sexta-feira, 27 de novembro de 2009

OS SOLFEJOS DO TEATRO CARLOS GOMES




Uma das coisas que mais gostava de fazer nos dias que antecediam as festas de Natal, por volta dos meus 20 a 30 anos quando ainda morava em Blumenau, era assistir a todos os programas de Natal do Teatro Carlos Gomes. Era um mês de grandes apresentações, todas envoltas naquela mágica atmosfera de euforia mista de alegria que a época revivia.
Sempre adorei aquele Teatro, imponente, cheio de histórias, cheirando a arte e cortinas de palco, com seu constante entra-e-sai de alunos do conservatório de música, som de instrumentos sendo afinados nos ensaios das orquestras, bailarininhas saltitando aqui e ali, artistas famosos cruzando com a gente nos corredores, aquele barzinho onde embalava animados papos com muitos gin-soda rodeada dos mais exotéricos e ripongas amigos, todos envolvidos de alguma forma com aquele prédio suntuoso, contruído na época da 2a Guerra e segundo conta a "lenda", feito para receber, hospedar e esconder o Führer (vou pesquisar mais sobre isso...)em sua "provável" fuga para o Brasil. A seguir, uma pequena história que envolve o teatro.

Pequena "lenda urbana".

Por Carlos Braga Mueller A imponência do prédio que abriga a Sociedade Dramático-Musical Carlos Gomes sempre foi alvo de muitos comentários, principalmente daqueles que atribuem a construção do prédio, na década de 30, aos marcos alemães, supostamente vindos do 3º Reich.
- O livro “O Punhal Nazista no Coração do Brasil”, do Coronel Antônio Lara Ribas, editado nos anos 40 pela Delegacia de Ordem Política e Social de Santa Catarina, órgão que combatia o nazi-fascismo local, cita diversas sociedades e clubes catarinenses que teriam recebido doação em dinheiro da Alemanha.
“Entre elas não consta o nome da Sociedade Teatral Frohsinn”, que durante a segunda guerra. passou a chamar-se Carlos Gomes.
Mas as lendas urbanas perseguem até hoje o Teatro.
- Primeira delas: a fachada seria uma réplica do quepe militar de Hitler. Não há como negar. Basta olhar para se ter esta impressão. O quepe do Fuehrer, ou seja, lá de que general for, pode sim ter inspirado qualquer arquiteto, sem que tivesse havido conotação política no projeto.
Conversando com um cidadão, cujo avô trabalhou nas obras do Teatro Carlos Gomes, ele me disse que o avô contava que de vez em quando arquitetos vinham da Alemanha acompanhar a construção. Teria isto algum significado político? Ou seria apenas um intercâmbio técnico-cultural?
As lendas diziam também que o prédio seria a Sede do 3º Reich na América Latina, se Hitler ganhasse a guerra!
Hitler perdeu. Ficou a lenda!
- Outra questão levantada sobre o prédio do Teatro é a possível existência de um túnel, que ligaria os seus porões a uma saída de emergência.
De alguns anos para cá, muitas reformas foram feitas e nada, absolutamente nada foi encontrado que denotasse escavação ou indícios de um túnel ou coisa parecida. É bem verdade que existem paredes no prédio com espessura de mais de meio metro. Mas, segundo consta, tudo de acordo com o projeto original. É bom lembrar um outro fato que, misturado a esta lenda, pode explicar alguma coisa.
Onde hoje existe a Rua Namy Deeke (transversal que liga a Rua XV à 7 de Setembro), corria um ribeirão.
Com a necessidade de se urbanizar o centro, o ribeirão foi canalizado desde o morro da Rua 7 até o Rio Itajaí Açu.Como o terreno do Teatro Carlos Gomes ficava ao lado do antigo Ribeirão, hoje Rua Namy Deeke, muita gente, que acompanhava a construção da tubulação, que naquele tempo era feita de aço, erguia os olhos e via o Teatro. Tinha tudo para dar a impressão que do Teatro saía um túnel em direção ao Rio Itajaí Açu.
E a lenda vai mais adiante: na barranca um barco veloz estaria sempre a postos, para levar Hitler até um local mais navegável do Rio, onde um submarino aguardava o Fuehrer, para levá-lo são e salvo a outro território do Reino.
Indo mais adiante, subindo o Rio Itajaí Açu, chegando a Ibirama, nos vêm à lembrança outra lenda: Hitler teria autorizado homens de sua confiança, egressos da antiga Companhia Hanseática de Hamburgo, que colonizou Ibirama, a encontrar uma grande área de terras para ali instalar-se no Brasil.
Em 1934, o dirigível Graf Zepellin sobrevoou Blumenau e depois se dirigiu para Hammônia, hoje Ibirama.
A justificativa dada pela Companhia Zepellin foi a de que o comandante da aeronave, Dr. Hugo Eckner, tinha parentes na região e foi até lá para saúda-los.
Dizem as lendas, que Eckner não deu muita importância à missão de mapear algum território para Hitler.
Ficou público e notório o desentendimento que marcou as relações do Fuehrer com o Conde Zepellin até o final da guerra.
Em 1936, Hitler abriu com pompas as Olimpíadas na Alemanha. E exigiu que os dois maiores dirigíveis da Nação, o Graf Zepellin e o Hindenburg, sobrevoassem juntos Berlim, uma verdadeira apoteose do nacional-socialismo alemão.
Pois para conseguir este feito teve que ameaçar o Conde de que, ou os dois dirigíveis voavam em dupla ou a empresa passaria ao controle do Estado! Voaram.
Outra briga entre Zepellin e Hitler foi a colocação da cruz suástica no bojo das aeronaves. Só a muito custo a empresa Zepellin concordou em colocar a suástica nas caudas dos dirigíveis, e mesmo assim bem pequenas. Hitler queria que elas tomassem todo o bojo lateral, mas não conseguiu o intento.

Voltando à Blumenau da minha juventude... Quando chegava dezembro, organizavam-se várias audições com artistas do local, de fora ou mesmo de alunos e professores da Escola de Música, da qual aliás, digo com todo orgulho, fiz parte por alguns anos, do coral e das aulas de piano, com professores como Jorge Radtke, Domingos e Reginaldo Nascimento, embora nunca quizesse me apresentar ... Foi graças à meia bolsa de estudos que a Cia Hering me forneceu, que pude entrar no mundo encantado da música, das artes, e o contato pela 1a vez com os arpejos e solfejos de aulas de teoria musical, com os acordes de um piano Steinway (jóia do Teatro), com as belezas intrincadas nas tramas vocálicas dos corais de Bach e Haendel, enfim, com partituras, música erudita, instrumentos, palco, arte.

Num final de semana havia apresentação do "Quebra Nozes" com o corpo de baile da consagrada escola de dança do teatro, o Pró-Dança, no outro, era a vez das imperdíveis audições de encerramento dos alunos. Num outro havia encenação de peças Natalinas e o "gran-finale", para fechar os festejos com chave de ouro, era com a Orquestra de Câmara de Blumenau e o coral "Ars Sacra" (do qual participei) do próprio teatro. Saíamos desses concertos flutuando numa aura de Natal. Havia sempre casa lotada, todos usando suas melhores roupas, a nata da sociedade blumenauense marcando presença, e toda sorte de pessoas influentes como escritores, músicos e políticos, todos amigos ou conhecidos pois de alguma forma incentiavam a arte que se respirava naqueles corredores de sonho, e todo ano era a mesma coisa, sempre aquela apoteose de arte misturada com clima de festa, cordialidade, desfrute. Nas cochias, nos camarotes, no palco, na platéia, todos eram iguais e felizes perante aqueles momentos impregnados de beleza e luz. Era como participar de uma missa dominical, onde acabado o culto, todos saíam sorridentes, se cumprimentando, desejando sinceramente o melhor que seus corações poderiam desejar. Na saída, todos corríamos para os camarins para cumprimentar e agradecer aos artistas que nos abrilhantavam com tamanha magia.
Tive o privilégio de assistir grandes obras ali, desde "O Messias" de Haendel ao "Oratório de Natal" de Bach, concertos de Natal diversos, cujos acordes ainda frescos em minha memória, me trazem todo o peso da nostalgia que remontam essa fase deslumbrante da minha vida.

domingo, 15 de novembro de 2009

Natal de Rabanadas





Perdoem-me meus compatriotas sulistas, catarinenses de origem germânica. É claro que, mesmo morando fora do meu estado, procurei manter no Natal a tradição da terra natal com tentativas de “Honigplätzschen” e os “Weichnachts plätzschen” (biscoitinhos de Natal e de Mel), mas nesse ano inovei o cardápio tradicional alemão com a introdução de um acepipe de origem portuguesa “com certeza”: a rabanada.
Explico: meu marido, apesar de paraense de Santarém, veio para o Rio de Janeiro com 6 meses de idade e como todos sabem, o Rio tem muito arraigada a tradição portuguesa, povo colonizador dessa terra. Então, desde a mais tenra infância, é a rabanada que tem o gosto do Natal prá ele, como para nós, os descendentes de alemães, Natal só é Natal se tiver no ar aquele aroma inconfundível de pinheiro natural na sala e cheiro de cravo moído no biscoito natalino assando.
Eis que ele, na véspera de natal de 2006, chega da rua com algumas compras de última hora : abacaxis, frutas secas, refrigerantes para a ceia e um embrulho com dois pães compridos, que descobri depois, eram para eu fazer a tal rabanada. E agora? Nunca as fiz! E não tinha nenhuma receita e nem ele as sabia fazer.
O jeito foi apelar para a internet procurar a “salvação”. Descobri então, que a tal rabanada nada mais é do que uma variação do que nossas mães faziam com pão velho ou seco, quando tinham dó de jogá-lo fora: passavam as fatias no ovo batido com açúcar e canela e o fritavam, às fatias. Eram as tais “fatias-do-céu”. Ficavam uma delícia, não?
Então era só isso? Simples assim? Nada mais elaborado?
Foi aí que pesquisando melhor, percebi que a rabanada tem lá suas diferenças, “ó, pá” ! A começar pelo sentimento.
O aproveitamento do pão velho de nossas mães tinha de alguma forma, o objetivo nobre de santificar o pão, hábito cultivado, acredito, na visão impensável de um pedaço sequer jogado na lata do lixo. Hoje em dia, essa reverência em mim bate tão forte, que se for imperioso jogar um pedaço de pão fora, nunca o faço sem beijá-lo antes.
No Natal em Portugal, além do “pitéu” não ser de pão velho, é tido como tradição na mesa da ceia natalina, costume talvez obtido e amplamente incentivado devido ao aroma inebriante e irresistível de canela e açúcar que se espalhava pelas cozinhas lusitanas do passado.
Se o Natal alemão cheira à cravo moído e folha fresca de pinheiro, o português, acredito, exala aroma de rabanada. Vemos, pois, que os aromas impregnados de lembranças se entrelaçam nas misturas.
Voltando ao avental... A diferença maior, acho, consiste no tipo de pão usado.
Para a rabanada existe um pão específico. O de nossas mães era qualquer um que passasse do tempo, e na maioria das vezes era pão caseiro, que elas mesmas faziam no forno à lenha. Minha mãe tinha na cozinha, como toda boa cozinha de descendente alemão, um fogão à lenha feito de tijolos com forno embutido, construído pelo meu pai, de onde ela tirava maravilhas! Pães caseiros de aipim ou batata, biscoitos de natal, patos e marrecos assados, assadeiras com imensos pernis de porco, cucas, bolos, e todas as delícias possíveis da culinária natal. E mesmo com toda aquela cinza, lascas de toras de madeira e carvão, o chão de madeira daquela cozinha era impecavelmente brilhante, encerado, um espelho e testemunha dos maravilhosos almoços servidos por lá.
Mas, de volta às rabanadas, o pão é sempre do mesmo tipo. Algo muito parecido com um pão-bengala, só que menor, mais fino, com casca mais lisa e macia e com a massa mais compacta. Em algumas casas de comércio compram-se os ditos pães com furos por toda a superfície. Fiquei sabendo que é mais compacto para que, ao ser frito, o miolo não retraia e não desmanche, e os furos, para melhor absorver o leite.
Corta-se em rodelas grossas, mergulha-se no leite adoçado (pode ser por açúcar ou leite condensado), espremendo-se um pouco o excesso do leite, passa-se no trigo, em seguida no ovo batido, e frita-se em bastante óleo. E aí está a outra diferença: É depois de frito que se polvilha o quitute, com muito açúcar misturado à canela em pó.
E é só. Simples assim, barato, fácil de fazer e fica muito bom.
Foi um Natal “luso-germânico” ou seria “teuto-português”??? Mas de qualquer forma foi um Feliz Natal, com todos os sentimentos avivados, de lembranças misturadas com nuances de cheiros e sabores de terras distantes que, não se sabe quando e onde, mas um dia fizeram parte das nossas vidas.

