quarta-feira, 21 de abril de 2010

Veneza, prá sempre no meu coração!


Cheguei à Veneza (essa frase infelizmente não consegue transmitir com fidelidade o impacto que é “se chegar em Veneza”) às 6:00 hs de uma manhã muito chuvosa, o que me fez pensar no fracasso da empreitada de 8:00 hs espremida na cabine de um trem italiano, de Munique, na Alemanha direto à Itália, numa noite cheia de percalços.
Saí da estação de Munique às 11:00 hs da noite, já cansada pelo dia inteiro de andanças na terra da Oktoberfest. Foi magnífico, andar sem eira nem beira por uma Munique cheia de atrações, muito tradicionalista e muito cosmopolita... mas estava exausta. Bem, Munique fica para outro post. A missão agora é tentar explicar “o que é se estar em Veneza”.

Viajei toda a noite numa cabine de um trem não muito confortável, e sempre quando achava que estava pronta prá dormir, vinha um maluco abrir a porta da cabine prá procurar lugar vago, ou o cara do ticket para ver a passagem, ou o pessoal da imigração na fronteira querendo ver Passaporte, e tinha um bêbado que não deixava ninguém no vagão dormir. Foi um caos a noite toda. Tentando novamente dormir, com frio, percebi que estávamos atravessando as montanhas, provavelmente os Alpes italianos. Não dormi mais, precisava ver o que se passava pela janela, pena a máquina fotográfica estar na mala, sob a cama, estava muito sonolenta para pegá-la. Daí quando estava quase amanhecendo, um susto. O trem iria se separar do vagão em que dormíamos para seguir para Verona, e isso em minutos. Céus!! Precisava atravessar dezenas de vagões para não desviar do destino!!!Não queria ir para a cidade de Romeu e Julieta! Queria Veneza! Foi um arrumar de mala, vestir roupa, calçar meia, sapato, corrida por entre passageiros e minutos desesperadores! Mas quem entende italiano prá decifrar a mensagem que por certo correu o trem à noite...?? No fim deu tudo certo, cheguei ao vagão certo toda descabelada, arrastando mala, sem lavar o rosto, sem tomar café, com a adrenalina à mil, mas aliviada.
Prá qualquer um que tenha grana para cobrir freqüentemente um passeio à Europa, Veneza é só mais um lugar do roteiro. Prá mim, simples mortal assalariada, que parcelou a passagem em 10 x, levou 2 malas de roupa velha, R$ 800,00 no bolso prá 20 dias de Europa, dar de cara com a ponte Rialto, principal acesso à Veneza para quem chega de trem, foi uma visão do paraíso, de alguém que encontra o nirvana, o prazer absoluto, uma lembrança que me enche os olhos de lágrima ainda hoje, 10 anos depois. Impacto sem igual. Nem sei como cheguei na Rialto, saltei do trem “daquele jeito meio hippie” mas já em estado de graça, apesar do tempo pesadíssimo e prestes a cair um temporal, acho que fui andando em nuvens. Só parei na estação para fazer o câmbio (trocar Marko por Lira), e ir ao banheiro para me “recuperar” da viagem. Coloquei a mochila nas costas com o essencial para aquele dia e tudo o mais desapareceu: turistas, trens, nuvens pesadas, “só” tinha tudo aquilo pela frente, a eterna Veneza!!! Viajante de “1ª vez em Veneza” não sabe que, logo que se sai do trem, já se tem o pé, os olhos e o coração naquela maravilha toda, ninguém te avisa, te prepara o espírito. É na veia mesmo e com Nitroglicerina pura. Nenhum cartaz com os dizeres “Desembarque e deslumbre-se no choque!” Se o coração agüentar, você é duplamente vencedor. Deu prá sentir o baque??
Parei, respirei fundo, me belisquei para “deixar a moeda cair”, sem saber por onde começar a me deslumbrar primeiro. Deu vontade de dar um grito, desses de comercial psicodélico. Eu estava ali, sonhando um sonho de menina, assistindo o ir e vir frenético dos vaporetos em águas muito verdes do Mar Adriático, e pontes, muitas pontes, palacetes, hotéis maravilhosos, charmosas pizzarias ao largo do Grande Canal, gôndolas com condutores em suas indefectíveis camisetas listradas, estreitas ruas perdidas em labirintos, fabriquetas de cristal de Murano, lojas repletas de máscaras para o famoso Carnaval, e história... Quase podia ouvir os doces acordes do violino de Vivaldi, soando por aquelas infinitas ruelas impregnadas de beleza e mansidão. Ele deve ter sido muito feliz morando por aqui, pensava eu. Arrulhos e revoadas de pombos quebravam o silêncio da paz que eu estava sentindo. Estava feliz como nunca fui até então. A sensação do sonho realizado é boa demais, e o meu, pelo visto, era um sonho em grande estilo.Se algum turista fotografou o ponto onde eu estava, por certo saí na foto dele com a boca aberta, com cara de boba-alegre...
A chuva finalmente caiu, pesada com seus prometidos raios e trovões, desesperando turistas e vendedores em suas barracas de lembranças. Eu, que adoro chuva, cheguei ao êxtase. Me abriguei numa lanchonete, pedi uma fatia de pizza, uma água mineral sentei numa mesinha e fiquei ali, calmamente, observando cada detalhe daquela cidade, me convencendo de que não se tratava de nenhum sonho, de que eu estava realmente em Veneza, em uma de suas lanchonetes, saboreando a vista, uma pizza e a chuva caindo sem dó sobre as calçadas daquele lugar ímpar. Tudo absolutamente perfeito!
Quando finalmente a chuva cessou, o sol voltou tímido, aproveitei para andar e andar, agradecendo aos céus por todo aquele presente. Atravessei todas as pontes, conheci a Piazza de San Marco com sua magnífica catedral e seus milhares de pombos, ladeei o "Gran Canal" e seu grande movimento de barcos e vaporetos, visitei uma loja de cristais onde vi lindas peças sendo fabricadas na hora. Passei pela Ponte dos Suspiros e ela ainda é tão linda e intrigante que os suspiros agora são de quem a vê de fora, não mais dos prisioneiros que outrora por ela passavam e suspiravam na sua última visão da cidade. Os mesmos suspiros que eu dou quando a saudade daquele dia me aperta o coração.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Conselho não se dá, mas esse aí é 10 !!!!



Viver

Acho a maior graça.
Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal para minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem; você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto da vida sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada.

Luis Fernando Veríssimo
Boa Semana!

domingo, 11 de abril de 2010

Meu amor pela poesia de Neruda


(casa de Neruda em Isla Negra-Chile)
Amo Pablo Neruda. Há muitos anos, quando li seu primeiro verso, me entreguei.
Tudo o que escreveu me toca, me transporta para perto do mar, para dias frios envoltos em neblina da bruma marinha e ao cheiro de sal . A visão do mar de Isla Negra com seus casebres de telhado molhado e redes de pesca penduradas pela janela, se forma em minha mente e o vejo, em passos lentos, talvez com o coração a sangrar, caminhando sobre a escura areia daquela ilha esquecida da costa do Chile, onde o mar cinzento e triste, traz lentamente algas e gaivotas à praia. Longe, consigo ver os barcos dos pescadores sacolejando ao sabor das ondas, amarrados no pier fustigado pelos ventos. Neruda amava aquela ilha. Era seu refúgio, onde se encontrava e se perdia, tomado pelas grandes paixões de sua vida: poesia e solidão. Quem assistiu ao filme "O Carteiro e o Poeta" sabe do que estou falando. Foi, de longe, o filme mais lindo que já vi. Pablo Neruda desperta meu lado melancólico, mas nem por isso menos importante para a formação do meu equilíbrio. É a mistura do mar e o amor na medida exata.

"Não te quero a não ser porque te quero
e de te querer a não te querer chego
e de te esperar quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Só te quero porque é a ti quem quero,
sem fim te odeio, e com ódio te peço,
e a medida do amor meu, viajeiro,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consuma a luz de janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
de mim roubando a chave do sossego.

Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo." (Cien sonetos de amor)

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"Pensei em morrer, senti de perto o frio,
e de quanto vivi só a ti eu deixava:
tua boca era o meu dia e minha noite terrestres
e tua pele a república fundada por teus beijos.

Nesse instante se terminaram os livros,
a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,
a casa tranparente que tu e eu construímos:
tudo deixou de ser, menos os teus olhos.

Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,
é simplesmente uma onda alta sobre as ondas
mas ai quando a morte nos vem tocar a porta.

só existe teu olhar para tanto vazio,
só a tua claridade para não seguir sendo,
somente o teu amor para encerrar a sombra."(Cien sonetos de amor)
das palavras que não falam simplesmente, que dizem.


O carteiro Mário Ruppolo (Massimo Troisi) com poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) falando de metáforas diante do mar no filme "O carteiro e o poeta".

terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha "Ôma"- 12 - fim


Hoje, a velha casa não existe mais. A falta do espírito preservador dos meus primos a desmontou e transformou em casa de defumar bacon!!!.... Minha tia e ôma também já nos deixaram. No lugar da casa, hoje está uma casa de madeira sem pintura, cheia de crianças loiras, primos distantes que provavelmente ainda brincam nos pastos onde outrora brincava de “revoar sobre as colinas”, embora acredite, o riacho não tenha mais a mesma pureza. A propriedade continua a mesma, estive por lá há alguns anos, mas a luz elétrica chegou. Provavelmente existam geladeiras, TVs, freezers para preservar as carnes do gado e aves abatidos bem como todos os confortos que o progresso traz. Mas, bem sei que, o que o progresso traz em conforto, leva em magia e inocência.

Oxalá um dia volte a rever o sítio dos Bublitz, e leve minha filha prá correr e “revoar” livremente naquelas colinas, descalça, naqueles pastos sem fim, para subir em árvores, correr atrás dos patos e galinhas, tomar banho no riacho, comer tangerinas até se fartar, envolvida no verde que ainda toma conta do lugar. E se fizer alguma travessura, sei que meu tio Rainold, de onde estiver, vai se lembrar de mim e dar boas gargalhadas.

