terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha "Ôma" -4- A viagem até lá




Íamos lá muitas vezes, eu e minha mãe, principalmente nas minhas férias escolares. Era só expectativa quando minha mãe acertava os detalhes da viagem. Pegávamos o “Expresso Presidente”, em Blumenau, e, em mais ou menos uma hora e meia, chegávamos a Ibirama. De lá, aguardávamos na praça central por uma condução (Kombi) do Sr. Willy Braatz (que hoje é dono de uma frota de ônibus em Ibirama) ou um carro-de-molas que fosse buscar o leite dos criadores de gado de Raphael e nos levasse até o sítio da ôma. Preferia os carros-de-mola, mais confortáveis e lentos, com seus cavalos sonolentos, pois era uma viagem extasiante! Ao som do ploc-ploc do casco do cavalo, passávamos lentamente por aquelas estradinhas de terra, típicas de interior, ladeadas por árvores colossais e por lindas propriedades, todas com seus intermináveis pastos, onde o gado ruminava calmamente o produto de seu almoço. Também fomos muitas vezes de trem, no belo tempo em que Blumenau e Rio do Sul eram ligados por ferrovia. Meus irmãos, músicos que eram, levavam seus instrumentos “à bordo” e várias dessas viagens foram feitas ao som de lindas melodias alemãs tocadas pelo violino e acordeon deles. Os demais passageiros ficavam extasiados com tão agradável viagem e nós, descíamos cheios de ansiedade na estação de Subida, meus pais pegavam as bicicletas no trem e lá ia a feliz família, pedalando na direção da casa da Oma. Eu ia com minha mãe naquela cadeirinha de criança e meu pai levava meus irmãos. Chegavam exaustos de tanto pedalar mas naquele tempo fazia-se qualquer sacrifício para se estar perto dos que amávamos. As visitas à casa de parentes era muito comum.
O cheiro fresco de mato cortado, de eucaliptos ao vento, das singelas flores do campo, o barulho, ao longe, de alguma máquina cortando “trato”, carros-de-boi rangendo ao longo dos caminhos, crianças correndo pelas colinas, os dias ensolarados, riachos cristalinos, tudo fazia com que me apaixonasse para sempre pelo campo. E tinha as ovelhas, os defumadores de bacon e toucinho, lindos cavalos, pássaros diferentes dos pardais da cidade, plantações à perder de vista, cercas toscas de arame farpado, como o da casa da minha ôma e a porteira frágil, que qualquer criança poderia abrir, enfim, toda essa paisagem e elementos me enfeitiçavam, a tal ponto que era uma choradeira e tanto, no dia de voltar à Blumenau. Levava dias prá me readaptar à cidade, mas sabia que logo, logo, iríamos voltar lá e rever tudo aquilo que tanto me enriquecia a alma.

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terça-feira, 6 de abril de 2010

A casa da minha "Ôma" -4- A viagem até lá




Íamos lá muitas vezes, eu e minha mãe, principalmente nas minhas férias escolares. Era só expectativa quando minha mãe acertava os detalhes da viagem. Pegávamos o “Expresso Presidente”, em Blumenau, e, em mais ou menos uma hora e meia, chegávamos a Ibirama. De lá, aguardávamos na praça central por uma condução (Kombi) do Sr. Willy Braatz (que hoje é dono de uma frota de ônibus em Ibirama) ou um carro-de-molas que fosse buscar o leite dos criadores de gado de Raphael e nos levasse até o sítio da ôma. Preferia os carros-de-mola, mais confortáveis e lentos, com seus cavalos sonolentos, pois era uma viagem extasiante! Ao som do ploc-ploc do casco do cavalo, passávamos lentamente por aquelas estradinhas de terra, típicas de interior, ladeadas por árvores colossais e por lindas propriedades, todas com seus intermináveis pastos, onde o gado ruminava calmamente o produto de seu almoço. Também fomos muitas vezes de trem, no belo tempo em que Blumenau e Rio do Sul eram ligados por ferrovia. Meus irmãos, músicos que eram, levavam seus instrumentos “à bordo” e várias dessas viagens foram feitas ao som de lindas melodias alemãs tocadas pelo violino e acordeon deles. Os demais passageiros ficavam extasiados com tão agradável viagem e nós, descíamos cheios de ansiedade na estação de Subida, meus pais pegavam as bicicletas no trem e lá ia a feliz família, pedalando na direção da casa da Oma. Eu ia com minha mãe naquela cadeirinha de criança e meu pai levava meus irmãos. Chegavam exaustos de tanto pedalar mas naquele tempo fazia-se qualquer sacrifício para se estar perto dos que amávamos. As visitas à casa de parentes era muito comum.
O cheiro fresco de mato cortado, de eucaliptos ao vento, das singelas flores do campo, o barulho, ao longe, de alguma máquina cortando “trato”, carros-de-boi rangendo ao longo dos caminhos, crianças correndo pelas colinas, os dias ensolarados, riachos cristalinos, tudo fazia com que me apaixonasse para sempre pelo campo. E tinha as ovelhas, os defumadores de bacon e toucinho, lindos cavalos, pássaros diferentes dos pardais da cidade, plantações à perder de vista, cercas toscas de arame farpado, como o da casa da minha ôma e a porteira frágil, que qualquer criança poderia abrir, enfim, toda essa paisagem e elementos me enfeitiçavam, a tal ponto que era uma choradeira e tanto, no dia de voltar à Blumenau. Levava dias prá me readaptar à cidade, mas sabia que logo, logo, iríamos voltar lá e rever tudo aquilo que tanto me enriquecia a alma.

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