Feliz Natal à todos.


texto escrito em 12/2006

O MÁGICO CANTO DAS CIGARRAS




Diz uma canção que “o canto da cigarra acende o verão”. Pois hoje ouvi o primeiro canto de cigarras após quase 6 anos de vácuo total do canto dos passaredos e insetos de verão nas grandes cidades onde vivi.
Estava vindo do trabalho, caminhando calmamente pela calçada no primeiro dia do horário de verão , quando ouvi o canto inconfundível do Natal. Quase não acreditei!! Cigarras em pleno Rio de Janeiro?? Vinha de umas castanheiras em frente a uma escola, perto de casa. Canto forte, contínuo, impregnado de lembrança. Depois desse dia, em plena Candelária, na Presidente Vargas, no centrão do Rio, com trânsito barulhento, fumaça, gente prá lá e prá cá, essa maravilha se repetiu, e fiquei ali, extasiada, alheia à tudo que se passava à minha volta, ouvindo toda aquela “estridência” sobrevivente, como se estivesse na sala de concertos do Teatro Carlos Gomes em Blumenau, ouvindo meus barrocos preferidos.

Na cidade onde nasci o canto das cigarras, abundante naqueles dias da infância, anunciava o tempo de festas de final de ano. Advento, Natal, Dia de Reis, Ano Novo, etc.ocasiões estas em que ser criança era a maravilha das maravilhas.
Era o tempo em que minha mãe aguardava por um agradável dia nublado, um raro dia de dezembro sem muito calor, para assar os deliciosos Biscoitos de Natal e Biscoitos de Mel. Era o início do nosso “tempo de Advento”.
Ambos os biscoitos são tradicionais da culinária alemã de Natal, e hoje, só os encontramos mesmo no sul do país, e, duvido muito que, mesmo lá no sul, alguém ainda se dê ao trabalho de assá-los em casa, já que são um tanto trabalhosos. Todas as feiras-livres, confeitarias e padarias de Blumenau, Pomerode e todas as cidades colonizadas por alemães, os vendem, apesar de não terem mais muita fidelidade de sabor, pois a receita alemã genuína leva “cardamomo”, especiaria que não temos disponível na região.

No entanto, até meados da década de 80, minha mãe gostava de fazê-los em casa, apesar do trabalhão que dava, do calor de dezembro, da gritaria das cigarras, do forno à lenha e dos intermináveis afazeres que a época nos impunha. Em toda família de descendentes de alemães da cidade (e eram muitas), era ponto de honra a dona-de-casa saber fazê-los, e cada qual com sua receita própria, seu toque especial, sua maneira de decorá-los. Isso trazia ao coração de todos, a magia e o espírito dessa época do ano.
Minha mãe não fugia à regra, e deixava tudo à postos, aguardando o tal dia perfeito, nublado ou chuvoso, geralmente quando se ouvia a primeira cigarra da estação, estourando de tanto ciciar no pomar ou nas árvores da vizinhança. A esta solitária cigarra, aos poucos, se uniam outras e mais outras, e isso gerava um coral estridente e ensurdecedor ecoando por toda a rua. Canto desengonçado e engraçado, mas que fazia todo o clima da época, misturado ao calor do verão, dos votos de “boas festas” das casas comerciais nos programas de rádio, das pessoas passando em frente ao nosso portão carregando imensas árvores de natal, do burburinho e ruas enfeitadas, das músicas de Natal cantadas sem compromisso por algum transeunte.
Quando via minha mãe limpando as latas dos últimos farelos de biscoito do ano anterior e pegando grandes bacias e untando formas de “cuca” (outra especialidade alemã), meu olho brilhava: era dada a largada para a época de comer muito biscoito!!!
Hoje existem biscoitos de todos os tipos e sabores possíveis, disponíveis desde os grandes supermercados até vendinhas de beira de estrada, mas na minha infância, os únicos que existiam eram os de maisena, o “Maria” e um tal de “mata-fome”, um bolachão sem graça que realmente matava a fome, pelo tamanho que tinha.
Por isso os biscoitos de Natal eram iguaria muito especial, ansiosamente aguardada e prazerosamente devorada, ainda mais por significar “NATAL” .
O forno à lenha ficava na área onde ficavam a churrasqueira e a garagem, e como era uma área grande e fresca, com uma comprida mesa de canela preta, era lá o lugar onde se desenrolava todo o “ritual mágico”. Formas untadas, massas prontas, era hora de abrí-las no rolo e cortá-las em formas especiais de Natal. Eram feitas de folha de flandres, leves, brilhantes e vazadas, guardadas à sete chaves durante o ano todo, amarradas umas às outras só esperando a hora de serem úteis: tinham a forma de: dois tipos de pinheiros (1 liso e 1 serrilhado), 1 estrela, 1 flor serrilhada, 1 anjo (era o formato que mais gostava pois o biscoito pronto era comprido e fino e cabia diretinho na boca da xícara de café...), 1 coração, 1 boneco de neve, 1 papai-noel e uma roda serrilhada, . Normalmente, minha mãe fazia os biscoitos de mel num só formato: de coração e cobria todos iguais com glacê e bolinhas prateadas, prá distingui-los quando iam para a lata, acho.
E esse era o 2º passo do ritual que eu mais gostava de ajudar a fazer. Minha mãe punha fogo na lenha dentro do forno, e à medida que ia queimando, ela abria grandes porções de massa com um rolo sobre a mesa enfarinhada e eu, saltitante, ia cortando, comendo massa e vibrando com as formas tão natalinas. Logo as formas de cuca iam se enchendo de biscoitinhos. Tudo cortado, forno pronto, lá iam eles para assar. Em poucos minutos o aroma de cravo e sal-amoníaco iam impregnando o ar com cheiro de Natal. Que delícia!
Essa parte do ritual levava praticamente toda a manhã. A parte da tarde estava reservada para a melhor tarefa: decorar os biscoitos!!
Depois de um almoço frugal e de um rápido cochilo, voltávamos, eu e minha mãe, para finalizar o trabalho. Quem cochilava, lógico, era só minha mãe. Eu ficava andando de lá para cá, de olho no relógio e nos biscoitos esfriando, agoniada para recomeçar os “trabalhos”.
Os biscoitos repousavam cheirosos numa bacia de alumínio, uma montanha deles!! Aí tínhamos que tirar, com um pano limpo, os restos de farinha que ficavam sobre os biscoitos. Tudo tinha que ser muito bem tirado para que o glacê não soltasse depois. Após esse serviço, minha mãe começava a bater as claras em neve, juntava o açúcar, batia mais, verificava o ponto, e eu olhava ansiosa, esperando com impaciência que o ponto certo fosse atingido logo. Enfim, no ponto!! Tínhamos vários pratinhos para colocar as maravilhas decorativas: açúcar colorido!!!
Cada pratinho continha uma cor de açúcar diferente, e à medida que minha mãe colocava o glacê no biscoito e o recolocava na forma de cuca, eu pegava punhados de açúcar e espalhava sobre eles. Ficavam lindos. Sujava os dedos de glacê e de açúcar, lambia, ficava com a língua colorida, levava bronca, e assim após horas de trabalho, terminava a árdua, mas deliciosa tarefa. O biscoito era posto novamente no forno, dessa vez morno, só para secar o glacê. Isso exigia de minha mãe um cuidado especial, para que não amarelasse a cobertura, o que para uma descendente de alemães perfeccionista, seria um verdadeiro desastre! Mas como minha mãe era mestra nisso, dava tudo certo sempre.
E assim, ao fim do dia, eu tinha duas grandes latas, cheinhas de biscoitos para comer assistindo televisão, no café da manhã no lanche, antes de dormir, enfim, em qualquer ocasião. A melhor delas era quando o Weihnachtsman (Papai-Noel) chegava e eu, morrendo de medo, oferecia um pratinho com biscoitos à ele. E que felicidade vê-lo comendo do biscoito que eu ajudei a fazer!!!

Hoje, minha filha de 4 anos já está totalmente empenhada na tarefa, pois faço questão de preservar com ela e em casa, essa linda, divertida e deliciosa tradição alemã e dos meus Natais de outrora. Escolho também um dia agradável (raro nessas épocas, no RJ), e mãos à massa!!! Ficamos nós duas na cozinha por uma tarde inteira, curtindo o momento e alimentando suas futuras lembranças. Ela já adora tudo! Que bom!

Tive que garimpar a receita, do jeito que minha mãe fazia, junto à minha amiga Urda Klueger, quando eu ainda morava na Bahia (a quem agradeço eternamente), pois a receita original extraviou-se numa das enchentes que assolaram minha cidade na década de 80, e espero manter por muitos anos a delícia de fazer esse que é um dos mais gostosos símbolos do Natal prá mim.