A casa da minha "Ôma" - 11 - Páscoa


Não lembro de ter passado algum Natal por lá, mas as Páscoas daquele tempo merecem um capítulo especial.
Meses antes, minha querida tia Laura, que era deficiente vocal, confirmava com a minha mãe, do jeito dela, sobre o dia em que chegaríamos para a Páscoa. Elas eram irmãs gêmeas e se entendiam bem. Era o que bastava para ela começar a recolher ovos de ganso para colocar nos ninhos prá mim. Eram ovos grandões, lindos, que ela esvaziava, provavelmente para alguma omelete. Com todo o cuidado, fazia um furinho na extremidade, lavava e secava, depois pintava com tinta extraída de papel crepom colorido. Aí, colocava minúsculas balinhas coloridas ou amendoim açucarado como recheio, fechava com papel de seda e ficava nos esperando, impaciente. Minha mãe aproveitava e levava alguns chocolates no formato de coelho, tudo muito bem escondido de mim, afinal, a festa do coelho era coisa para criança curtir na fantasia mesmo.
Na véspera da Páscoa chegávamos à Raphael. Meu tio Ingo sempre vinha nos encontrar no outro lado do rio, onde tínhamos que atravessar sobre um tronco de árvore, achatado de propósito, para as pessoas andarem sobre ele. Eu morria de medo pois o rio tinha as águas geladas, muitas pedras e a água corria velozmente sob nossos pés, mas, meu tio sempre me levava no colo até a outra margem. Minha mãe vinha logo em seguida. Atravessávamos um caminho por entre um milharal, subíamos uma suave ladeira por entre muitas árvores bem ao lado da casa da ôma e lá estava ela: tia Laura, varrendo o quintal de chão batido, não deixando uma folhinha, um cisco sequer no chão que no fim, mais parecia um piso de assoalho encerado, de tão limpo. Ela sentia um prazer especial naquilo, o fazia como ritual. Penso que era para celebrar a alegria do nosso reencontro, a festa da Páscoa, o espírito da inocência. Assim que nos avistava, largava tudo, secava as mãos no avental e saía correndo ao nosso encontro para ajudar-nos com as bolsas e sacolas, na maior alegria.
Depois dos abraços, adentrávamos a casa, fresquinha de brisa, com o som do tique-taque do relógio, o fogão à lenha fumegante, com sua panela de ferro cheinha de frango borbulhando no molho, e mais batatas doces e arroz. Almoçávamos e como sempre, tinha o papo dos adultos para pôr em dia. Eu deitava num tapete de pele de carneiro, no chão ao lado delas e pegava no sono ali mesmo, embalada pelo mesmo tique-taque daquele relógio antigão, do ranger das dobradiças das janelas e pelas conversas intermináveis. Acordava com minha mãe passando pano no chão, fazendo a limpeza para a Páscoa. À tarde, minha tia Laura arrumava a palha para os ninhos onde o “coelho” poria os ovos e chocolates. Tudo era festa e magia, inteiramente patrocinada pela tia Laura.
Na manhã da Páscoa eu percebia que ela ficava de longe, prá lá e prá cá, só esperando que eu acordasse, mais ansiosa que eu. Como era um tempo bem frio, eu gostava de ficar mais tempo sob aquela coberta de penas gostosa. Mas, ante a ansiedade dela, levantava, sem entender direito o que estava acontecendo. Era quando eu vislumbrava ninhos e mais ninhos de palha pela casa toda e pelo quintal limpo, repletos de ovos coloridos e chocolates. Era a visão do paraíso! Era uma felicidade só!! Minha e da minha tia, me vendo feliz. O coelho não havia se esquecido de mim!!! Ela era tão pura e inocente como uma criança, e a minha alegria era a dela. Esperava-me com uma cestinha na mão, feita de papelão e toda forrada de papel crepom para que eu colocasse os ovos nela o cada ninho encontrado. E eu fazia esse trabalho de pronto, afinal, procurar ninhos com ovos pela casa era uma diversão e tanto. Foram Páscoas inesquecíveis e felizes. Numa dessas ocasiões, ela colocou num dos ninhos, uma galinha de brinquedo, que soltava ovinhos de plástico branco quando a apertávamos. Foi o êxtase!!! Nunca vou esquecer disso. Os únicos brinquedos que eu tinha na vida até ali eram duas bonecas velhas, e receber aquela galinha amarela soltando ovos foi o máximo!!!Era essa...

A casa da minha "Ôma" - 10 - Travessuras


Lembro da minha maior travessura daqueles tempos. A vítima, novamente, foi meu tio Rainold, ou melhor, no final fui eu...
Meu tio cuidava com esmero especial de uma parreira de uvas no seu quintal. Era uma parreira espetacular, com lindos cachos de uvas verdes pendurados, quase uma pintura, um quadro de natureza-morta. Um dia, não sei por que cargas d´água, eu e minha amiga Magrit Braatz resolvemos cortar todos os cachos de uvas dessa parreira, e, escondidas na roça da ôma, ficamos comendo as uvas verdes, bem longe de todos. O detalhe é que as uvas ainda estavam muito verdes, mas comemos alguns cachos mesmo assim. O resto jogamos fora, pois era muita coisa para comer e estavam muito azedas. Quando voltamos, a confusão já estava armada no sítio. Meu tio colerizado, minha mãe e a ôma tentando acalmá-lo, e todos tentando descobrir o malfeitor, o mentor dessa façanha. Minha mãe me interpelou e eu neguei veementemente, por medo. Ela também achou que não tinha sido eu, pois nunca fora de mentir nem de fazer tamanha travessura. Então, estava acima de qualquer suspeita. Mas eis que a noite chegou, com suas estrelas, grilos e vaga-lumes. E eu, muito enjoada, nauseada. Ninguém entendia esse mal-estar (devia ser a consciência pesada). Foi quando minha ôma me colocou na cama e eu não agüentando mais, vomitei. E lá estavam as uvas do meu tio, verdinhas, quase inteiras, no chão do quarto, no meio do vômito. Morri de vergonha perante minha mãe e minha ôma. Tive que confessar à elas o delito e pedir perdão ao meu tio. Ele ficou de mal comigo um tempo, mas depois ele teve que passar outro sufoco comigo. Coitado... Foi no dia em que a máquina de cortar trato virou sobre mim. Todos estavam naquela conversa de fim de tarde de sempre, jantando, mas eu, afoita por ajudar meu tio que não estava no estábulo, fui cortar o trato sozinha para fazer uma surpresa à ele quando chegasse. Não deu outra, no entusiasmo de virar aquela roda imensa, veio tudo por cima de mim. A máquina era grande, mas por sorte, era mecânica, movida manualmente. Foi aquela gritaria, minha e de todo mundo. Mais uma travessura homérica.
Teve o dia em que eu e, novamente minha amiga Magrit, resolvemos capturar todos os sapos do mundo num saco (prá que isso??). Por todos os lados havia sapos-boi dormindo em algum canto. Nos estábulos, sob a casa, entre folhagens, troncos ocos, no pasto, no rancho. Acho que capturamos uns 30 sapos no saco, naquele dia. Consigo sentir hoje, a euforia de pegar cada sapo, era uma gritaria só, mas...muito divertido!!... E como não estávamos satisfeitas apenas em capturá-los, resolvemos soltá-los todos no meio da parentada reunida. Era gente pulando prá todo lado e nós, certamente, levamos aquela “sapecada” de nossas mães. Depois dessa, sosseguei, para alívio do meu tio e de todos.

A casa da minha "Ôma" - 9 - colheitas


Muito se trabalhava nessas terras. O tamanho delas denotava o trabalho que davam. Minha ôma capinava horta, juntava e carregava nas costas fardos e mais fardos de trato para as duas vaquinhas dela, bem longe da casa, na roça. Costumava acompanhá-la por esses caminhos até a roça, era uma picada estreita, ladeada de capim e florzinhas lilases e que ao final tinha uma imensa goiabeira onde gostava de subir e olhar o trabalho da ôma, a cortar mato e formar fardos. Ela costumava fazer um fardo pequeno prá eu carregar, como ela. Sentia-me útil e importante assim. Meus tios tinham muito mais gado prá cuidar, umas oito cabeças de gado e alguns cavalos e grandes plantações às quais eram aradas a cada semeadura, e colhidas em grandes mutirões. Muitas vezes, por diversão infantil, ajudava nessas colheitas. O que mais gostava era de fazer parar os cavalos no meio do serviço de arado. Era só gritar “ÔP!!” que eles paravam automaticamente, era o êxtase!! Meu tio Rainold é que ficava uma fera comigo, pois atrapalhava o andamento dos trabalhos. Aí, lá pelas 9:00 hs da manhã comíamos o Früeschtück (lanche), sob a sombra de pés de tangerina ou das pereiras, em silêncio, admirando toda aquela beleza de terras, agradecendo à Deus pela fartura com simplicidade que abundava naquele lugar.

