheguei ao êxtase. Me abriguei numa lanchonete, pedi uma fatia de pizza, uma água mineral sentei numa mesinha e fiquei ali, calmamente, observando cada detalhe daquela cidade, me convencendo de que não se tratava de nenhum sonho, de que eu estava realmente em Veneza, em uma de suas lanchonetes, saboreando a vista, uma pizza e a chuva caindo sem dó sobre as calçadas daquele lugar ímpar. Tudo absolutamente perfeito!
Quando finalmente a chuva cessou, o sol voltou tímido, aproveitei para andar e andar, agradecendo aos céus por todo aquele presente. Atravessei todas as pontes, conheci a Piazza de San Marco com sua magnífica catedral e seus milhares de pombos, ladeei o "Gran Canal" e seu grande movimento de barcos e vaporetos, visitei uma loja de cristais onde vi lindas peças sendo fabricadas na hora. Passei pela Ponte dos Suspiros e ela ainda é tão linda e intrigante que os suspiros agora são de quem a vê de fora, não mais dos prisioneiros que outrora por ela passavam e suspiravam na sua última visão da cidade. Os mesmos suspiros que eu dou quando a saudade daquele dia me aperta o coração.

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