A receita do WEICHNACHTS PLÄTZSCHEN BY URDA KLUEGER , VERSÃO TÂNIA HASKEL

Massa: (parte fácil)
• 1 Kg de farinha de trigo
• 500 gr de açúcar refinado
• 250 gr. Manteiga
• 6 ovos
• 2 colheres (sopa) de sal-amoníaco
• 1 colher (sopa) de raspas de limão
• 1/2 colher (sopa) de cravo-da-índia moído ou em pó (esse item não encontrei na receita da minha amiga, e na 1ª vez que fiz senti que faltava algo que minha mãe usava na receita dela. Garimpei a geladeira atrás de alguma especiaria que tivesse o aroma que faltava e depois de cheirar canela achei o cravo e reconheci-o como sendo o ingrediente certo. Como não tinha cravo em pó, coloquei os cravinhos num saco e bati com martelo até virarem pó, e prá incrementar na receita, peneirei. Fiz questão de acrescentá-lo na receita da Urda e ficaram idênticos. Eureka!! É como trazer um detalhe palpável da infância através da máquina do tempo).

Modo de fazer: sem mistérios: misturar tudo até formar uma massa que não grude nas mãos. Abrir com rolo, cortar com as forminhas e assar um forno médio por uns 15 min, ou até dourar. Cuidar, pois assam rápido.

Glacê: (parte mais delicada)
• 4 claras
• 18 a 20 colheres cheias (sopa) para cada 2 claras de açúcar refinado ou confeiteiro (parece exagero mas é a continha certa, ficam lindos e perfeitos).
• 6 gotas de limão ou vinagre branco.

Modo de fazer: Bater as claras até o ponto de neve, acrescentando o açúcar aos poucos. Pingar o limão. Se preferir, pingar anilina colorida nesse ponto e soltar a imaginação.
Passar nos biscoitos, decorá-los com confeitos à gosto, levar ao forno com a porta entreaberta, à 270º por exatos 7 minutos. Se tirar do forno antes, fica úmido, se passar do tempo ou fechar totalmente a porta do forno, amarelam...Cuidado, então.

(A receita, o modo de fazer, o tempo no forno do glacê eu testei exaustivamente até atingir o ponto certo porque nenhuma receita que encontrei foi clara nesse ponto. Testei colher por colher de acúcar, minuto por minuto no forno, deu um trabalhão mas compensou. Odiava quando encontrava uma receita boa de glacê e na hora da quantidade de açúcar, dizia: “o quanto baste”. isso lá é medida??????? Essa quantidade de biscoito é para uma família grande. Como na minha, atualmente, só somos em 3, uso a metade dos ingredientes. Dá certinho! Bem, depende do apetite da família...esse ano já fiz a receita 2 vezes...e até o Natal, acho que vou ter que repetir...)

sábado, 14 de novembro de 2009

Papai Noel alemão é São Nicolau




Era uma vez um menino muito bom, que gostava muito de crianças. Com todo o carinho, dedicava-se a eles ensinando-lhes histórias.
E todas as crianças podiam ir à sua casa uma vez por semana para ouvir essas histórias. A casa ficava sempre cheia. Nicolau – era esse o nome do bom menino – tinha uma grande casa, cuidada por um velho servo que tinha como especialidade fazer biscoitos muito gostosos.
No dia da semana em que as crianças vinham para a casa de Nicolau para cantar, fazer música e ouvir histórias, o velho servo preparava muitas fornadas de gostosos biscoitos. E, na época em que as macieiras estavam carregadinhas de maçãs, ia ele também colher um cesto cheio delas. Ao final da tarde, quando as crianças terminavam suas atividades e se despediam, passavam pela cozinha e lá havia sempre biscoitos ou maçãs ou mesmo nozes para elas.
Um dia, certa menina, muito pobrezinha, que vinha sempre às reuniões não compareceu, por estar doente.
Depois que todos se despediram, Nicolau preparou um saquinho com um pouco de cada guloseima e maçãs. Como se a menina morasse muito distante, Nicolau montou seu cavalo para ir mais depressa até lá. Mesmo assim, quando chegou, já estavam todos dormindo. As portas e janelas estavam fechadas. Mas, diante da porta dos fundos, Nicolau viu os sapatos da menina e ali colocou seu presente.
Anos se passaram, as crianças cresceram, casaram, tiveram filhos e os seus filhos também iam à casa de Nicolau aprender versos e canções e ouvir histórias. Mas, Nicolau foi ficando velhinho, muito velhinho. Adoeceu e não pôde mais deixar o leito. Então, as crianças iam todos os dias para lhe cantar canções, para que ele não se sentisse sozinho e triste.
Chegou o dia em que Deus chamou Nicolau e ele morreu. Quando, porém, chegou ao Céu, olhando para baixo e vendo todas aquelas crianças que choravam inconsoláveis, Nicolau pediu para voltar à Terra. Deus lhe disse que isto não era possível.
Mas, por ter sido um homem muito bom, Deus deu a Nicolau a possibilidade de, uma vez por ano, no dia 6 de dezembro, visitar a Terra e a todas as crianças. As crianças boazinhas, é claro! Nesta sua visita são muito poucas as pessoas que o vêem . Por quê? Porque é preciso ter um sentimento muito especial no coração para poder ver alguém como Nicolau.
E quando vem a Terra, vem para alegrar as crianças. Traz para elas maçãs, nozes e biscoitos, e os coloca em seus sapatinhos ou diante de suas portas. E as crianças, o que fazem? Cantam canções e recitam versos. Mas, não esqueçam que Nicolau, durante o ano todinho, olha para Terra e vê cada uma das crianças e tudo o que faz. Ele anota em seu grande livro de ouro as coisas boas e belas e as coisas feias também.
São Nicolau vem visitar a casa das crianças na noite do dia 5 para o dia 6 de dezembro.
Coloca-se um sapatinho ou uma meia na janela ou embaixo do pinheiro, forrá-lo com papel para São Nicolau poder deixar suas dádivas: nozes, castanhas ou avelãs, uma maçã e pão de mel. Para o cavalo branco de São Nicolau colocar uma cenoura e matinho. Não esquecer que o cavalinho come tudinho!

O Natal se aproxima...A faxina de Natal



O profeta João Batista chamava o povo para o arrependimento e ao batismo: “Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do céu está perto”!... e João os batizava no rio Jordão" (Mateus 3.2 e 6). Não se sabe determinar quando iniciou, mas até hoje em certas regiões, na época do advento, as pessoas e famílias fazem uma limpeza interior e externa: avaliam a sua vida e constroem esperanças novas para o futuro e limpam também os seus armários, a casa inteira, os jardins, pintam as casas... etc. Infelizmente esta tradição está comprometida, cada vez menos pessoas têm armários para limparem, casas para pintarem, jardins para cuidarem e poucas encontram tempo ou dão importância para o ritual de arrependimento.

Quando se aproxima o Natal, é quase impossível prá mim não lembrar dos meus Natais da infância, ainda mais agora que estou morando numa cidade que não tem muito a ver com as minhas tradições germânicas de comemorar o Natal.
Bacalhau na ceia? Rabanada? Castanha portuguesa? É tudo muito bom, mas no mínimo destoante com as minhas recordações, repletas de aromas e sabores da terra natal e dos meus tempos madrigais.

Hoje, trabalhando fora, não tenho tempo para fazer sequer uma clássica-pseudo-prévia-genérica “Faxina Natalina”, tradição tão importante quanto a ceia em qualquer casa que prezasse cultivar esse preparativo para a data mais importante do ano.
Tudo era escovado, lavado, repintado, encerado, esfregado, areado, aparado, e todos os “ados” possíveis nessa que era a mais completa limpeza geral, total e irrestrita do ano, e começava já no início de Dezembro, quando as primeiras cigarras davam o ar da graça ou “o sinal da largada” no quintal ou nos postes da rua, que na época, lembro, eram de madeira.
Era uma tradição que nossos antepassados trouxeram da longínqua Europa, e significava a renovação do espírito para um novo ano que viria.
O verão já se fazia sentir, e o calor dificultava algumas tarefas, como encerar o assoalho ou limpar o sótão, mas tinha que ser feito com a seriedade de uma penitência.
Tudo começava com a retirada das cortinas e os tapetes na casa toda. Era tudo levado para a lavanderia, e lá ficariam de molho até a hora da esfregação. Esse talvez fosse o dia mais trabalhoso, já que naquele tempo não tínhamos ainda máquina de lavar roupa, e o que existia na época eram apenas os tachos de ferver roupa e os grandes tanques com as famigeradas tábuas, e para tal tarefa, a força da minha mãe era exigida ao extremo: esfregar cortina por cortina, esfregar os tapetes com escova, torcer tudo, pendurar para secar todos aqueles metros de tecido e pesados tapetes, depois passar e recolocar as cortinas nos trilhos. Ufa!
Enquanto isso, meus irmãos, com uma vassoura de cabo muito longo, tiravam as teia de aranha que persistiam penduradas e quase despercebidas nas cantoneiras do forro da casa. Varriam-se inclusive as paredes para retirar toda a poeira depositada durante esse ano todo.
Alguns dias antes do Natal era a vez do assoalho ser tratado. Era varrido, depois passado um pano úmido. Chegava a vez de passar cera. Eu gostava de fazer essa tarefa, pois adorava o cheiro de cera. Era prá mim, cheirinho de casa limpa., passava em todos os cômodos, canto por canto, tábua por tábua, com uma esponja e de joelhos! Depois de seca, com o esfregão (uma espécie de peso de ferro com cabo) passava o pano de lã por tudo, recompensando-me pelo brilho que surgia. Perfeito! O suor escorria do rosto e pingava no chão, estragando o lustre que fora acabado de ser dado.
E os armários da cozinha, da copa, dos quartos, todos eram esvaziados, limpos e arrumados, impecavelmente!
E havia o sofrido dia de limpar o sótão, lugar abafado e sufocante no verão, mas onde eu adorava ficar nas tardes de inverno quando chovia (amava ouvir os pingos no telhado que era rente à cabeça) para brincar de boneca. Mas nos dias de verão era insuportavelmente quente, impossível de se ficar por 10 minutos sequer. Era onde guardávamos as quinquilharias: camas e colchões em desuso, revistas velhas, malas, sobras de madeira, ferramentas, cobertas de pena, enfim, coisas que não eram usadas no dia-a-dia. Tudo era posto no sol, depois arrumado no lugar. No chão, passava-se apenas um pano encharcado de água e pinho para acabar com a poeira.
Mas era no quintal que a aparência de limpeza mais se ressaltava. Minha mãe cultivava nos fundos do quintal um sortidíssimo pomar e uma horta, obstáculos suficientes para enervar qualquer um que tentasse aparar a grama em volta de todos aqueles pés de fruta. Mas não nessa época! Tudo era feito com a maior parcimônia e alegria, afinal o espírito de Natal já aflorava nos corações de todos. E ao final, a grama aparada era varrida, e os pés de frutas e a horta em evidência naquele tapete verde era uma visão de tirar o fôlego. Cigarras e insetos ficavam alvoroçados com o frescor da grama cortada. Vaga-lumes faziam revoadas ao entardecer enchendo as árvores de pisca-piscas naturais.
A frente e laterais da casa também tinham sua parcela de grama e o que sobressaía depois de tudo pronto eram as folhagens, o pé de jasmim, o ipê amarelo e o pé de chorão, com seus galhos compridíssimos envergando até o chão, e o muro, fustigado por 12 meses de sol e chuva também merecera uma pintura nova.
Dentro de casa a faxina também continuava, dia após dia, um item por vez.
E chegava o dia de lustrar como nunca as vidraças, de passar asa de pato em toda e qualquer frestinha da soleira das janelas. E partia-se à esfregação das escadas, das calçadas, dos globos das lâmpadas e do castiçal da sala, tarefa tão delicada que só uma vez por ano era encarada. E havia ainda o dia soberbo de se fazer os biscoitos de Natal.
Era minha tarefa de todo ano limpar a coleção de canecos de chopp e garrafas de vinho do meu irmão Renato. Ficavam expostas na sala de jantar em várias prateleiras de madeira feitas pelo meu pai. Eram muitas garrafas e a que eu mais gostava era uma em forma de papagaio que continha um licor rosa que nunca bebemos e que a enchente de 1983 deu conta de quebrar. Um desperdício.
Nossa porta da frente da casa era parte madeira e parte vidro, que tinham que ser exaustivamente polidos porque aí é que ficaria nossa coroa de advento, hoje “guirlanda”, no 1º domingo de dezembro. Normalmente feita de galhos de pinheiro, pinhas naturais, fita e bolas, ficava uma beleza quando se acendiam as luzes da sala, toda prosa a enfeitar e mostrar à todos que passavam na rua que ali se comemorava o Natal com tradição.