A casa da minha "Ôma" - 8 - + brincadeiras



Mais Brincadeiras

Adorava correr nos pastos que rodeavam a propriedade toda, eram terras à perder de vista, colinas sem fim, serras e montanhas, todas terras do meu ôpa Bublitz. Hoje devem estar passando de geração em geração e divididas em milhares de pedaços. Havia muitos pés de tangerinas nesses pastos, e eu, vencendo o medo que tinha (ainda tenho)
dos touros que andavam soltos, pulava as certas e colhia todas as tangerinas que podia. Eram tantas que nem dava trabalho de colher, pendiam no pé com o peso dos cachos.
Gostava muito também de ficar vendo o preparo dos doces de frutas, no galpão em frente à casa. Geralmente eram de tangerina ou laranja, que abundavam no sítio. Eram colhidas as frutas, descascadas, tiradas as sementes e as pelinhas e jogadas num tacho de cobre imenso, misturadas com garapa. A extração da garapa também era feita ali. Pesadas rodas e engrenagens no meio do galpão eram giradas, impulsionadas por duas rezes ou dois cavalos, que andavam em círculo o tempo todo, atados à estribos, para moer a cana que meus tios colocavam entre as rodas. Então, atraídas pelo aroma doce que enchia o ar, apareciam as temidas abelhas. Ah, quanto ferrão levei. O galpão ficava apinhado delas nessa época, todas doidas pelos doces. E só nos picavam se tentássemos nos livrar delas, enxotando ou batendo nelas.
Daí alguém, sempre revesando, ficava mexendo com uma colher de cobre com cabo muito comprido, por dias à fio, até a fruta virar doce. Nem à noite o processo acabava.
Depois, era só saborear com queijo branco e pão de milho, huuummmm...
Era óbvio que levávamos algumas latas para Blumenau, quando íamos embora. Aliás, minha ôma sempre nos enchia de coisas do sítio: voltávamos pra casa com sacolas e mais sacolas pesadas cheias de: ovos embalados um a um em folha seca de milho, doces, queijo, manteiga, frutas, pão de milho, nata, e às vezes até galinhas! Era muito bom, pois a sensação de se estar na casa da ôma permanecia por dias e dias e assim, não sentíamos tantas saudades.

A casa da minha "Ôma" - 7 - delícias de leite


Minha ôma tinha duas vacas no seu pequeno estábulo: a Rose e a Bonita. Rose era uma holandesa marrom clara, e a Bonita era mesclada de branco e preto, acho que também era holandesa. Muito dóceis as duas, davam muitos litros de leite, de manhã e à noite. Minha ôma as ordenhava pacientemente, e fazia muitos produtos com esse leite: coalhada, nata, queijo branco (ricota), queijo colonial (amarelo e consistente, o nosso queijo-prato, mas sem aditivos), koch-keese (queijo frito, delicioso), e o leite em si, que era usado para fazer manteiga, pudins, bolos, pães-doces e um monte de coisa boa. Coisa que gostava muito de comer eram as “sopas de frutas” que minha ôma fazia. Eram de carambola, ameixas, nêsperas, as frutas da época cozidas com açúcar cristal e pau de canela ou cravo, e acompanhadas de pudim caseiro, feito com leite fresco, muuuito bom!!!
Na cozinha, como não podia deixar de ser, tinha um fogão à lenha, feito pelo meu “ôpa”, onde sobre sua chapa de ferro saíam maravilhosos almoços, feitos em panela de ferro. Lembro que a panela de ferro da ôma tinha 3 pezinhos, nunca mais vistos em panelas de ferro atuais.

A casa da minha Ôma - 6 - visitações



Costumávamos jantar nessas visitas que fazíamos aos tios. Grossas fatias de pão de milho com muita nata e queijo branco recém amassado e melaço, hummmm, eu adorava. Detestava, na época, pão com salgado. Minha mãe comia com lingüiça feita ali no sítio, fresquinha, cheirosa e com muito alho, e queijo colonial. Sempre tinha aipim frito com bacon defumado no fogão à lenha, galinha ensopada que era sobra do almoço; tudo criado ou feito por eles. As únicas coisas que eram compradas: o açúcar (cristal), a farinha de trigo e o café. Tudo o que ia à mesa, era produzido ali: verduras, legumes, grãos, carne, frango, ovos, bacon, leite, queijos, frutas, doces, pães, etc. Tudo deliciosamente diferente, carne sem hormônio e verduras e legumes sem gosto de agrotóxico.
Depois íamos para a varanda, sentávamos em bancos de madeira, meu tio numa cadeira de balanço, e as estórias rolavam noite adentro. Eu, claro, não queria saber de conversa, ficava 5 minutos ouvindo o papo dos adultos e já queria brincar com meus primos Ingo e Arnoldo e minha prima Erna. Eles tinham alguns pássaros nas gaiolas e deixavam-me alimentá-los. Contávamos nossas histórias de crianças, eles querendo saber como eram as coisas na cidade, eu querendo saber como faríamos para tomar banho no riacho no dia seguinte, e por aí ia a conversa, até o sono nos vencer. Tempos impagáveis esses....

A casa da minha Ôma -5 - A Simplicidade da vida no Campo



O Campo e sua simplicidade

A simplicidade do campo se reflete em inocência, na valorização das pequenas coisas, em beleza. E a casa de minha ôma, com seu sítio em volta, tinha tudo a ver com isso.
Não havia ainda a energia elétrica, ela ainda não havia chegado até aqueles cantos, e esse detalhe fazia toda a diferença. Fazíamos a refeição noturna à luz de lampião, eu e minha mãe de um lado da mesa, minha ôma e minha tia Laura do outro, e essa penumbra, somada às conversas intermináveis delas me faziam ficar com sono. Daí minha ôma me levava prá cama mais fofa do mundo, nos fundos daquela casa aconchegante, com o lampião nas mãos. Era mágico o efeito daquela luz tênue abrindo espaço pelas paredes daquela sala imensa mergulhada na escuridão. Eu brincava com as sombras, com os ecos dos nossos passos, ouvindo os grilos fazendo festa nos laranjais. Minha ôma me colocava na cama, me fazia rezar o pai-nosso em alemão (na época eu sabia...), me cobria com uma coberta de penas, e voltava prá conversa ao pé da mesa com minha mãe. A mesma luz que há pouco encheu a sala de sombras e fantasia, voltava a desaparecer, passo por passo, lentamente, pelas paredes, atrás das costas encurvadas e cansadas de minha ôma. E eu adormecia, embalada pelas vozes distantes das três e pelo vento uivando ao redor das paredes.
Esse mesmo lampião amigo nos acompanhava muitas vezes pelo caminho na escuridão da noite, que ia dar na casa de meus tios, logo em frente. Eu adorava ir visitá-los, tateando pelo caminho ante a falta de luz, extasiada pela visão de tantos vaga-lumes. A luz produzida pelo lampião era muito pouca. E por isso dava prá ver o céu mais estrelado que já vira na vida, principalmente no inverno, quando o frio deixava o ar mais límpido ainda. Os cachorros vinham nos saudar, depois de ladrarem um pouco, ante a visão de quatro vultos se aproximando no breu das noites sem lua. Lembro apenas dos nomes: Mópi e Rex.
E a noite transcorria entre conversas “à pôr em dia” com meus tios e as minhas brincadeiras nos estábulos, onde meu tio dava comida ao gado. Adorava os bezerros, ficava afagando-lhes o crânio forte e peludo. Às vezes, ajudava meu tio à cortar o capim, na máquina corta-trato, ou debulhar milho, também numa maquininha de ferro. Nunca entendi como aquilo debulhava tão bem. O milho era para dar às galinhas, espetáculo que eu não perdia por nada, nos fins de tarde ou início de noite. Meu tio tinha um chamado próprio para as bichinhas, e o pátio antes vazio, se enchia com revoadas de galinhas, galos, frangos, pintos, patos, marrecos, gansos, todos afoitos pelo jantar recém debulhado. Era muito divertido.

A casa da minha "Ôma" -4- A viagem até lá




Íamos lá muitas vezes, eu e minha mãe, principalmente nas minhas férias escolares. Era só expectativa quando minha mãe acertava os detalhes da viagem. Pegávamos o “Expresso Presidente”, em Blumenau, e, em mais ou menos uma hora e meia, chegávamos a Ibirama. De lá, aguardávamos na praça central por uma condução (Kombi) do Sr. Willy Braatz (que hoje é dono de uma frota de ônibus em Ibirama) ou um carro-de-molas que fosse buscar o leite dos criadores de gado de Raphael e nos levasse até o sítio da ôma. Preferia os carros-de-mola, mais confortáveis e lentos, com seus cavalos sonolentos, pois era uma viagem extasiante! Ao som do ploc-ploc do casco do cavalo, passávamos lentamente por aquelas estradinhas de terra, típicas de interior, ladeadas por árvores colossais e por lindas propriedades, todas com seus intermináveis pastos, onde o gado ruminava calmamente o produto de seu almoço. Também fomos muitas vezes de trem, no belo tempo em que Blumenau e Rio do Sul eram ligados por ferrovia. Meus irmãos, músicos que eram, levavam seus instrumentos “à bordo” e várias dessas viagens foram feitas ao som de lindas melodias alemãs tocadas pelo violino e acordeon deles. Os demais passageiros ficavam extasiados com tão agradável viagem e nós, descíamos cheios de ansiedade na estação de Subida, meus pais pegavam as bicicletas no trem e lá ia a feliz família, pedalando na direção da casa da Oma. Eu ia com minha mãe naquela cadeirinha de criança e meu pai levava meus irmãos. Chegavam exaustos de tanto pedalar mas naquele tempo fazia-se qualquer sacrifício para se estar perto dos que amávamos. As visitas à casa de parentes era muito comum.
O cheiro fresco de mato cortado, de eucaliptos ao vento, das singelas flores do campo, o barulho, ao longe, de alguma máquina cortando “trato”, carros-de-boi rangendo ao longo dos caminhos, crianças correndo pelas colinas, os dias ensolarados, riachos cristalinos, tudo fazia com que me apaixonasse para sempre pelo campo. E tinha as ovelhas, os defumadores de bacon e toucinho, lindos cavalos, pássaros diferentes dos pardais da cidade, plantações à perder de vista, cercas toscas de arame farpado, como o da casa da minha ôma e a porteira frágil, que qualquer criança poderia abrir, enfim, toda essa paisagem e elementos me enfeitiçavam, a tal ponto que era uma choradeira e tanto, no dia de voltar à Blumenau. Levava dias prá me readaptar à cidade, mas sabia que logo, logo, iríamos voltar lá e rever tudo aquilo que tanto me enriquecia a alma.

