terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha Ôma -5 - A Simplicidade da vida no Campo



O Campo e sua simplicidade

A simplicidade do campo se reflete em inocência, na valorização das pequenas coisas, em beleza. E a casa de minha ôma, com seu sítio em volta, tinha tudo a ver com isso.
Não havia ainda a energia elétrica, ela ainda não havia chegado até aqueles cantos, e esse detalhe fazia toda a diferença. Fazíamos a refeição noturna à luz de lampião, eu e minha mãe de um lado da mesa, minha ôma e minha tia Laura do outro, e essa penumbra, somada às conversas intermináveis delas me faziam ficar com sono. Daí minha ôma me levava prá cama mais fofa do mundo, nos fundos daquela casa aconchegante, com o lampião nas mãos. Era mágico o efeito daquela luz tênue abrindo espaço pelas paredes daquela sala imensa mergulhada na escuridão. Eu brincava com as sombras, com os ecos dos nossos passos, ouvindo os grilos fazendo festa nos laranjais. Minha ôma me colocava na cama, me fazia rezar o pai-nosso em alemão (na época eu sabia...), me cobria com uma coberta de penas, e voltava prá conversa ao pé da mesa com minha mãe. A mesma luz que há pouco encheu a sala de sombras e fantasia, voltava a desaparecer, passo por passo, lentamente, pelas paredes, atrás das costas encurvadas e cansadas de minha ôma. E eu adormecia, embalada pelas vozes distantes das três e pelo vento uivando ao redor das paredes.
Esse mesmo lampião amigo nos acompanhava muitas vezes pelo caminho na escuridão da noite, que ia dar na casa de meus tios, logo em frente. Eu adorava ir visitá-los, tateando pelo caminho ante a falta de luz, extasiada pela visão de tantos vaga-lumes. A luz produzida pelo lampião era muito pouca. E por isso dava prá ver o céu mais estrelado que já vira na vida, principalmente no inverno, quando o frio deixava o ar mais límpido ainda. Os cachorros vinham nos saudar, depois de ladrarem um pouco, ante a visão de quatro vultos se aproximando no breu das noites sem lua. Lembro apenas dos nomes: Mópi e Rex.
E a noite transcorria entre conversas “à pôr em dia” com meus tios e as minhas brincadeiras nos estábulos, onde meu tio dava comida ao gado. Adorava os bezerros, ficava afagando-lhes o crânio forte e peludo. Às vezes, ajudava meu tio à cortar o capim, na máquina corta-trato, ou debulhar milho, também numa maquininha de ferro. Nunca entendi como aquilo debulhava tão bem. O milho era para dar às galinhas, espetáculo que eu não perdia por nada, nos fins de tarde ou início de noite. Meu tio tinha um chamado próprio para as bichinhas, e o pátio antes vazio, se enchia com revoadas de galinhas, galos, frangos, pintos, patos, marrecos, gansos, todos afoitos pelo jantar recém debulhado. Era muito divertido.

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terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha Ôma -5 - A Simplicidade da vida no Campo



O Campo e sua simplicidade

A simplicidade do campo se reflete em inocência, na valorização das pequenas coisas, em beleza. E a casa de minha ôma, com seu sítio em volta, tinha tudo a ver com isso.
Não havia ainda a energia elétrica, ela ainda não havia chegado até aqueles cantos, e esse detalhe fazia toda a diferença. Fazíamos a refeição noturna à luz de lampião, eu e minha mãe de um lado da mesa, minha ôma e minha tia Laura do outro, e essa penumbra, somada às conversas intermináveis delas me faziam ficar com sono. Daí minha ôma me levava prá cama mais fofa do mundo, nos fundos daquela casa aconchegante, com o lampião nas mãos. Era mágico o efeito daquela luz tênue abrindo espaço pelas paredes daquela sala imensa mergulhada na escuridão. Eu brincava com as sombras, com os ecos dos nossos passos, ouvindo os grilos fazendo festa nos laranjais. Minha ôma me colocava na cama, me fazia rezar o pai-nosso em alemão (na época eu sabia...), me cobria com uma coberta de penas, e voltava prá conversa ao pé da mesa com minha mãe. A mesma luz que há pouco encheu a sala de sombras e fantasia, voltava a desaparecer, passo por passo, lentamente, pelas paredes, atrás das costas encurvadas e cansadas de minha ôma. E eu adormecia, embalada pelas vozes distantes das três e pelo vento uivando ao redor das paredes.
Esse mesmo lampião amigo nos acompanhava muitas vezes pelo caminho na escuridão da noite, que ia dar na casa de meus tios, logo em frente. Eu adorava ir visitá-los, tateando pelo caminho ante a falta de luz, extasiada pela visão de tantos vaga-lumes. A luz produzida pelo lampião era muito pouca. E por isso dava prá ver o céu mais estrelado que já vira na vida, principalmente no inverno, quando o frio deixava o ar mais límpido ainda. Os cachorros vinham nos saudar, depois de ladrarem um pouco, ante a visão de quatro vultos se aproximando no breu das noites sem lua. Lembro apenas dos nomes: Mópi e Rex.
E a noite transcorria entre conversas “à pôr em dia” com meus tios e as minhas brincadeiras nos estábulos, onde meu tio dava comida ao gado. Adorava os bezerros, ficava afagando-lhes o crânio forte e peludo. Às vezes, ajudava meu tio à cortar o capim, na máquina corta-trato, ou debulhar milho, também numa maquininha de ferro. Nunca entendi como aquilo debulhava tão bem. O milho era para dar às galinhas, espetáculo que eu não perdia por nada, nos fins de tarde ou início de noite. Meu tio tinha um chamado próprio para as bichinhas, e o pátio antes vazio, se enchia com revoadas de galinhas, galos, frangos, pintos, patos, marrecos, gansos, todos afoitos pelo jantar recém debulhado. Era muito divertido.

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