Depois de muitos e muitos dias de árduas rotinas de “ados” , quando o cansaço dava lugar ao prazer de apreciar a tarefa cumprida, chegava o apogeu, o troféu para todos aqueles dias de trabalho e sacrifício: o dia de montar a árvore de Natal !!! A sala onde ele ficaria estava resplandecente: Assoalho espelhado cheirando a cera, cortinas alvas tremulando ao vento, luz avivada do antigo lustre, tapetes com cores mais vivas, enfim, o palco estava montado e maculadamente limpo. Minha mãe preparava a lata onde a árvore seria plantada, colocando pedaços de tijolos e areia para sustentá-lo. Meu pai, que já havia encomendado o pinheiro há dias, saía para ir buscá-lo. Eu ficava no portão, expectante, esperando ele chegar com aquele “pedaço de felicidade”.
E quando ele chegava, carregando a árvore na bicicleta, mal acreditava, era o êxtase total! Assim que ele atravessava o portão, saía correndo atrás, e tentando alcançá-lo, espetava meus dedinhos nos espinhos do caule do pinheiro. Ui, que dor gostosa!
Aí vinha a tarefa de plantá-la na velha lata de todos os anos, e isso cabia aos dois, pois parecia muito difícil aprumá-la. Às vezes o pinheiro era mais alto que o forro da sala e era preciso cortar uma parte do caule. Ah, era delicioso aquele aroma de árvore viva dentro de casa. Depois de finalmente acertá-lo, minha mãe forrava a lata com um papel de motivos natalinos , limpava o pouco de areia que caíra no chão, aguava a árvore e finalmente... ia buscar as caixas de enfeites. Achava que isso não aconteceria nunca. Eram lindos!! De vidro, feitos artesanalmente, numa fábrica de Pomerode, brilhavam muito, tinham recortes e no interior dos recortes, mais e mais cores e brilhos. Qual criança não delirava com uma visão destas?

E agora, com a casa e a alma lavadas, tudo estava pronto para a grande festa, a comemoração de um memorável nascimento e a visita do “Nicolau” * , enfim.

Roteiro para um natal sem stress













O Natal está se aproximando. Começa aos poucos a correria desenfreada das compras, os preparativos, o trabalho alucinado em virtude das férias, a festa de encerramento na empresa, amigo-secreto, faxina de Natal, começa o estresse!
Hoje, faltando pouco mais de 1 mes para o Natal, Papai Noel já chegou aos Shoppings todos decorados, sobraram as lembranças do Natal passado e aí vem a culpa pelos telefonemas não dados, cartões não enviados, presentes não comprados ou ao inverso – muitos gastos feitos em presentes vãos - me pego à refletir sobre o que deveria fazer para acertar mais nos próximos Natais e não cometer os mesmos erros de sempre, que por falta de um maior e melhor planejamento, acabam por detonar um estopim de improvisos às vezes sem volta...e porque cansei de ficar pensando no que “poderia ter feito”, “porque não o fiz”, e por aí afora...
Então decidi que daqui por diante criarei e seguirei um roteiro que espero, sirva como base de disciplina para os anos seguintes, e que deixarão todos que lerem, e principalmente a mim, mais felizes, descansados e satisfeitos.
Detalhe: isso tudo só deverá ser posto em prática, caso o Natal seja passado em casa, pois viagem transforma tudo em imprevistos, não?!

Então vamos lá, espero não esquecer de nada:


*Pelo menos 6 meses antes: o mais importante * decidir se vai ou não passar o Natal em casa. Claro, porque viagem já cancela uma boa parcela de itens abaixo, sem contar que compromete a festa de encerramento da firma (êba!) - porque sempre resolvo viajar nesse dia. Aí decidir entre fazer ou não fazer árvore de Natal em casa, sem contar com a imprescindível revisão do carro, presentes para os anfitriões, traçar um roteiro de passeios, o que levar nas malas, os lanches, DVDs para as crianças, estudo do mapa, etc... e depois, viagem é entregar-se ao novo, ao imprevisto, é simplesmente seguir os fatos e as paisagens que vão se sucedendo, e afinal, invariavelmente se formos convidados, estamos fora de casa e quem quer que seja o anfitrião, ficará com a maior responsabilidade da festa. À nós, “ilustres visitas”, caberá o apoio logístico necessário como buscar o gelo na esquina, o bolo na confeitaria, levar as crianças para ver as luzes da decoração natalina da cidade visitada, comprar a cerveja e quem sabe ajudar a assar a carne, no mais, é curtir tudo, fotografar tudo, colocar o maiô e a canga, e o melhor de tudo: não precisar se estressar caso a festa não esteja agradando. Isso é lá com o dono da casa...(ops! tudo brincadeirinha...). Adoro rever todo mundo, participar, ajudar, fazer de tudo para divertir e consequentemente me divertir junto. É maravilhoso passar o Natal com a família, ainda mais estando a minha família em Santa Catarina, e estar com família já torna a festa um SUCESSO !!!!
Visto isso, e seguindo a segunda vertente, que é passar o Natal em casa, com ou sem visitas, temos:

•1 mês antes: até essa data, quase ninguém recebeu o 13º salário ainda, o que significa que Shoppings, lojas e “Saaras”-da-vida ainda estão semi-vazios e tranqüilos, época IDEAL para comprar os presentes, que nessa época abundam em variedade. Tenha em mãos a lista. Nada de ficar na dúvida se vai comprar já, que é cedo demais, achar que vai comprar na próxima semana, que vai esperar o preço baixar. Isso não vai acontecer!!! * A ordem é comprar JÁ!!! Imaginem que no ano passado, por absoluta falta de planejamento que ensejou em uma absoluta falta de tempo por conta do trabalho que nessa época aperta, saí na manhã do dia 24/12 para comprar os últimos presentes que faltavam. Conclusão: não achei mais nada apropriado, o que encontrei não tinha a numeração do presenteado ( o que forçosamente o fez ir à loja no dia 26, "p. da vida", para trocar aquilo que foi comprado ao custo de sangue!!!), sem contar o empurra-empurra dos “atrasildos” como eu que esperaram até essa fatídica manhã para ir às compras, e céus! As filas! Quilômetros me separavam da mais próxima caixa registradora. E tive que agüentar, naturalmente, a falta de paciência dos atendentes, que coitados, iriam trabalhar até satisfazer o último mortal que esperasse até às 18:00 hs daquele dia para se lembrar de presentear alguém. E o pior: o almoço atrasou e todo o resto também, como efeito dominó. Planejamento é a base de uma Natal tranqüilo.
*Bolar o cardápio da ceia, pois alguns itens também já podem ser comprados em novembro: as frutas em calda, fermentos novos e a cobertura do bolo (doce-de-leite em lata e fondant ou marschmelow prontos), confeitos, algum complemento para a árvore, frutas secas (nozes, avelãs, castanhas) e as frutas cristalizadas para o Stollen (sempre quis fazê-lo, mas nunca consegui tirá-lo da receita por falta absoluta de tempo – ou programação - e de ingredientes que deixei para comprar na última hora...e não tinha mais...).* Como no RJ não existe “sal-amoníaco”, que é o ingrediente principal dos biscoitos natalinos, é boa época de pedir para uma amiga do sul enviá-lo pelo correio ou comprar pela internet mesmo.
* E por falar em correio, que tal passar por lá para participar do Natal dos Correios, escolhendo uma cartinha com um pedido ao Papai Noel de uma criança carente?
* No 1º domingo de Dezembro, montar uma coroa de Advento para enfeitar a mesa.

•2 semanas antes: *Aproveitar que o clima ainda está fresco e começar uma boa faxina de Natal (lavar as cortinas e janelas, colocar colchões ao sol, limpar armários e geladeira, etc) e * fazer algumas fornadas de biscoitos de Natal. * Escolher entre as roupinhas e os brinquedos em desuso das crianças, o que pode ser doado e encaminhá-los lavados e já embrulhados, e se possível, juntar aí uma bela e completa Cesta-básica. * Comprar cartões de Natal (são tão menos impessoais que uma lista de endereços pronta numa conta de e-mail...). *Hora de preparar o Stollen, * de comprar os enlatados (creme de leite, leite condensado, milho, ervilhas, palmito, pepinos, azeitonas, etc.), leite, canela em pó, farinha, açúcar, chocolate em pó, côco ralado ou fresco, biscoitos champagne, molhos de tomate pronto, maioneses, panetone.
* Pendurar na porta a bota de feltro ou quem sabe um Calendário de Advento e colocar diariamente, uma surpresinha, como uma contagem regressiva para o Natal. * E que tal concretizar aquele antigo sonho de encher um saco de brinquedos e distribuir às crianças carentes???
1 semana antes: * verificar o nível do gás de cozinha, afinal, logo serão feitos assados, bolos, sobremesas, e toda sorte de “acepipes” que dependerão disso para existir * Enviar os cartões de Natal. * Verificar a decoração da casa, que deve ser a mais festiva possível, afinal, tem criança na casa e isso já faz parte do presente – dos pais – deixá-los com os olhos brilhando!! Ocupe-as com trabalhinhos manuais de motivos natalinos para a decoração, para inserir a criança no espírito de Natal.
* Produzir gelo, afinal, nesse clima quente não há ser vivente que sobreviva sem gelo. Aproveitar para botar as bebidas para gelar. *Comprar o peru.
* Embrulhar os presentes, caso a loja não tenha feito esse serviço.
* Montar a árvore e chamar a criançada para ajudar a enfeitar (como se precisasse chamar...).

• 2 dias antes : *Comprar um vaso com bico-de-papagaio para enfeitar e alegrar a entrada da casa. *Colocar CDs e DVDs de Natal para entrar no clima. * Repassar a lista dos ingredientes da ceia e presentes... ôpa! Presentes à essa altura, NÃO!!!