A casa da minha Ôma 3 - Brincadeiras de criancinha


Lembro que o terreno e a casa eram cercados por uma cerca velha, feita de troncos que, pela idade, estavam um tanto podres e cobertos de musgo seco e arame farpado, tão frágil que qualquer animal poderia derrubar se quisesse, mas a harmonia que reinava por ali, entre seres e pessoas, entre o verde da grama e o azul do céu, fazia tudo parecer intocado, imaculado, como tudo na minha lembrança quando penso nessa casa.
Imenso pé de ameixas dava as boas vindas, além da minha ôma e a tia Laura, sempre nos esperando com infinita felicidade.
Havia uma varanda imensa do lado da casa que dava para um laranjal. Lembro que em criança, brincava lá sozinha por tardes inteiras, com potes vazios de fermento de bolo, que faziam as vezes de panelinhas, com o doce aroma de flor de laranjeira no ar, e me deixava levar pela imaginação, tão aflorada que é nessa fase da vida.

A Casa da minha Ôma 2 - BODAS DE OURO

Oma Hulda e Opa Johann Bublitz

Lembro sempre meu irmão a contar sobre as Bodas de Ouro dos meus avós, que durou 5 intermináveis dias e noites. Pena que na ocasião eu ainda não era nascida para poder aproveitar tal deleite(foi na década de 50, meus irmãos eram pequenos). Meu ôpa matou, para a ocasião, um boi, alguns porcos, muitas galinhas e patos. Comprou um saco de 20 kg de farinha de trigo para que minha ôma fizesse toda a parte da confeitarias. Todos os filhos e noras, filhas e genros foram convocados para ajudar nos preparativos.
Minha mãe e tias, na cozinha, entre intermináveis conversas ao pé do fogão à lenha, faziam as conservas de legumes, os doces de frutas, os bolos e as cucas de fruta com farofa. Descascavam as batatas, cozinhavam o arroz, assavam os patos e galinhas no velho forno. Meu pai e os demais homens da família eram responsáveis pelo abate dos animais e pelos assados de brasa, pelas bebidas e pela recepção dos convidados. Toda a redondeza fora convidada e essa inesquecível festa foi marcada com muita emoção, pela surpresa feita ao meu ôpa, pelos seus alunos da escola de música. Na última noite da festa, para fechar com chave de ouro, todos eles apareceram, descendo lentamente a colina de pasto, tocando “A negra cigana”, arrancando suspiros e lágrimas de todos os presentes, especialmente do meu ôpa. Deve ter sido mesmo emocionante.
Meu ôpa nos deixou em 1962, pouco antes do meu nascimento. Só ficaram morando na casa, minha ôma e minha tia Laura.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Casa da minha "ÔMA" 1 - A casa

Minha ôma, minha mãe e eu (na janela)
A primeira lembrança que me vem à mente quando falo de minha vó (Ôma, para os alemães), é de sua velha e acolhedora casa de enxaimel, encravada num vale muito verde, no interior de “Raphael”, comarca de Ibirama/SC, com a chaminé sempre fumegante e as janelas de madeira com suas cortinas fininhas tremulando ao vento.
Consigo materializar a imagem dela sentada na pequena escada da entrada, com uma gamela cheia de batatas cozidas frias, e sua inseparável faquinha cortando fatias e mais fatias que ela comia agradecendo aos céus por aquele prazer.
Era uma casa de amplos cômodos, disposta ao sabor de todas as brisas daqueles verdes campos interioranos. Ouvia-se, nas tardes preguiçosas, quando era chegado o tempo de descascar toneladas de tangerinas para fazer-se doce, o ranger das dobradiças das velhas janelas já seculares. Canto mágico este, impregnado de nostalgias. Naquele varandão ajudávamos nosso tio na deliciosa “tarefa” de descascar as frutas recém colhidas, empanturrando-nos mais do que alimentando os cestos de frutas descascadas. Era irresistível! Nessa varanda, gostava de ficar horas sozinha, sentada no chão de tábuas e recostada à parede, só ouvindo a paz daquele silêncio, quebrado apenas com o farfalhar da palha de milho que o vento invadia para brincar, terminando por pousar nas entranhas das laranjeiras em flor. A madeira do chão e dos corrimões talhados em forma de coração já estava toda enrugada, corroída por anos e anos de chuva, geada, vento e paz. Vez por outra via patos e galinhas andando calmamente entre os laranjais e desejava ter sido um deles para nunca mais sair dali, nunca mais ter que ir embora.
Na sala, minha “ôma” dispunha os quadros com fotografias dos antepassados. Casamentos, nascimentos, festas, os músicos da escola de meu “ôpa”, e o próprio, empunhando o velho bandoneon, instrumento que tocava com maestria nos bailes das domingueiras nas cercanias de “Raphael”. Adorava ficar olhando a história daquela casa, caprichosamente imortalizada naquelas lindas e antigas molduras.
Essa sala era na verdade um imenso salão, e até onde me recordo, era utilizado em todas as grandes festas dançantes de família: casamentos, reuniões, aniversários, o final da colheita de fumo ou simplesmente festas para comemorar a vida, a reunião dos filhos e netos no aconchego daquelas paredes de tijolinhos aparentes. Sempre havia danças e música tocada pelo meu “ôpa” em bailes que davam o que falar por muitas semanas, por toda a vizinhança do sítio. Festas inigualáveis, regadas a muita comida, bebida e música alemã.

domingo, 4 de abril de 2010

Aniversário de Bonecas


Essa é a versão2010



Essa foi criação da Laurinha.
Numa tarde calorenta e longínqua de 2009, Laura entediada,acho que com o calor carioca, começou a cortar bandeirolas com jornal. Aquilo deu uma sujeirada na quarto dela...!!! Mas quando perguntei o que ela queria com aquilo,falou que era para fazer uma festa para as bonecas dela. Eureka! Resolvi colaborar pois achei a idéia super criativa, uma idéia prá tirar qualquer menina do tédio! Fui na padaria, comprei um bolo seco pronto, cobri com merengue colorido (rosa) com anilina que sobrou dos biscoitos natalinos, peguei bisnaguinhas para mini cachorros-quentes, uma lata de leite condensado para fazer brigadeiro e tava pronta a festa! Laura deu banho nas bonecas, perfumou-as e maquiou-as(socorro!). E fez tanto sucesso que teve a versão 2010, com direito à convite para amiguinhas.

Dez coisas



Dez coisas que levei anos para aprender...


1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa. (esta é muito importante. Preste atenção. Nunca falha).

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, a palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

PÁSCOA 2010

Estamos pertinho da Páscoa 2010. Gosto particularmente desses festejos pois a infância novamente se aviva na minha memória e esse clima de outono é propício para se criar inúmeros trabalhinhos, ainda mais agora que as delícias da minha infância eu transfiro para minha Laurinha. Vejam a cestinha de Páscoa que criei prá ela esse ano.


No ano passado tirei uma tradição alemã do baú: a Árvore de Páscoa. Na Alemanha, como a Páscoa acontece no início da primavera, as árvores de Páscoa são feitas com galhos de cerejeira, quando já estão começando a brotar, criando folhinhas.O significado é claro: RENOVAÇÃO,RENASCIMENTO. Aí penduram-se ovos coloridos, florzinhas, fitas, prá que esse efeito de renovação seja realmente transbordante de vida. Linda tradição!

E a tradição das casquinhas de ovos pintadas? Trago isso desde a mais tenra idade, quando na manhã de Páscoa era acordada cedo para ver o que o coelhinho havia me trazido. Era frio, a manhã cheia de neblina. Pegava minha cestinha e batendo dentes, ainda de pijaminha, saía correndo pelo quintal atrás dos "ninhos do coelho" e eis que, maravilhada, encontrava dezenas deles escondidinhos na horta em meio aos repolhos, no pomar, sob as árvores, todos ainda com orvalho, repletos de coloridos ovinhos pintados e recheados de amendoim doce, e ovinhos de chocolate cobertos de papel alumínio colorido, coelhos da "Chocolate Saturno" (antiga fábrica de chocolates de Blumenau) espiando por sobre a palha do ninho...era uma visão fantástia!!! Digna dos mais belos sonhos de criança. Minha mãe tinha sempre o cuidado de caprichar nos ninhos. Fazia-os de palha de serragem, colocava florzinhas e escondia-os bem cedo, antes de eu acordar. Desde que Laurinha começou a entender um pouco mais das coisas, fiz os tais ninhos espalhados pelo apartamento, até patinha de coelho desenhei no chão com guache, deu uma trabalheira mas infelizmente, o efeito não foi o mesmo que comigo. Hoje existe a superexposição de produtos de Páscoa, as crianças escolhem o ovo que querem ganhar, não existe mais a surpresa, sem contar na facilidade que é para comprá-los, paga-se no cartão ou até em prestação. Como na minha época de criança tudo era mais difícil de se ter, o gosto de ganhar qualquer coisa, por mais simples que fosse era algo que ia ficar marcado por toda a vida. Tanto que aqui estou, do alto dos meus 4.8, lembrando de tudo como se fosse ontem. Como gosto do fator surpresa, na manhã da Páscoa quero surpreendê-la de uma forma diferente: como sei que ela adora comer numa mesa posta (engraçado isso numa criança...), vou fazer um lindo e caprichado CAFÉ DA MANHÃ DE PÁSCOA. A cestinha acima eu fiz escondida, vou colocar as guloseimas (ovo de chocolate, casquinhas de ovo com jujubas e "MM", ontem fiz uma toca do coelho (depois posto fotos) onde colocarei um coelho de chocolate e alguns ovinhos e ainda vou pintar um coelho de MDF onde vou colocar um ovão da Mônica, pretendo fazer bolo, pão de queijo, comprar suco de pêssego (adoro), fazer binaguinhas com requeijão, e claro, café com leite. A louça vou usar a de minha avó, toda floridinha e antiga, guardanapos coloridos, acho que a mesa vai ficar linda! Vamos ver se ela vai levar isso para suas lembranças...acho que vai!
Feliz Páscoa à todos!!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Veneza, prá sempre no meu coração!