• 1 dia antes: * Ver qual vai ser a roupa da festa. * Bater e assar o bolo. * Dar uma geral na casa. * Dar um rolé no salão de beleza para fazer unha e cabelo* Separar os ingredientes para a sobremesa. * Separar pratos, copos e talheres que serão usados na ceia, limpá-los e poli-los. * Escolher a toalha e enfeites que vão cobrir a mesa da ceia.

• No dia : * de manhã, comprar as frutas, verduras e ervas frescas e colocá-las na geladeira. * Montar a sobremesa. * Faça uma refeição frugal no almoço, nada elaborado. * Começar a assar o peru no início da tarde. * Rechear e cobrir o bolo. * Fazer as rabanadas. * Tomar um banho demorado e relaxante. * Encher as crianças de expectativas quanto à vinda do Papai Noel. * Telefonar para os parentes e amigos para desejar Feliz Natal. Daí em diante é só seguir a maré: beber, cear, abrir presentes, receber amigos, Papai Noel, assistir ao especial de Natal da Globo (u-huuuuu!!) , brincar, e curtir a data magna da Cristandade com muita paz, harmonia e amor nos corações.

• No dia, para os nostálgicos:
Embora tenha seguido algumas coisas desse roteiro, e mesmo assim você vá passar o natal sozinho(a) ou como no ano passado, apenas com marido e filha, longe do restante da família, não caia na tentação piegas da nostalgia de relembrar os Natais da infância, isso é suicídio em pleno dia 24!!. Entendo bem esse sentimento, esse aperto horroroso na garganta ao ouvir música natalina nesse dia, esse vazio que oprime o peito, principalmente com a falta que faz a família toda na mesa da ceia, seja pela distância geográfica, emocional ou simplesmente porque algum membro já não está mais entre nós. Mas é Natal, e o que importa na realidade é o sentimento que Jesus colocou em nossos corações assim que nasceu e que até hoje deve reviver em nós nessa data. A alegria das crianças da casa não pode ser ofuscada com a tristeza das nossas lembranças e fantasmas do passado. Troque o som! Coloque ao invés de “Jingle-Bells” e “Noite Feliz”, um CD de jazz, ou MPB, Axé, Samba, é ótimo, relaxante e dispersa os pensamentos!! Remetem à leveza do Natal do nosso país, à praia, ao verão, cheiro de manga-rosa e abacaxi, fogos e alegria. Dê uma volta no quarteirão, e se for o caso, vista-se de Papai Noel, aproveite e leve alegria para as crianças da sua rua e assista-as desembrulhando presentes, observe a beleza das árvores iluminadas e pense sobre os planos para o Ano Novo, converse com os vizinhos. No retorno, o coração estará certamente mais leve e esse dia já estará mais próximo de acabar e lembre que você, apesar da solidão do dia, é um privilegiado por ter em algum lugar, certamente, alguém a quem amar e quem te ame... E afinal, não é o AMOR o maior símbolo do Natal?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

OS SOLFEJOS DO TEATRO CARLOS GOMES




Uma das coisas que mais gostava de fazer nos dias que antecediam as festas de Natal, por volta dos meus 20 a 30 anos quando ainda morava em Blumenau, era assistir a todos os programas de Natal do Teatro Carlos Gomes. Era um mês de grandes apresentações, todas envoltas naquela mágica atmosfera de euforia mista de alegria que a época revivia.
Sempre adorei aquele Teatro, imponente, cheio de histórias, cheirando a arte e cortinas de palco, com seu constante entra-e-sai de alunos do conservatório de música, som de instrumentos sendo afinados nos ensaios das orquestras, bailarininhas saltitando aqui e ali, artistas famosos cruzando com a gente nos corredores, aquele barzinho onde embalava animados papos com muitos gin-soda rodeada dos mais exotéricos e ripongas amigos, todos envolvidos de alguma forma com aquele prédio suntuoso, contruído na época da 2a Guerra e segundo conta a "lenda", feito para receber, hospedar e esconder o Führer (vou pesquisar mais sobre isso...)em sua "provável" fuga para o Brasil. A seguir, uma pequena história que envolve o teatro.

Pequena "lenda urbana".

Por Carlos Braga Mueller A imponência do prédio que abriga a Sociedade Dramático-Musical Carlos Gomes sempre foi alvo de muitos comentários, principalmente daqueles que atribuem a construção do prédio, na década de 30, aos marcos alemães, supostamente vindos do 3º Reich.
- O livro “O Punhal Nazista no Coração do Brasil”, do Coronel Antônio Lara Ribas, editado nos anos 40 pela Delegacia de Ordem Política e Social de Santa Catarina, órgão que combatia o nazi-fascismo local, cita diversas sociedades e clubes catarinenses que teriam recebido doação em dinheiro da Alemanha.
“Entre elas não consta o nome da Sociedade Teatral Frohsinn”, que durante a segunda guerra. passou a chamar-se Carlos Gomes.
Mas as lendas urbanas perseguem até hoje o Teatro.
- Primeira delas: a fachada seria uma réplica do quepe militar de Hitler. Não há como negar. Basta olhar para se ter esta impressão. O quepe do Fuehrer, ou seja, lá de que general for, pode sim ter inspirado qualquer arquiteto, sem que tivesse havido conotação política no projeto.
Conversando com um cidadão, cujo avô trabalhou nas obras do Teatro Carlos Gomes, ele me disse que o avô contava que de vez em quando arquitetos vinham da Alemanha acompanhar a construção. Teria isto algum significado político? Ou seria apenas um intercâmbio técnico-cultural?
As lendas diziam também que o prédio seria a Sede do 3º Reich na América Latina, se Hitler ganhasse a guerra!
Hitler perdeu. Ficou a lenda!
- Outra questão levantada sobre o prédio do Teatro é a possível existência de um túnel, que ligaria os seus porões a uma saída de emergência.
De alguns anos para cá, muitas reformas foram feitas e nada, absolutamente nada foi encontrado que denotasse escavação ou indícios de um túnel ou coisa parecida. É bem verdade que existem paredes no prédio com espessura de mais de meio metro. Mas, segundo consta, tudo de acordo com o projeto original. É bom lembrar um outro fato que, misturado a esta lenda, pode explicar alguma coisa.
Onde hoje existe a Rua Namy Deeke (transversal que liga a Rua XV à 7 de Setembro), corria um ribeirão.
Com a necessidade de se urbanizar o centro, o ribeirão foi canalizado desde o morro da Rua 7 até o Rio Itajaí Açu.Como o terreno do Teatro Carlos Gomes ficava ao lado do antigo Ribeirão, hoje Rua Namy Deeke, muita gente, que acompanhava a construção da tubulação, que naquele tempo era feita de aço, erguia os olhos e via o Teatro. Tinha tudo para dar a impressão que do Teatro saía um túnel em direção ao Rio Itajaí Açu.
E a lenda vai mais adiante: na barranca um barco veloz estaria sempre a postos, para levar Hitler até um local mais navegável do Rio, onde um submarino aguardava o Fuehrer, para levá-lo são e salvo a outro território do Reino.
Indo mais adiante, subindo o Rio Itajaí Açu, chegando a Ibirama, nos vêm à lembrança outra lenda: Hitler teria autorizado homens de sua confiança, egressos da antiga Companhia Hanseática de Hamburgo, que colonizou Ibirama, a encontrar uma grande área de terras para ali instalar-se no Brasil.
Em 1934, o dirigível Graf Zepellin sobrevoou Blumenau e depois se dirigiu para Hammônia, hoje Ibirama.
A justificativa dada pela Companhia Zepellin foi a de que o comandante da aeronave, Dr. Hugo Eckner, tinha parentes na região e foi até lá para saúda-los.
Dizem as lendas, que Eckner não deu muita importância à missão de mapear algum território para Hitler.
Ficou público e notório o desentendimento que marcou as relações do Fuehrer com o Conde Zepellin até o final da guerra.
Em 1936, Hitler abriu com pompas as Olimpíadas na Alemanha. E exigiu que os dois maiores dirigíveis da Nação, o Graf Zepellin e o Hindenburg, sobrevoassem juntos Berlim, uma verdadeira apoteose do nacional-socialismo alemão.
Pois para conseguir este feito teve que ameaçar o Conde de que, ou os dois dirigíveis voavam em dupla ou a empresa passaria ao controle do Estado! Voaram.
Outra briga entre Zepellin e Hitler foi a colocação da cruz suástica no bojo das aeronaves. Só a muito custo a empresa Zepellin concordou em colocar a suástica nas caudas dos dirigíveis, e mesmo assim bem pequenas. Hitler queria que elas tomassem todo o bojo lateral, mas não conseguiu o intento.

Voltando à Blumenau da minha juventude... Quando chegava dezembro, organizavam-se várias audições com artistas do local, de fora ou mesmo de alunos e professores da Escola de Música, da qual aliás, digo com todo orgulho, fiz parte por alguns anos, do coral e das aulas de piano, com professores como Jorge Radtke, Domingos e Reginaldo Nascimento, embora nunca quizesse me apresentar ... Foi graças à meia bolsa de estudos que a Cia Hering me forneceu, que pude entrar no mundo encantado da música, das artes, e o contato pela 1a vez com os arpejos e solfejos de aulas de teoria musical, com os acordes de um piano Steinway (jóia do Teatro), com as belezas intrincadas nas tramas vocálicas dos corais de Bach e Haendel, enfim, com partituras, música erudita, instrumentos, palco, arte.

Num final de semana havia apresentação do "Quebra Nozes" com o corpo de baile da consagrada escola de dança do teatro, o Pró-Dança, no outro, era a vez das imperdíveis audições de encerramento dos alunos. Num outro havia encenação de peças Natalinas e o "gran-finale", para fechar os festejos com chave de ouro, era com a Orquestra de Câmara de Blumenau e o coral "Ars Sacra" (do qual participei) do próprio teatro. Saíamos desses concertos flutuando numa aura de Natal. Havia sempre casa lotada, todos usando suas melhores roupas, a nata da sociedade blumenauense marcando presença, e toda sorte de pessoas influentes como escritores, músicos e políticos, todos amigos ou conhecidos pois de alguma forma incentiavam a arte que se respirava naqueles corredores de sonho, e todo ano era a mesma coisa, sempre aquela apoteose de arte misturada com clima de festa, cordialidade, desfrute. Nas cochias, nos camarotes, no palco, na platéia, todos eram iguais e felizes perante aqueles momentos impregnados de beleza e luz. Era como participar de uma missa dominical, onde acabado o culto, todos saíam sorridentes, se cumprimentando, desejando sinceramente o melhor que seus corações poderiam desejar. Na saída, todos corríamos para os camarins para cumprimentar e agradecer aos artistas que nos abrilhantavam com tamanha magia.
Tive o privilégio de assistir grandes obras ali, desde "O Messias" de Haendel ao "Oratório de Natal" de Bach, concertos de Natal diversos, cujos acordes ainda frescos em minha memória, me trazem todo o peso da nostalgia que remontam essa fase deslumbrante da minha vida.

domingo, 15 de novembro de 2009

Natal de Rabanadas





Perdoem-me meus compatriotas sulistas, catarinenses de origem germânica. É claro que, mesmo morando fora do meu estado, procurei manter no Natal a tradição da terra natal com tentativas de “Honigplätzschen” e os “Weichnachts plätzschen” (biscoitinhos de Natal e de Mel), mas nesse ano inovei o cardápio tradicional alemão com a introdução de um acepipe de origem portuguesa “com certeza”: a rabanada.
Explico: meu marido, apesar de paraense de Santarém, veio para o Rio de Janeiro com 6 meses de idade e como todos sabem, o Rio tem muito arraigada a tradição portuguesa, povo colonizador dessa terra. Então, desde a mais tenra infância, é a rabanada que tem o gosto do Natal prá ele, como para nós, os descendentes de alemães, Natal só é Natal se tiver no ar aquele aroma inconfundível de pinheiro natural na sala e cheiro de cravo moído no biscoito natalino assando.
Eis que ele, na véspera de natal de 2006, chega da rua com algumas compras de última hora : abacaxis, frutas secas, refrigerantes para a ceia e um embrulho com dois pães compridos, que descobri depois, eram para eu fazer a tal rabanada. E agora? Nunca as fiz! E não tinha nenhuma receita e nem ele as sabia fazer.
O jeito foi apelar para a internet procurar a “salvação”. Descobri então, que a tal rabanada nada mais é do que uma variação do que nossas mães faziam com pão velho ou seco, quando tinham dó de jogá-lo fora: passavam as fatias no ovo batido com açúcar e canela e o fritavam, às fatias. Eram as tais “fatias-do-céu”. Ficavam uma delícia, não?
Então era só isso? Simples assim? Nada mais elaborado?
Foi aí que pesquisando melhor, percebi que a rabanada tem lá suas diferenças, “ó, pá” ! A começar pelo sentimento.
O aproveitamento do pão velho de nossas mães tinha de alguma forma, o objetivo nobre de santificar o pão, hábito cultivado, acredito, na visão impensável de um pedaço sequer jogado na lata do lixo. Hoje em dia, essa reverência em mim bate tão forte, que se for imperioso jogar um pedaço de pão fora, nunca o faço sem beijá-lo antes.
No Natal em Portugal, além do “pitéu” não ser de pão velho, é tido como tradição na mesa da ceia natalina, costume talvez obtido e amplamente incentivado devido ao aroma inebriante e irresistível de canela e açúcar que se espalhava pelas cozinhas lusitanas do passado.
Se o Natal alemão cheira à cravo moído e folha fresca de pinheiro, o português, acredito, exala aroma de rabanada. Vemos, pois, que os aromas impregnados de lembranças se entrelaçam nas misturas.
Voltando ao avental... A diferença maior, acho, consiste no tipo de pão usado.
Para a rabanada existe um pão específico. O de nossas mães era qualquer um que passasse do tempo, e na maioria das vezes era pão caseiro, que elas mesmas faziam no forno à lenha. Minha mãe tinha na cozinha, como toda boa cozinha de descendente alemão, um fogão à lenha feito de tijolos com forno embutido, construído pelo meu pai, de onde ela tirava maravilhas! Pães caseiros de aipim ou batata, biscoitos de natal, patos e marrecos assados, assadeiras com imensos pernis de porco, cucas, bolos, e todas as delícias possíveis da culinária natal. E mesmo com toda aquela cinza, lascas de toras de madeira e carvão, o chão de madeira daquela cozinha era impecavelmente brilhante, encerado, um espelho e testemunha dos maravilhosos almoços servidos por lá.
Mas, de volta às rabanadas, o pão é sempre do mesmo tipo. Algo muito parecido com um pão-bengala, só que menor, mais fino, com casca mais lisa e macia e com a massa mais compacta. Em algumas casas de comércio compram-se os ditos pães com furos por toda a superfície. Fiquei sabendo que é mais compacto para que, ao ser frito, o miolo não retraia e não desmanche, e os furos, para melhor absorver o leite.
Corta-se em rodelas grossas, mergulha-se no leite adoçado (pode ser por açúcar ou leite condensado), espremendo-se um pouco o excesso do leite, passa-se no trigo, em seguida no ovo batido, e frita-se em bastante óleo. E aí está a outra diferença: É depois de frito que se polvilha o quitute, com muito açúcar misturado à canela em pó.
E é só. Simples assim, barato, fácil de fazer e fica muito bom.
Foi um Natal “luso-germânico” ou seria “teuto-português”??? Mas de qualquer forma foi um Feliz Natal, com todos os sentimentos avivados, de lembranças misturadas com nuances de cheiros e sabores de terras distantes que, não se sabe quando e onde, mas um dia fizeram parte das nossas vidas.

Feliz Natal à todos.


texto escrito em 12/2006

O MÁGICO CANTO DAS CIGARRAS




Diz uma canção que “o canto da cigarra acende o verão”. Pois hoje ouvi o primeiro canto de cigarras após quase 6 anos de vácuo total do canto dos passaredos e insetos de verão nas grandes cidades onde vivi.
Estava vindo do trabalho, caminhando calmamente pela calçada no primeiro dia do horário de verão , quando ouvi o canto inconfundível do Natal. Quase não acreditei!! Cigarras em pleno Rio de Janeiro?? Vinha de umas castanheiras em frente a uma escola, perto de casa. Canto forte, contínuo, impregnado de lembrança. Depois desse dia, em plena Candelária, na Presidente Vargas, no centrão do Rio, com trânsito barulhento, fumaça, gente prá lá e prá cá, essa maravilha se repetiu, e fiquei ali, extasiada, alheia à tudo que se passava à minha volta, ouvindo toda aquela “estridência” sobrevivente, como se estivesse na sala de concertos do Teatro Carlos Gomes em Blumenau, ouvindo meus barrocos preferidos.

Na cidade onde nasci o canto das cigarras, abundante naqueles dias da infância, anunciava o tempo de festas de final de ano. Advento, Natal, Dia de Reis, Ano Novo, etc.ocasiões estas em que ser criança era a maravilha das maravilhas.
Era o tempo em que minha mãe aguardava por um agradável dia nublado, um raro dia de dezembro sem muito calor, para assar os deliciosos Biscoitos de Natal e Biscoitos de Mel. Era o início do nosso “tempo de Advento”.
Ambos os biscoitos são tradicionais da culinária alemã de Natal, e hoje, só os encontramos mesmo no sul do país, e, duvido muito que, mesmo lá no sul, alguém ainda se dê ao trabalho de assá-los em casa, já que são um tanto trabalhosos. Todas as feiras-livres, confeitarias e padarias de Blumenau, Pomerode e todas as cidades colonizadas por alemães, os vendem, apesar de não terem mais muita fidelidade de sabor, pois a receita alemã genuína leva “cardamomo”, especiaria que não temos disponível na região.

No entanto, até meados da década de 80, minha mãe gostava de fazê-los em casa, apesar do trabalhão que dava, do calor de dezembro, da gritaria das cigarras, do forno à lenha e dos intermináveis afazeres que a época nos impunha. Em toda família de descendentes de alemães da cidade (e eram muitas), era ponto de honra a dona-de-casa saber fazê-los, e cada qual com sua receita própria, seu toque especial, sua maneira de decorá-los. Isso trazia ao coração de todos, a magia e o espírito dessa época do ano.
Minha mãe não fugia à regra, e deixava tudo à postos, aguardando o tal dia perfeito, nublado ou chuvoso, geralmente quando se ouvia a primeira cigarra da estação, estourando de tanto ciciar no pomar ou nas árvores da vizinhança. A esta solitária cigarra, aos poucos, se uniam outras e mais outras, e isso gerava um coral estridente e ensurdecedor ecoando por toda a rua. Canto desengonçado e engraçado, mas que fazia todo o clima da época, misturado ao calor do verão, dos votos de “boas festas” das casas comerciais nos programas de rádio, das pessoas passando em frente ao nosso portão carregando imensas árvores de natal, do burburinho e ruas enfeitadas, das músicas de Natal cantadas sem compromisso por algum transeunte.
Quando via minha mãe limpando as latas dos últimos farelos de biscoito do ano anterior e pegando grandes bacias e untando formas de “cuca” (outra especialidade alemã), meu olho brilhava: era dada a largada para a época de comer muito biscoito!!!
Hoje existem biscoitos de todos os tipos e sabores possíveis, disponíveis desde os grandes supermercados até vendinhas de beira de estrada, mas na minha infância, os únicos que existiam eram os de maisena, o “Maria” e um tal de “mata-fome”, um bolachão sem graça que realmente matava a fome, pelo tamanho que tinha.
Por isso os biscoitos de Natal eram iguaria muito especial, ansiosamente aguardada e prazerosamente devorada, ainda mais por significar “NATAL” .
O forno à lenha ficava na área onde ficavam a churrasqueira e a garagem, e como era uma área grande e fresca, com uma comprida mesa de canela preta, era lá o lugar onde se desenrolava todo o “ritual mágico”. Formas untadas, massas prontas, era hora de abrí-las no rolo e cortá-las em formas especiais de Natal. Eram feitas de folha de flandres, leves, brilhantes e vazadas, guardadas à sete chaves durante o ano todo, amarradas umas às outras só esperando a hora de serem úteis: tinham a forma de: dois tipos de pinheiros (1 liso e 1 serrilhado), 1 estrela, 1 flor serrilhada, 1 anjo (era o formato que mais gostava pois o biscoito pronto era comprido e fino e cabia diretinho na boca da xícara de café...), 1 coração, 1 boneco de neve, 1 papai-noel e uma roda serrilhada, . Normalmente, minha mãe fazia os biscoitos de mel num só formato: de coração e cobria todos iguais com glacê e bolinhas prateadas, prá distingui-los quando iam para a lata, acho.
E esse era o 2º passo do ritual que eu mais gostava de ajudar a fazer. Minha mãe punha fogo na lenha dentro do forno, e à medida que ia queimando, ela abria grandes porções de massa com um rolo sobre a mesa enfarinhada e eu, saltitante, ia cortando, comendo massa e vibrando com as formas tão natalinas. Logo as formas de cuca iam se enchendo de biscoitinhos. Tudo cortado, forno pronto, lá iam eles para assar. Em poucos minutos o aroma de cravo e sal-amoníaco iam impregnando o ar com cheiro de Natal. Que delícia!
Essa parte do ritual levava praticamente toda a manhã. A parte da tarde estava reservada para a melhor tarefa: decorar os biscoitos!!
Depois de um almoço frugal e de um rápido cochilo, voltávamos, eu e minha mãe, para finalizar o trabalho. Quem cochilava, lógico, era só minha mãe. Eu ficava andando de lá para cá, de olho no relógio e nos biscoitos esfriando, agoniada para recomeçar os “trabalhos”.
Os biscoitos repousavam cheirosos numa bacia de alumínio, uma montanha deles!! Aí tínhamos que tirar, com um pano limpo, os restos de farinha que ficavam sobre os biscoitos. Tudo tinha que ser muito bem tirado para que o glacê não soltasse depois. Após esse serviço, minha mãe começava a bater as claras em neve, juntava o açúcar, batia mais, verificava o ponto, e eu olhava ansiosa, esperando com impaciência que o ponto certo fosse atingido logo. Enfim, no ponto!! Tínhamos vários pratinhos para colocar as maravilhas decorativas: açúcar colorido!!!
Cada pratinho continha uma cor de açúcar diferente, e à medida que minha mãe colocava o glacê no biscoito e o recolocava na forma de cuca, eu pegava punhados de açúcar e espalhava sobre eles. Ficavam lindos. Sujava os dedos de glacê e de açúcar, lambia, ficava com a língua colorida, levava bronca, e assim após horas de trabalho, terminava a árdua, mas deliciosa tarefa. O biscoito era posto novamente no forno, dessa vez morno, só para secar o glacê. Isso exigia de minha mãe um cuidado especial, para que não amarelasse a cobertura, o que para uma descendente de alemães perfeccionista, seria um verdadeiro desastre! Mas como minha mãe era mestra nisso, dava tudo certo sempre.
E assim, ao fim do dia, eu tinha duas grandes latas, cheinhas de biscoitos para comer assistindo televisão, no café da manhã no lanche, antes de dormir, enfim, em qualquer ocasião. A melhor delas era quando o Weihnachtsman (Papai-Noel) chegava e eu, morrendo de medo, oferecia um pratinho com biscoitos à ele. E que felicidade vê-lo comendo do biscoito que eu ajudei a fazer!!!