Cheguei à Veneza (essa frase infelizmente não consegue transmitir com fidelidade o impacto que é “se chegar em Veneza”) às 6:00 hs de uma manhã muito chuvosa, o que me fez pensar no fracasso da empreitada de 8:00 hs espremida na cabine de um trem italiano, de Munique, na Alemanha direto à Itália, numa noite cheia de percalços.
Saí da estação de Munique às 11:00 hs da noite, já cansada pelo dia inteiro de andanças na terra da Oktoberfest. Foi magnífico, andar sem eira nem beira por uma Munique cheia de atrações, muito tradicionalista e muito cosmopolita... mas estava exausta. Bem, Munique fica para outro post. A missão agora é tentar explicar “o que é se estar em Veneza”.

Viajei toda a noite numa cabine de um trem não muito confortável, e sempre quando achava que estava pronta prá dormir, vinha um maluco abrir a porta da cabine prá procurar lugar vago, ou o cara do ticket para ver a passagem, ou o pessoal da imigração na fronteira querendo ver Passaporte, e tinha um bêbado que não deixava ninguém no vagão dormir. Foi um caos a noite toda. Tentando novamente dormir, com frio, percebi que estávamos atravessando as montanhas, provavelmente os Alpes italianos. Não dormi mais, precisava ver o que se passava pela janela, pena a máquina fotográfica estar na mala, sob a cama, estava muito sonolenta para pegá-la. Daí quando estava quase amanhecendo, um susto. O trem iria se separar do vagão em que dormíamos para seguir para Verona, e isso em minutos. Céus!! Precisava atravessar dezenas de vagões para não desviar do destino!!!Não queria ir para a cidade de Romeu e Julieta! Queria Veneza! Foi um arrumar de mala, vestir roupa, calçar meia, sapato, corrida por entre passageiros e minutos desesperadores! Mas quem entende italiano prá decifrar a mensagem que por certo correu o trem à noite...?? No fim deu tudo certo, cheguei ao vagão certo toda descabelada, arrastando mala, sem lavar o rosto, sem tomar café, com a adrenalina à mil, mas aliviada.
Prá qualquer um que tenha grana para cobrir freqüentemente um passeio à Europa, Veneza é só mais um lugar do roteiro. Prá mim, simples mortal assalariada, que parcelou a passagem em 10 x, levou 2 malas de roupa velha, R$ 800,00 no bolso prá 20 dias de Europa, dar de cara com a ponte Rialto, principal acesso à Veneza para quem chega de trem, foi uma visão do paraíso, de alguém que encontra o nirvana, o prazer absoluto, uma lembrança que me enche os olhos de lágrima ainda hoje, 10 anos depois. Impacto sem igual. Nem sei como cheguei na Rialto, saltei do trem “daquele jeito meio hippie” mas já em estado de graça, apesar do tempo pesadíssimo e prestes a cair um temporal, acho que fui andando em nuvens. Só parei na estação para fazer o câmbio (trocar Marko por Lira), e ir ao banheiro para me “recuperar” da viagem. Coloquei a mochila nas costas com o essencial para aquele dia e tudo o mais desapareceu: turistas, trens, nuvens pesadas, “só” tinha tudo aquilo pela frente, a eterna Veneza!!! Viajante de “1ª vez em Veneza” não sabe que, logo que se sai do trem, já se tem o pé, os olhos e o coração naquela maravilha toda, ninguém te avisa, te prepara o espírito. É na veia mesmo e com Nitroglicerina pura. Nenhum cartaz com os dizeres “Desembarque e deslumbre-se no choque!” Se o coração agüentar, você é duplamente vencedor. Deu prá sentir o baque??
Parei, respirei fundo, me belisquei para “deixar a moeda cair”, sem saber por onde começar a me deslumbrar primeiro. Deu vontade de dar um grito, desses de comercial psicodélico. Eu estava ali, sonhando um sonho de menina, assistindo o ir e vir frenético dos vaporetos em águas muito verdes do Mar Adriático, e pontes, muitas pontes, palacetes, hotéis maravilhosos, charmosas pizzarias ao largo do Grande Canal, gôndolas com condutores em suas indefectíveis camisetas listradas, estreitas ruas perdidas em labirintos, fabriquetas de cristal de Murano, lojas repletas de máscaras para o famoso Carnaval, e história... Quase podia ouvir os doces acordes do violino de Vivaldi, soando por aquelas infinitas ruelas impregnadas de beleza e mansidão. Ele deve ter sido muito feliz morando por aqui, pensava eu. Arrulhos e revoadas de pombos quebravam o silêncio da paz que eu estava sentindo. Estava feliz como nunca fui até então. A sensação do sonho realizado é boa demais, e o meu, pelo visto, era um sonho em grande estilo.Se algum turista fotografou o ponto onde eu estava, por certo saí na foto dele com a boca aberta, com cara de boba-alegre...
A chuva finalmente caiu, pesada com seus prometidos raios e trovões, desesperando turistas e vendedores em suas barracas de lembranças. Eu, que adoro chuva, cheguei ao êxtase. Me abriguei numa lanchonete, pedi uma fatia de pizza, uma água mineral sentei numa mesinha e fiquei ali, calmamente, observando cada detalhe daquela cidade, me convencendo de que não se tratava de nenhum sonho, de que eu estava realmente em Veneza, em uma de suas lanchonetes, saboreando a vista, uma pizza e a chuva caindo sem dó sobre as calçadas daquele lugar ímpar. Tudo absolutamente perfeito!
Quando finalmente a chuva cessou, o sol voltou tímido, aproveitei para andar e andar, agradecendo aos céus por todo aquele presente. Atravessei todas as pontes, conheci a Piazza de San Marco com sua magnífica catedral e seus milhares de pombos, ladeei o "Gran Canal" e seu grande movimento de barcos e vaporetos, visitei uma loja de cristais onde vi lindas peças sendo fabricadas na hora. Passei pela Ponte dos Suspiros e ela ainda é tão linda e intrigante que os suspiros agora são de quem a vê de fora, não mais dos prisioneiros que outrora por ela passavam e suspiravam na sua última visão da cidade. Os mesmos suspiros que eu dou quando a saudade daquele dia me aperta o coração.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Conselho não se dá, mas esse aí é 10 !!!!



Viver

Acho a maior graça.
Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...
Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal para minha saúde. Prazer faz muito bem. Dormir me deixa 0 km. Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha. Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos. Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias. Brigar me provoca arritmia cardíaca. Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago. Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano. E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem; você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada. Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde. E passar o resto da vida sem coragem para pedir desculpas, pior ainda. Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca. Conversa é melhor do que piada. Exercício é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que dúvida. Sonhar é melhor do que nada.

Luis Fernando Veríssimo
Boa Semana!

domingo, 11 de abril de 2010

Meu amor pela poesia de Neruda


(casa de Neruda em Isla Negra-Chile)
Amo Pablo Neruda. Há muitos anos, quando li seu primeiro verso, me entreguei.
Tudo o que escreveu me toca, me transporta para perto do mar, para dias frios envoltos em neblina da bruma marinha e ao cheiro de sal . A visão do mar de Isla Negra com seus casebres de telhado molhado e redes de pesca penduradas pela janela, se forma em minha mente e o vejo, em passos lentos, talvez com o coração a sangrar, caminhando sobre a escura areia daquela ilha esquecida da costa do Chile, onde o mar cinzento e triste, traz lentamente algas e gaivotas à praia. Longe, consigo ver os barcos dos pescadores sacolejando ao sabor das ondas, amarrados no pier fustigado pelos ventos. Neruda amava aquela ilha. Era seu refúgio, onde se encontrava e se perdia, tomado pelas grandes paixões de sua vida: poesia e solidão. Quem assistiu ao filme "O Carteiro e o Poeta" sabe do que estou falando. Foi, de longe, o filme mais lindo que já vi. Pablo Neruda desperta meu lado melancólico, mas nem por isso menos importante para a formação do meu equilíbrio. É a mistura do mar e o amor na medida exata.

"Não te quero a não ser porque te quero
e de te querer a não te querer chego
e de te esperar quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Só te quero porque é a ti quem quero,
sem fim te odeio, e com ódio te peço,
e a medida do amor meu, viajeiro,
é não te ver e amar-te como um cego.

Talvez consuma a luz de janeiro,
seu raio cruel, meu coração inteiro,
de mim roubando a chave do sossego.

Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo." (Cien sonetos de amor)

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"Pensei em morrer, senti de perto o frio,
e de quanto vivi só a ti eu deixava:
tua boca era o meu dia e minha noite terrestres
e tua pele a república fundada por teus beijos.

Nesse instante se terminaram os livros,
a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,
a casa tranparente que tu e eu construímos:
tudo deixou de ser, menos os teus olhos.

Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,
é simplesmente uma onda alta sobre as ondas
mas ai quando a morte nos vem tocar a porta.

só existe teu olhar para tanto vazio,
só a tua claridade para não seguir sendo,
somente o teu amor para encerrar a sombra."(Cien sonetos de amor)
das palavras que não falam simplesmente, que dizem.


O carteiro Mário Ruppolo (Massimo Troisi) com poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) falando de metáforas diante do mar no filme "O carteiro e o poeta".

terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha "Ôma"- 12 - fim


Hoje, a velha casa não existe mais. A falta do espírito preservador dos meus primos a desmontou e transformou em casa de defumar bacon!!!.... Minha tia e ôma também já nos deixaram. No lugar da casa, hoje está uma casa de madeira sem pintura, cheia de crianças loiras, primos distantes que provavelmente ainda brincam nos pastos onde outrora brincava de “revoar sobre as colinas”, embora acredite, o riacho não tenha mais a mesma pureza. A propriedade continua a mesma, estive por lá há alguns anos, mas a luz elétrica chegou. Provavelmente existam geladeiras, TVs, freezers para preservar as carnes do gado e aves abatidos bem como todos os confortos que o progresso traz. Mas, bem sei que, o que o progresso traz em conforto, leva em magia e inocência.

Oxalá um dia volte a rever o sítio dos Bublitz, e leve minha filha prá correr e “revoar” livremente naquelas colinas, descalça, naqueles pastos sem fim, para subir em árvores, correr atrás dos patos e galinhas, tomar banho no riacho, comer tangerinas até se fartar, envolvida no verde que ainda toma conta do lugar. E se fizer alguma travessura, sei que meu tio Rainold, de onde estiver, vai se lembrar de mim e dar boas gargalhadas.

A casa da minha "Ôma" - 11 - Páscoa


Não lembro de ter passado algum Natal por lá, mas as Páscoas daquele tempo merecem um capítulo especial.
Meses antes, minha querida tia Laura, que era deficiente vocal, confirmava com a minha mãe, do jeito dela, sobre o dia em que chegaríamos para a Páscoa. Elas eram irmãs gêmeas e se entendiam bem. Era o que bastava para ela começar a recolher ovos de ganso para colocar nos ninhos prá mim. Eram ovos grandões, lindos, que ela esvaziava, provavelmente para alguma omelete. Com todo o cuidado, fazia um furinho na extremidade, lavava e secava, depois pintava com tinta extraída de papel crepom colorido. Aí, colocava minúsculas balinhas coloridas ou amendoim açucarado como recheio, fechava com papel de seda e ficava nos esperando, impaciente. Minha mãe aproveitava e levava alguns chocolates no formato de coelho, tudo muito bem escondido de mim, afinal, a festa do coelho era coisa para criança curtir na fantasia mesmo.
Na véspera da Páscoa chegávamos à Raphael. Meu tio Ingo sempre vinha nos encontrar no outro lado do rio, onde tínhamos que atravessar sobre um tronco de árvore, achatado de propósito, para as pessoas andarem sobre ele. Eu morria de medo pois o rio tinha as águas geladas, muitas pedras e a água corria velozmente sob nossos pés, mas, meu tio sempre me levava no colo até a outra margem. Minha mãe vinha logo em seguida. Atravessávamos um caminho por entre um milharal, subíamos uma suave ladeira por entre muitas árvores bem ao lado da casa da ôma e lá estava ela: tia Laura, varrendo o quintal de chão batido, não deixando uma folhinha, um cisco sequer no chão que no fim, mais parecia um piso de assoalho encerado, de tão limpo. Ela sentia um prazer especial naquilo, o fazia como ritual. Penso que era para celebrar a alegria do nosso reencontro, a festa da Páscoa, o espírito da inocência. Assim que nos avistava, largava tudo, secava as mãos no avental e saía correndo ao nosso encontro para ajudar-nos com as bolsas e sacolas, na maior alegria.
Depois dos abraços, adentrávamos a casa, fresquinha de brisa, com o som do tique-taque do relógio, o fogão à lenha fumegante, com sua panela de ferro cheinha de frango borbulhando no molho, e mais batatas doces e arroz. Almoçávamos e como sempre, tinha o papo dos adultos para pôr em dia. Eu deitava num tapete de pele de carneiro, no chão ao lado delas e pegava no sono ali mesmo, embalada pelo mesmo tique-taque daquele relógio antigão, do ranger das dobradiças das janelas e pelas conversas intermináveis. Acordava com minha mãe passando pano no chão, fazendo a limpeza para a Páscoa. À tarde, minha tia Laura arrumava a palha para os ninhos onde o “coelho” poria os ovos e chocolates. Tudo era festa e magia, inteiramente patrocinada pela tia Laura.
Na manhã da Páscoa eu percebia que ela ficava de longe, prá lá e prá cá, só esperando que eu acordasse, mais ansiosa que eu. Como era um tempo bem frio, eu gostava de ficar mais tempo sob aquela coberta de penas gostosa. Mas, ante a ansiedade dela, levantava, sem entender direito o que estava acontecendo. Era quando eu vislumbrava ninhos e mais ninhos de palha pela casa toda e pelo quintal limpo, repletos de ovos coloridos e chocolates. Era a visão do paraíso! Era uma felicidade só!! Minha e da minha tia, me vendo feliz. O coelho não havia se esquecido de mim!!! Ela era tão pura e inocente como uma criança, e a minha alegria era a dela. Esperava-me com uma cestinha na mão, feita de papelão e toda forrada de papel crepom para que eu colocasse os ovos nela o cada ninho encontrado. E eu fazia esse trabalho de pronto, afinal, procurar ninhos com ovos pela casa era uma diversão e tanto. Foram Páscoas inesquecíveis e felizes. Numa dessas ocasiões, ela colocou num dos ninhos, uma galinha de brinquedo, que soltava ovinhos de plástico branco quando a apertávamos. Foi o êxtase!!! Nunca vou esquecer disso. Os únicos brinquedos que eu tinha na vida até ali eram duas bonecas velhas, e receber aquela galinha amarela soltando ovos foi o máximo!!!Era essa...

A casa da minha "Ôma" - 10 - Travessuras


Lembro da minha maior travessura daqueles tempos. A vítima, novamente, foi meu tio Rainold, ou melhor, no final fui eu...
Meu tio cuidava com esmero especial de uma parreira de uvas no seu quintal. Era uma parreira espetacular, com lindos cachos de uvas verdes pendurados, quase uma pintura, um quadro de natureza-morta. Um dia, não sei por que cargas d´água, eu e minha amiga Magrit Braatz resolvemos cortar todos os cachos de uvas dessa parreira, e, escondidas na roça da ôma, ficamos comendo as uvas verdes, bem longe de todos. O detalhe é que as uvas ainda estavam muito verdes, mas comemos alguns cachos mesmo assim. O resto jogamos fora, pois era muita coisa para comer e estavam muito azedas. Quando voltamos, a confusão já estava armada no sítio. Meu tio colerizado, minha mãe e a ôma tentando acalmá-lo, e todos tentando descobrir o malfeitor, o mentor dessa façanha. Minha mãe me interpelou e eu neguei veementemente, por medo. Ela também achou que não tinha sido eu, pois nunca fora de mentir nem de fazer tamanha travessura. Então, estava acima de qualquer suspeita. Mas eis que a noite chegou, com suas estrelas, grilos e vaga-lumes. E eu, muito enjoada, nauseada. Ninguém entendia esse mal-estar (devia ser a consciência pesada). Foi quando minha ôma me colocou na cama e eu não agüentando mais, vomitei. E lá estavam as uvas do meu tio, verdinhas, quase inteiras, no chão do quarto, no meio do vômito. Morri de vergonha perante minha mãe e minha ôma. Tive que confessar à elas o delito e pedir perdão ao meu tio. Ele ficou de mal comigo um tempo, mas depois ele teve que passar outro sufoco comigo. Coitado... Foi no dia em que a máquina de cortar trato virou sobre mim. Todos estavam naquela conversa de fim de tarde de sempre, jantando, mas eu, afoita por ajudar meu tio que não estava no estábulo, fui cortar o trato sozinha para fazer uma surpresa à ele quando chegasse. Não deu outra, no entusiasmo de virar aquela roda imensa, veio tudo por cima de mim. A máquina era grande, mas por sorte, era mecânica, movida manualmente. Foi aquela gritaria, minha e de todo mundo. Mais uma travessura homérica.
Teve o dia em que eu e, novamente minha amiga Magrit, resolvemos capturar todos os sapos do mundo num saco (prá que isso??). Por todos os lados havia sapos-boi dormindo em algum canto. Nos estábulos, sob a casa, entre folhagens, troncos ocos, no pasto, no rancho. Acho que capturamos uns 30 sapos no saco, naquele dia. Consigo sentir hoje, a euforia de pegar cada sapo, era uma gritaria só, mas...muito divertido!!... E como não estávamos satisfeitas apenas em capturá-los, resolvemos soltá-los todos no meio da parentada reunida. Era gente pulando prá todo lado e nós, certamente, levamos aquela “sapecada” de nossas mães. Depois dessa, sosseguei, para alívio do meu tio e de todos.

A casa da minha "Ôma" - 9 - colheitas


Muito se trabalhava nessas terras. O tamanho delas denotava o trabalho que davam. Minha ôma capinava horta, juntava e carregava nas costas fardos e mais fardos de trato para as duas vaquinhas dela, bem longe da casa, na roça. Costumava acompanhá-la por esses caminhos até a roça, era uma picada estreita, ladeada de capim e florzinhas lilases e que ao final tinha uma imensa goiabeira onde gostava de subir e olhar o trabalho da ôma, a cortar mato e formar fardos. Ela costumava fazer um fardo pequeno prá eu carregar, como ela. Sentia-me útil e importante assim. Meus tios tinham muito mais gado prá cuidar, umas oito cabeças de gado e alguns cavalos e grandes plantações às quais eram aradas a cada semeadura, e colhidas em grandes mutirões. Muitas vezes, por diversão infantil, ajudava nessas colheitas. O que mais gostava era de fazer parar os cavalos no meio do serviço de arado. Era só gritar “ÔP!!” que eles paravam automaticamente, era o êxtase!! Meu tio Rainold é que ficava uma fera comigo, pois atrapalhava o andamento dos trabalhos. Aí, lá pelas 9:00 hs da manhã comíamos o Früeschtück (lanche), sob a sombra de pés de tangerina ou das pereiras, em silêncio, admirando toda aquela beleza de terras, agradecendo à Deus pela fartura com simplicidade que abundava naquele lugar.