Hoje, minha filha de 4 anos já está totalmente empenhada na tarefa, pois faço questão de preservar com ela e em casa, essa linda, divertida e deliciosa tradição alemã e dos meus Natais de outrora. Escolho também um dia agradável (raro nessas épocas, no RJ), e mãos à massa!!! Ficamos nós duas na cozinha por uma tarde inteira, curtindo o momento e alimentando suas futuras lembranças. Ela já adora tudo! Que bom!

Tive que garimpar a receita, do jeito que minha mãe fazia, junto à minha amiga Urda Klueger, quando eu ainda morava na Bahia (a quem agradeço eternamente), pois a receita original extraviou-se numa das enchentes que assolaram minha cidade na década de 80, e espero manter por muitos anos a delícia de fazer esse que é um dos mais gostosos símbolos do Natal prá mim.

A receita do WEICHNACHTS PLÄTZSCHEN BY URDA KLUEGER , VERSÃO TÂNIA HASKEL

Massa: (parte fácil)
• 1 Kg de farinha de trigo
• 500 gr de açúcar refinado
• 250 gr. Manteiga
• 6 ovos
• 2 colheres (sopa) de sal-amoníaco
• 1 colher (sopa) de raspas de limão
• 1/2 colher (sopa) de cravo-da-índia moído ou em pó (esse item não encontrei na receita da minha amiga, e na 1ª vez que fiz senti que faltava algo que minha mãe usava na receita dela. Garimpei a geladeira atrás de alguma especiaria que tivesse o aroma que faltava e depois de cheirar canela achei o cravo e reconheci-o como sendo o ingrediente certo. Como não tinha cravo em pó, coloquei os cravinhos num saco e bati com martelo até virarem pó, e prá incrementar na receita, peneirei. Fiz questão de acrescentá-lo na receita da Urda e ficaram idênticos. Eureka!! É como trazer um detalhe palpável da infância através da máquina do tempo).

Modo de fazer: sem mistérios: misturar tudo até formar uma massa que não grude nas mãos. Abrir com rolo, cortar com as forminhas e assar um forno médio por uns 15 min, ou até dourar. Cuidar, pois assam rápido.

Glacê: (parte mais delicada)
• 4 claras
• 18 a 20 colheres cheias (sopa) para cada 2 claras de açúcar refinado ou confeiteiro (parece exagero mas é a continha certa, ficam lindos e perfeitos).
• 6 gotas de limão ou vinagre branco.

Modo de fazer: Bater as claras até o ponto de neve, acrescentando o açúcar aos poucos. Pingar o limão. Se preferir, pingar anilina colorida nesse ponto e soltar a imaginação.
Passar nos biscoitos, decorá-los com confeitos à gosto, levar ao forno com a porta entreaberta, à 270º por exatos 7 minutos. Se tirar do forno antes, fica úmido, se passar do tempo ou fechar totalmente a porta do forno, amarelam...Cuidado, então.

(A receita, o modo de fazer, o tempo no forno do glacê eu testei exaustivamente até atingir o ponto certo porque nenhuma receita que encontrei foi clara nesse ponto. Testei colher por colher de acúcar, minuto por minuto no forno, deu um trabalhão mas compensou. Odiava quando encontrava uma receita boa de glacê e na hora da quantidade de açúcar, dizia: “o quanto baste”. isso lá é medida??????? Essa quantidade de biscoito é para uma família grande. Como na minha, atualmente, só somos em 3, uso a metade dos ingredientes. Dá certinho! Bem, depende do apetite da família...esse ano já fiz a receita 2 vezes...e até o Natal, acho que vou ter que repetir...)

sábado, 14 de novembro de 2009

Papai Noel alemão é São Nicolau




Era uma vez um menino muito bom, que gostava muito de crianças. Com todo o carinho, dedicava-se a eles ensinando-lhes histórias.
E todas as crianças podiam ir à sua casa uma vez por semana para ouvir essas histórias. A casa ficava sempre cheia. Nicolau – era esse o nome do bom menino – tinha uma grande casa, cuidada por um velho servo que tinha como especialidade fazer biscoitos muito gostosos.
No dia da semana em que as crianças vinham para a casa de Nicolau para cantar, fazer música e ouvir histórias, o velho servo preparava muitas fornadas de gostosos biscoitos. E, na época em que as macieiras estavam carregadinhas de maçãs, ia ele também colher um cesto cheio delas. Ao final da tarde, quando as crianças terminavam suas atividades e se despediam, passavam pela cozinha e lá havia sempre biscoitos ou maçãs ou mesmo nozes para elas.
Um dia, certa menina, muito pobrezinha, que vinha sempre às reuniões não compareceu, por estar doente.
Depois que todos se despediram, Nicolau preparou um saquinho com um pouco de cada guloseima e maçãs. Como se a menina morasse muito distante, Nicolau montou seu cavalo para ir mais depressa até lá. Mesmo assim, quando chegou, já estavam todos dormindo. As portas e janelas estavam fechadas. Mas, diante da porta dos fundos, Nicolau viu os sapatos da menina e ali colocou seu presente.
Anos se passaram, as crianças cresceram, casaram, tiveram filhos e os seus filhos também iam à casa de Nicolau aprender versos e canções e ouvir histórias. Mas, Nicolau foi ficando velhinho, muito velhinho. Adoeceu e não pôde mais deixar o leito. Então, as crianças iam todos os dias para lhe cantar canções, para que ele não se sentisse sozinho e triste.
Chegou o dia em que Deus chamou Nicolau e ele morreu. Quando, porém, chegou ao Céu, olhando para baixo e vendo todas aquelas crianças que choravam inconsoláveis, Nicolau pediu para voltar à Terra. Deus lhe disse que isto não era possível.
Mas, por ter sido um homem muito bom, Deus deu a Nicolau a possibilidade de, uma vez por ano, no dia 6 de dezembro, visitar a Terra e a todas as crianças. As crianças boazinhas, é claro! Nesta sua visita são muito poucas as pessoas que o vêem . Por quê? Porque é preciso ter um sentimento muito especial no coração para poder ver alguém como Nicolau.
E quando vem a Terra, vem para alegrar as crianças. Traz para elas maçãs, nozes e biscoitos, e os coloca em seus sapatinhos ou diante de suas portas. E as crianças, o que fazem? Cantam canções e recitam versos. Mas, não esqueçam que Nicolau, durante o ano todinho, olha para Terra e vê cada uma das crianças e tudo o que faz. Ele anota em seu grande livro de ouro as coisas boas e belas e as coisas feias também.
São Nicolau vem visitar a casa das crianças na noite do dia 5 para o dia 6 de dezembro.
Coloca-se um sapatinho ou uma meia na janela ou embaixo do pinheiro, forrá-lo com papel para São Nicolau poder deixar suas dádivas: nozes, castanhas ou avelãs, uma maçã e pão de mel. Para o cavalo branco de São Nicolau colocar uma cenoura e matinho. Não esquecer que o cavalinho come tudinho!

O Natal se aproxima...A faxina de Natal



O profeta João Batista chamava o povo para o arrependimento e ao batismo: “Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do céu está perto”!... e João os batizava no rio Jordão" (Mateus 3.2 e 6). Não se sabe determinar quando iniciou, mas até hoje em certas regiões, na época do advento, as pessoas e famílias fazem uma limpeza interior e externa: avaliam a sua vida e constroem esperanças novas para o futuro e limpam também os seus armários, a casa inteira, os jardins, pintam as casas... etc. Infelizmente esta tradição está comprometida, cada vez menos pessoas têm armários para limparem, casas para pintarem, jardins para cuidarem e poucas encontram tempo ou dão importância para o ritual de arrependimento.

Quando se aproxima o Natal, é quase impossível prá mim não lembrar dos meus Natais da infância, ainda mais agora que estou morando numa cidade que não tem muito a ver com as minhas tradições germânicas de comemorar o Natal.
Bacalhau na ceia? Rabanada? Castanha portuguesa? É tudo muito bom, mas no mínimo destoante com as minhas recordações, repletas de aromas e sabores da terra natal e dos meus tempos madrigais.