A casa da minha "Ôma" - 8 - + brincadeiras



Mais Brincadeiras

Adorava correr nos pastos que rodeavam a propriedade toda, eram terras à perder de vista, colinas sem fim, serras e montanhas, todas terras do meu ôpa Bublitz. Hoje devem estar passando de geração em geração e divididas em milhares de pedaços. Havia muitos pés de tangerinas nesses pastos, e eu, vencendo o medo que tinha (ainda tenho)
dos touros que andavam soltos, pulava as certas e colhia todas as tangerinas que podia. Eram tantas que nem dava trabalho de colher, pendiam no pé com o peso dos cachos.
Gostava muito também de ficar vendo o preparo dos doces de frutas, no galpão em frente à casa. Geralmente eram de tangerina ou laranja, que abundavam no sítio. Eram colhidas as frutas, descascadas, tiradas as sementes e as pelinhas e jogadas num tacho de cobre imenso, misturadas com garapa. A extração da garapa também era feita ali. Pesadas rodas e engrenagens no meio do galpão eram giradas, impulsionadas por duas rezes ou dois cavalos, que andavam em círculo o tempo todo, atados à estribos, para moer a cana que meus tios colocavam entre as rodas. Então, atraídas pelo aroma doce que enchia o ar, apareciam as temidas abelhas. Ah, quanto ferrão levei. O galpão ficava apinhado delas nessa época, todas doidas pelos doces. E só nos picavam se tentássemos nos livrar delas, enxotando ou batendo nelas.
Daí alguém, sempre revesando, ficava mexendo com uma colher de cobre com cabo muito comprido, por dias à fio, até a fruta virar doce. Nem à noite o processo acabava.
Depois, era só saborear com queijo branco e pão de milho, huuummmm...
Era óbvio que levávamos algumas latas para Blumenau, quando íamos embora. Aliás, minha ôma sempre nos enchia de coisas do sítio: voltávamos pra casa com sacolas e mais sacolas pesadas cheias de: ovos embalados um a um em folha seca de milho, doces, queijo, manteiga, frutas, pão de milho, nata, e às vezes até galinhas! Era muito bom, pois a sensação de se estar na casa da ôma permanecia por dias e dias e assim, não sentíamos tantas saudades.

A casa da minha "Ôma" - 7 - delícias de leite


Minha ôma tinha duas vacas no seu pequeno estábulo: a Rose e a Bonita. Rose era uma holandesa marrom clara, e a Bonita era mesclada de branco e preto, acho que também era holandesa. Muito dóceis as duas, davam muitos litros de leite, de manhã e à noite. Minha ôma as ordenhava pacientemente, e fazia muitos produtos com esse leite: coalhada, nata, queijo branco (ricota), queijo colonial (amarelo e consistente, o nosso queijo-prato, mas sem aditivos), koch-keese (queijo frito, delicioso), e o leite em si, que era usado para fazer manteiga, pudins, bolos, pães-doces e um monte de coisa boa. Coisa que gostava muito de comer eram as “sopas de frutas” que minha ôma fazia. Eram de carambola, ameixas, nêsperas, as frutas da época cozidas com açúcar cristal e pau de canela ou cravo, e acompanhadas de pudim caseiro, feito com leite fresco, muuuito bom!!!
Na cozinha, como não podia deixar de ser, tinha um fogão à lenha, feito pelo meu “ôpa”, onde sobre sua chapa de ferro saíam maravilhosos almoços, feitos em panela de ferro. Lembro que a panela de ferro da ôma tinha 3 pezinhos, nunca mais vistos em panelas de ferro atuais.

A casa da minha Ôma - 6 - visitações



Costumávamos jantar nessas visitas que fazíamos aos tios. Grossas fatias de pão de milho com muita nata e queijo branco recém amassado e melaço, hummmm, eu adorava. Detestava, na época, pão com salgado. Minha mãe comia com lingüiça feita ali no sítio, fresquinha, cheirosa e com muito alho, e queijo colonial. Sempre tinha aipim frito com bacon defumado no fogão à lenha, galinha ensopada que era sobra do almoço; tudo criado ou feito por eles. As únicas coisas que eram compradas: o açúcar (cristal), a farinha de trigo e o café. Tudo o que ia à mesa, era produzido ali: verduras, legumes, grãos, carne, frango, ovos, bacon, leite, queijos, frutas, doces, pães, etc. Tudo deliciosamente diferente, carne sem hormônio e verduras e legumes sem gosto de agrotóxico.
Depois íamos para a varanda, sentávamos em bancos de madeira, meu tio numa cadeira de balanço, e as estórias rolavam noite adentro. Eu, claro, não queria saber de conversa, ficava 5 minutos ouvindo o papo dos adultos e já queria brincar com meus primos Ingo e Arnoldo e minha prima Erna. Eles tinham alguns pássaros nas gaiolas e deixavam-me alimentá-los. Contávamos nossas histórias de crianças, eles querendo saber como eram as coisas na cidade, eu querendo saber como faríamos para tomar banho no riacho no dia seguinte, e por aí ia a conversa, até o sono nos vencer. Tempos impagáveis esses....

A casa da minha Ôma -5 - A Simplicidade da vida no Campo



O Campo e sua simplicidade

A simplicidade do campo se reflete em inocência, na valorização das pequenas coisas, em beleza. E a casa de minha ôma, com seu sítio em volta, tinha tudo a ver com isso.
Não havia ainda a energia elétrica, ela ainda não havia chegado até aqueles cantos, e esse detalhe fazia toda a diferença. Fazíamos a refeição noturna à luz de lampião, eu e minha mãe de um lado da mesa, minha ôma e minha tia Laura do outro, e essa penumbra, somada às conversas intermináveis delas me faziam ficar com sono. Daí minha ôma me levava prá cama mais fofa do mundo, nos fundos daquela casa aconchegante, com o lampião nas mãos. Era mágico o efeito daquela luz tênue abrindo espaço pelas paredes daquela sala imensa mergulhada na escuridão. Eu brincava com as sombras, com os ecos dos nossos passos, ouvindo os grilos fazendo festa nos laranjais. Minha ôma me colocava na cama, me fazia rezar o pai-nosso em alemão (na época eu sabia...), me cobria com uma coberta de penas, e voltava prá conversa ao pé da mesa com minha mãe. A mesma luz que há pouco encheu a sala de sombras e fantasia, voltava a desaparecer, passo por passo, lentamente, pelas paredes, atrás das costas encurvadas e cansadas de minha ôma. E eu adormecia, embalada pelas vozes distantes das três e pelo vento uivando ao redor das paredes.
Esse mesmo lampião amigo nos acompanhava muitas vezes pelo caminho na escuridão da noite, que ia dar na casa de meus tios, logo em frente. Eu adorava ir visitá-los, tateando pelo caminho ante a falta de luz, extasiada pela visão de tantos vaga-lumes. A luz produzida pelo lampião era muito pouca. E por isso dava prá ver o céu mais estrelado que já vira na vida, principalmente no inverno, quando o frio deixava o ar mais límpido ainda. Os cachorros vinham nos saudar, depois de ladrarem um pouco, ante a visão de quatro vultos se aproximando no breu das noites sem lua. Lembro apenas dos nomes: Mópi e Rex.
E a noite transcorria entre conversas “à pôr em dia” com meus tios e as minhas brincadeiras nos estábulos, onde meu tio dava comida ao gado. Adorava os bezerros, ficava afagando-lhes o crânio forte e peludo. Às vezes, ajudava meu tio à cortar o capim, na máquina corta-trato, ou debulhar milho, também numa maquininha de ferro. Nunca entendi como aquilo debulhava tão bem. O milho era para dar às galinhas, espetáculo que eu não perdia por nada, nos fins de tarde ou início de noite. Meu tio tinha um chamado próprio para as bichinhas, e o pátio antes vazio, se enchia com revoadas de galinhas, galos, frangos, pintos, patos, marrecos, gansos, todos afoitos pelo jantar recém debulhado. Era muito divertido.

A casa da minha "Ôma" -4- A viagem até lá




Íamos lá muitas vezes, eu e minha mãe, principalmente nas minhas férias escolares. Era só expectativa quando minha mãe acertava os detalhes da viagem. Pegávamos o “Expresso Presidente”, em Blumenau, e, em mais ou menos uma hora e meia, chegávamos a Ibirama. De lá, aguardávamos na praça central por uma condução (Kombi) do Sr. Willy Braatz (que hoje é dono de uma frota de ônibus em Ibirama) ou um carro-de-molas que fosse buscar o leite dos criadores de gado de Raphael e nos levasse até o sítio da ôma. Preferia os carros-de-mola, mais confortáveis e lentos, com seus cavalos sonolentos, pois era uma viagem extasiante! Ao som do ploc-ploc do casco do cavalo, passávamos lentamente por aquelas estradinhas de terra, típicas de interior, ladeadas por árvores colossais e por lindas propriedades, todas com seus intermináveis pastos, onde o gado ruminava calmamente o produto de seu almoço. Também fomos muitas vezes de trem, no belo tempo em que Blumenau e Rio do Sul eram ligados por ferrovia. Meus irmãos, músicos que eram, levavam seus instrumentos “à bordo” e várias dessas viagens foram feitas ao som de lindas melodias alemãs tocadas pelo violino e acordeon deles. Os demais passageiros ficavam extasiados com tão agradável viagem e nós, descíamos cheios de ansiedade na estação de Subida, meus pais pegavam as bicicletas no trem e lá ia a feliz família, pedalando na direção da casa da Oma. Eu ia com minha mãe naquela cadeirinha de criança e meu pai levava meus irmãos. Chegavam exaustos de tanto pedalar mas naquele tempo fazia-se qualquer sacrifício para se estar perto dos que amávamos. As visitas à casa de parentes era muito comum.
O cheiro fresco de mato cortado, de eucaliptos ao vento, das singelas flores do campo, o barulho, ao longe, de alguma máquina cortando “trato”, carros-de-boi rangendo ao longo dos caminhos, crianças correndo pelas colinas, os dias ensolarados, riachos cristalinos, tudo fazia com que me apaixonasse para sempre pelo campo. E tinha as ovelhas, os defumadores de bacon e toucinho, lindos cavalos, pássaros diferentes dos pardais da cidade, plantações à perder de vista, cercas toscas de arame farpado, como o da casa da minha ôma e a porteira frágil, que qualquer criança poderia abrir, enfim, toda essa paisagem e elementos me enfeitiçavam, a tal ponto que era uma choradeira e tanto, no dia de voltar à Blumenau. Levava dias prá me readaptar à cidade, mas sabia que logo, logo, iríamos voltar lá e rever tudo aquilo que tanto me enriquecia a alma.

A casa da minha Ôma 3 - Brincadeiras de criancinha


Lembro que o terreno e a casa eram cercados por uma cerca velha, feita de troncos que, pela idade, estavam um tanto podres e cobertos de musgo seco e arame farpado, tão frágil que qualquer animal poderia derrubar se quisesse, mas a harmonia que reinava por ali, entre seres e pessoas, entre o verde da grama e o azul do céu, fazia tudo parecer intocado, imaculado, como tudo na minha lembrança quando penso nessa casa.
Imenso pé de ameixas dava as boas vindas, além da minha ôma e a tia Laura, sempre nos esperando com infinita felicidade.
Havia uma varanda imensa do lado da casa que dava para um laranjal. Lembro que em criança, brincava lá sozinha por tardes inteiras, com potes vazios de fermento de bolo, que faziam as vezes de panelinhas, com o doce aroma de flor de laranjeira no ar, e me deixava levar pela imaginação, tão aflorada que é nessa fase da vida.

A Casa da minha Ôma 2 - BODAS DE OURO

Oma Hulda e Opa Johann Bublitz

Lembro sempre meu irmão a contar sobre as Bodas de Ouro dos meus avós, que durou 5 intermináveis dias e noites. Pena que na ocasião eu ainda não era nascida para poder aproveitar tal deleite(foi na década de 50, meus irmãos eram pequenos). Meu ôpa matou, para a ocasião, um boi, alguns porcos, muitas galinhas e patos. Comprou um saco de 20 kg de farinha de trigo para que minha ôma fizesse toda a parte da confeitarias. Todos os filhos e noras, filhas e genros foram convocados para ajudar nos preparativos.
Minha mãe e tias, na cozinha, entre intermináveis conversas ao pé do fogão à lenha, faziam as conservas de legumes, os doces de frutas, os bolos e as cucas de fruta com farofa. Descascavam as batatas, cozinhavam o arroz, assavam os patos e galinhas no velho forno. Meu pai e os demais homens da família eram responsáveis pelo abate dos animais e pelos assados de brasa, pelas bebidas e pela recepção dos convidados. Toda a redondeza fora convidada e essa inesquecível festa foi marcada com muita emoção, pela surpresa feita ao meu ôpa, pelos seus alunos da escola de música. Na última noite da festa, para fechar com chave de ouro, todos eles apareceram, descendo lentamente a colina de pasto, tocando “A negra cigana”, arrancando suspiros e lágrimas de todos os presentes, especialmente do meu ôpa. Deve ter sido mesmo emocionante.
Meu ôpa nos deixou em 1962, pouco antes do meu nascimento. Só ficaram morando na casa, minha ôma e minha tia Laura.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Casa da minha "ÔMA" 1 - A casa

Minha ôma, minha mãe e eu (na janela)
A primeira lembrança que me vem à mente quando falo de minha vó (Ôma, para os alemães), é de sua velha e acolhedora casa de enxaimel, encravada num vale muito verde, no interior de “Raphael”, comarca de Ibirama/SC, com a chaminé sempre fumegante e as janelas de madeira com suas cortinas fininhas tremulando ao vento.
Consigo materializar a imagem dela sentada na pequena escada da entrada, com uma gamela cheia de batatas cozidas frias, e sua inseparável faquinha cortando fatias e mais fatias que ela comia agradecendo aos céus por aquele prazer.
Era uma casa de amplos cômodos, disposta ao sabor de todas as brisas daqueles verdes campos interioranos. Ouvia-se, nas tardes preguiçosas, quando era chegado o tempo de descascar toneladas de tangerinas para fazer-se doce, o ranger das dobradiças das velhas janelas já seculares. Canto mágico este, impregnado de nostalgias. Naquele varandão ajudávamos nosso tio na deliciosa “tarefa” de descascar as frutas recém colhidas, empanturrando-nos mais do que alimentando os cestos de frutas descascadas. Era irresistível! Nessa varanda, gostava de ficar horas sozinha, sentada no chão de tábuas e recostada à parede, só ouvindo a paz daquele silêncio, quebrado apenas com o farfalhar da palha de milho que o vento invadia para brincar, terminando por pousar nas entranhas das laranjeiras em flor. A madeira do chão e dos corrimões talhados em forma de coração já estava toda enrugada, corroída por anos e anos de chuva, geada, vento e paz. Vez por outra via patos e galinhas andando calmamente entre os laranjais e desejava ter sido um deles para nunca mais sair dali, nunca mais ter que ir embora.
Na sala, minha “ôma” dispunha os quadros com fotografias dos antepassados. Casamentos, nascimentos, festas, os músicos da escola de meu “ôpa”, e o próprio, empunhando o velho bandoneon, instrumento que tocava com maestria nos bailes das domingueiras nas cercanias de “Raphael”. Adorava ficar olhando a história daquela casa, caprichosamente imortalizada naquelas lindas e antigas molduras.
Essa sala era na verdade um imenso salão, e até onde me recordo, era utilizado em todas as grandes festas dançantes de família: casamentos, reuniões, aniversários, o final da colheita de fumo ou simplesmente festas para comemorar a vida, a reunião dos filhos e netos no aconchego daquelas paredes de tijolinhos aparentes. Sempre havia danças e música tocada pelo meu “ôpa” em bailes que davam o que falar por muitas semanas, por toda a vizinhança do sítio. Festas inigualáveis, regadas a muita comida, bebida e música alemã.

domingo, 4 de abril de 2010

Aniversário de Bonecas


Essa é a versão2010



Essa foi criação da Laurinha.
Numa tarde calorenta e longínqua de 2009, Laura entediada,acho que com o calor carioca, começou a cortar bandeirolas com jornal. Aquilo deu uma sujeirada na quarto dela...!!! Mas quando perguntei o que ela queria com aquilo,falou que era para fazer uma festa para as bonecas dela. Eureka! Resolvi colaborar pois achei a idéia super criativa, uma idéia prá tirar qualquer menina do tédio! Fui na padaria, comprei um bolo seco pronto, cobri com merengue colorido (rosa) com anilina que sobrou dos biscoitos natalinos, peguei bisnaguinhas para mini cachorros-quentes, uma lata de leite condensado para fazer brigadeiro e tava pronta a festa! Laura deu banho nas bonecas, perfumou-as e maquiou-as(socorro!). E fez tanto sucesso que teve a versão 2010, com direito à convite para amiguinhas.

Dez coisas



Dez coisas que levei anos para aprender...


1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa. (esta é muito importante. Preste atenção. Nunca falha).

2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.

3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.

4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.

5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.

6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.

7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, a palavra seria "reuniões".

8. Há uma linha muito tênue entre "hobby" e "doença mental".

9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.

10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

PÁSCOA 2010

Estamos pertinho da Páscoa 2010. Gosto particularmente desses festejos pois a infância novamente se aviva na minha memória e esse clima de outono é propício para se criar inúmeros trabalhinhos, ainda mais agora que as delícias da minha infância eu transfiro para minha Laurinha. Vejam a cestinha de Páscoa que criei prá ela esse ano.


No ano passado tirei uma tradição alemã do baú: a Árvore de Páscoa. Na Alemanha, como a Páscoa acontece no início da primavera, as árvores de Páscoa são feitas com galhos de cerejeira, quando já estão começando a brotar, criando folhinhas.O significado é claro: RENOVAÇÃO,RENASCIMENTO. Aí penduram-se ovos coloridos, florzinhas, fitas, prá que esse efeito de renovação seja realmente transbordante de vida. Linda tradição!

E a tradição das casquinhas de ovos pintadas? Trago isso desde a mais tenra idade, quando na manhã de Páscoa era acordada cedo para ver o que o coelhinho havia me trazido. Era frio, a manhã cheia de neblina. Pegava minha cestinha e batendo dentes, ainda de pijaminha, saía correndo pelo quintal atrás dos "ninhos do coelho" e eis que, maravilhada, encontrava dezenas deles escondidinhos na horta em meio aos repolhos, no pomar, sob as árvores, todos ainda com orvalho, repletos de coloridos ovinhos pintados e recheados de amendoim doce, e ovinhos de chocolate cobertos de papel alumínio colorido, coelhos da "Chocolate Saturno" (antiga fábrica de chocolates de Blumenau) espiando por sobre a palha do ninho...era uma visão fantástia!!! Digna dos mais belos sonhos de criança. Minha mãe tinha sempre o cuidado de caprichar nos ninhos. Fazia-os de palha de serragem, colocava florzinhas e escondia-os bem cedo, antes de eu acordar. Desde que Laurinha começou a entender um pouco mais das coisas, fiz os tais ninhos espalhados pelo apartamento, até patinha de coelho desenhei no chão com guache, deu uma trabalheira mas infelizmente, o efeito não foi o mesmo que comigo. Hoje existe a superexposição de produtos de Páscoa, as crianças escolhem o ovo que querem ganhar, não existe mais a surpresa, sem contar na facilidade que é para comprá-los, paga-se no cartão ou até em prestação. Como na minha época de criança tudo era mais difícil de se ter, o gosto de ganhar qualquer coisa, por mais simples que fosse era algo que ia ficar marcado por toda a vida. Tanto que aqui estou, do alto dos meus 4.8, lembrando de tudo como se fosse ontem. Como gosto do fator surpresa, na manhã da Páscoa quero surpreendê-la de uma forma diferente: como sei que ela adora comer numa mesa posta (engraçado isso numa criança...), vou fazer um lindo e caprichado CAFÉ DA MANHÃ DE PÁSCOA. A cestinha acima eu fiz escondida, vou colocar as guloseimas (ovo de chocolate, casquinhas de ovo com jujubas e "MM", ontem fiz uma toca do coelho (depois posto fotos) onde colocarei um coelho de chocolate e alguns ovinhos e ainda vou pintar um coelho de MDF onde vou colocar um ovão da Mônica, pretendo fazer bolo, pão de queijo, comprar suco de pêssego (adoro), fazer binaguinhas com requeijão, e claro, café com leite. A louça vou usar a de minha avó, toda floridinha e antiga, guardanapos coloridos, acho que a mesa vai ficar linda! Vamos ver se ela vai levar isso para suas lembranças...acho que vai!
Feliz Páscoa à todos!!