Hoje, trabalhando fora, não tenho tempo para fazer sequer uma clássica-pseudo-prévia-genérica “Faxina Natalina”, tradição tão importante quanto a ceia em qualquer casa que prezasse cultivar esse preparativo para a data mais importante do ano.
Tudo era escovado, lavado, repintado, encerado, esfregado, areado, aparado, e todos os “ados” possíveis nessa que era a mais completa limpeza geral, total e irrestrita do ano, e começava já no início de Dezembro, quando as primeiras cigarras davam o ar da graça ou “o sinal da largada” no quintal ou nos postes da rua, que na época, lembro, eram de madeira.
Era uma tradição que nossos antepassados trouxeram da longínqua Europa, e significava a renovação do espírito para um novo ano que viria.
O verão já se fazia sentir, e o calor dificultava algumas tarefas, como encerar o assoalho ou limpar o sótão, mas tinha que ser feito com a seriedade de uma penitência.
Tudo começava com a retirada das cortinas e os tapetes na casa toda. Era tudo levado para a lavanderia, e lá ficariam de molho até a hora da esfregação. Esse talvez fosse o dia mais trabalhoso, já que naquele tempo não tínhamos ainda máquina de lavar roupa, e o que existia na época eram apenas os tachos de ferver roupa e os grandes tanques com as famigeradas tábuas, e para tal tarefa, a força da minha mãe era exigida ao extremo: esfregar cortina por cortina, esfregar os tapetes com escova, torcer tudo, pendurar para secar todos aqueles metros de tecido e pesados tapetes, depois passar e recolocar as cortinas nos trilhos. Ufa!
Enquanto isso, meus irmãos, com uma vassoura de cabo muito longo, tiravam as teia de aranha que persistiam penduradas e quase despercebidas nas cantoneiras do forro da casa. Varriam-se inclusive as paredes para retirar toda a poeira depositada durante esse ano todo.
Alguns dias antes do Natal era a vez do assoalho ser tratado. Era varrido, depois passado um pano úmido. Chegava a vez de passar cera. Eu gostava de fazer essa tarefa, pois adorava o cheiro de cera. Era prá mim, cheirinho de casa limpa., passava em todos os cômodos, canto por canto, tábua por tábua, com uma esponja e de joelhos! Depois de seca, com o esfregão (uma espécie de peso de ferro com cabo) passava o pano de lã por tudo, recompensando-me pelo brilho que surgia. Perfeito! O suor escorria do rosto e pingava no chão, estragando o lustre que fora acabado de ser dado.
E os armários da cozinha, da copa, dos quartos, todos eram esvaziados, limpos e arrumados, impecavelmente!
E havia o sofrido dia de limpar o sótão, lugar abafado e sufocante no verão, mas onde eu adorava ficar nas tardes de inverno quando chovia (amava ouvir os pingos no telhado que era rente à cabeça) para brincar de boneca. Mas nos dias de verão era insuportavelmente quente, impossível de se ficar por 10 minutos sequer. Era onde guardávamos as quinquilharias: camas e colchões em desuso, revistas velhas, malas, sobras de madeira, ferramentas, cobertas de pena, enfim, coisas que não eram usadas no dia-a-dia. Tudo era posto no sol, depois arrumado no lugar. No chão, passava-se apenas um pano encharcado de água e pinho para acabar com a poeira.
Mas era no quintal que a aparência de limpeza mais se ressaltava. Minha mãe cultivava nos fundos do quintal um sortidíssimo pomar e uma horta, obstáculos suficientes para enervar qualquer um que tentasse aparar a grama em volta de todos aqueles pés de fruta. Mas não nessa época! Tudo era feito com a maior parcimônia e alegria, afinal o espírito de Natal já aflorava nos corações de todos. E ao final, a grama aparada era varrida, e os pés de frutas e a horta em evidência naquele tapete verde era uma visão de tirar o fôlego. Cigarras e insetos ficavam alvoroçados com o frescor da grama cortada. Vaga-lumes faziam revoadas ao entardecer enchendo as árvores de pisca-piscas naturais.
A frente e laterais da casa também tinham sua parcela de grama e o que sobressaía depois de tudo pronto eram as folhagens, o pé de jasmim, o ipê amarelo e o pé de chorão, com seus galhos compridíssimos envergando até o chão, e o muro, fustigado por 12 meses de sol e chuva também merecera uma pintura nova.
Dentro de casa a faxina também continuava, dia após dia, um item por vez.
E chegava o dia de lustrar como nunca as vidraças, de passar asa de pato em toda e qualquer frestinha da soleira das janelas. E partia-se à esfregação das escadas, das calçadas, dos globos das lâmpadas e do castiçal da sala, tarefa tão delicada que só uma vez por ano era encarada. E havia ainda o dia soberbo de se fazer os biscoitos de Natal.
Era minha tarefa de todo ano limpar a coleção de canecos de chopp e garrafas de vinho do meu irmão Renato. Ficavam expostas na sala de jantar em várias prateleiras de madeira feitas pelo meu pai. Eram muitas garrafas e a que eu mais gostava era uma em forma de papagaio que continha um licor rosa que nunca bebemos e que a enchente de 1983 deu conta de quebrar. Um desperdício.
Nossa porta da frente da casa era parte madeira e parte vidro, que tinham que ser exaustivamente polidos porque aí é que ficaria nossa coroa de advento, hoje “guirlanda”, no 1º domingo de dezembro. Normalmente feita de galhos de pinheiro, pinhas naturais, fita e bolas, ficava uma beleza quando se acendiam as luzes da sala, toda prosa a enfeitar e mostrar à todos que passavam na rua que ali se comemorava o Natal com tradição.

Depois de muitos e muitos dias de árduas rotinas de “ados” , quando o cansaço dava lugar ao prazer de apreciar a tarefa cumprida, chegava o apogeu, o troféu para todos aqueles dias de trabalho e sacrifício: o dia de montar a árvore de Natal !!! A sala onde ele ficaria estava resplandecente: Assoalho espelhado cheirando a cera, cortinas alvas tremulando ao vento, luz avivada do antigo lustre, tapetes com cores mais vivas, enfim, o palco estava montado e maculadamente limpo. Minha mãe preparava a lata onde a árvore seria plantada, colocando pedaços de tijolos e areia para sustentá-lo. Meu pai, que já havia encomendado o pinheiro há dias, saía para ir buscá-lo. Eu ficava no portão, expectante, esperando ele chegar com aquele “pedaço de felicidade”.
E quando ele chegava, carregando a árvore na bicicleta, mal acreditava, era o êxtase total! Assim que ele atravessava o portão, saía correndo atrás, e tentando alcançá-lo, espetava meus dedinhos nos espinhos do caule do pinheiro. Ui, que dor gostosa!
Aí vinha a tarefa de plantá-la na velha lata de todos os anos, e isso cabia aos dois, pois parecia muito difícil aprumá-la. Às vezes o pinheiro era mais alto que o forro da sala e era preciso cortar uma parte do caule. Ah, era delicioso aquele aroma de árvore viva dentro de casa. Depois de finalmente acertá-lo, minha mãe forrava a lata com um papel de motivos natalinos , limpava o pouco de areia que caíra no chão, aguava a árvore e finalmente... ia buscar as caixas de enfeites. Achava que isso não aconteceria nunca. Eram lindos!! De vidro, feitos artesanalmente, numa fábrica de Pomerode, brilhavam muito, tinham recortes e no interior dos recortes, mais e mais cores e brilhos. Qual criança não delirava com uma visão destas?

E agora, com a casa e a alma lavadas, tudo estava pronto para a grande festa, a comemoração de um memorável nascimento e a visita do “Nicolau” * , enfim.

Roteiro para um natal sem stress













O Natal está se aproximando. Começa aos poucos a correria desenfreada das compras, os preparativos, o trabalho alucinado em virtude das férias, a festa de encerramento na empresa, amigo-secreto, faxina de Natal, começa o estresse!
Hoje, faltando pouco mais de 1 mes para o Natal, Papai Noel já chegou aos Shoppings todos decorados, sobraram as lembranças do Natal passado e aí vem a culpa pelos telefonemas não dados, cartões não enviados, presentes não comprados ou ao inverso – muitos gastos feitos em presentes vãos - me pego à refletir sobre o que deveria fazer para acertar mais nos próximos Natais e não cometer os mesmos erros de sempre, que por falta de um maior e melhor planejamento, acabam por detonar um estopim de improvisos às vezes sem volta...e porque cansei de ficar pensando no que “poderia ter feito”, “porque não o fiz”, e por aí afora...
Então decidi que daqui por diante criarei e seguirei um roteiro que espero, sirva como base de disciplina para os anos seguintes, e que deixarão todos que lerem, e principalmente a mim, mais felizes, descansados e satisfeitos.
Detalhe: isso tudo só deverá ser posto em prática, caso o Natal seja passado em casa, pois viagem transforma tudo em imprevistos, não?!

Então vamos lá, espero não esquecer de nada:


*Pelo menos 6 meses antes: o mais importante * decidir se vai ou não passar o Natal em casa. Claro, porque viagem já cancela uma boa parcela de itens abaixo, sem contar que compromete a festa de encerramento da firma (êba!) - porque sempre resolvo viajar nesse dia. Aí decidir entre fazer ou não fazer árvore de Natal em casa, sem contar com a imprescindível revisão do carro, presentes para os anfitriões, traçar um roteiro de passeios, o que levar nas malas, os lanches, DVDs para as crianças, estudo do mapa, etc... e depois, viagem é entregar-se ao novo, ao imprevisto, é simplesmente seguir os fatos e as paisagens que vão se sucedendo, e afinal, invariavelmente se formos convidados, estamos fora de casa e quem quer que seja o anfitrião, ficará com a maior responsabilidade da festa. À nós, “ilustres visitas”, caberá o apoio logístico necessário como buscar o gelo na esquina, o bolo na confeitaria, levar as crianças para ver as luzes da decoração natalina da cidade visitada, comprar a cerveja e quem sabe ajudar a assar a carne, no mais, é curtir tudo, fotografar tudo, colocar o maiô e a canga, e o melhor de tudo: não precisar se estressar caso a festa não esteja agradando. Isso é lá com o dono da casa...(ops! tudo brincadeirinha...). Adoro rever todo mundo, participar, ajudar, fazer de tudo para divertir e consequentemente me divertir junto. É maravilhoso passar o Natal com a família, ainda mais estando a minha família em Santa Catarina, e estar com família já torna a festa um SUCESSO !!!!
Visto isso, e seguindo a segunda vertente, que é passar o Natal em casa, com ou sem visitas, temos:

•1 mês antes: até essa data, quase ninguém recebeu o 13º salário ainda, o que significa que Shoppings, lojas e “Saaras”-da-vida ainda estão semi-vazios e tranqüilos, época IDEAL para comprar os presentes, que nessa época abundam em variedade. Tenha em mãos a lista. Nada de ficar na dúvida se vai comprar já, que é cedo demais, achar que vai comprar na próxima semana, que vai esperar o preço baixar. Isso não vai acontecer!!! * A ordem é comprar JÁ!!! Imaginem que no ano passado, por absoluta falta de planejamento que ensejou em uma absoluta falta de tempo por conta do trabalho que nessa época aperta, saí na manhã do dia 24/12 para comprar os últimos presentes que faltavam. Conclusão: não achei mais nada apropriado, o que encontrei não tinha a numeração do presenteado ( o que forçosamente o fez ir à loja no dia 26, "p. da vida", para trocar aquilo que foi comprado ao custo de sangue!!!), sem contar o empurra-empurra dos “atrasildos” como eu que esperaram até essa fatídica manhã para ir às compras, e céus! As filas! Quilômetros me separavam da mais próxima caixa registradora. E tive que agüentar, naturalmente, a falta de paciência dos atendentes, que coitados, iriam trabalhar até satisfazer o último mortal que esperasse até às 18:00 hs daquele dia para se lembrar de presentear alguém. E o pior: o almoço atrasou e todo o resto também, como efeito dominó. Planejamento é a base de uma Natal tranqüilo.
*Bolar o cardápio da ceia, pois alguns itens também já podem ser comprados em novembro: as frutas em calda, fermentos novos e a cobertura do bolo (doce-de-leite em lata e fondant ou marschmelow prontos), confeitos, algum complemento para a árvore, frutas secas (nozes, avelãs, castanhas) e as frutas cristalizadas para o Stollen (sempre quis fazê-lo, mas nunca consegui tirá-lo da receita por falta absoluta de tempo – ou programação - e de ingredientes que deixei para comprar na última hora...e não tinha mais...).* Como no RJ não existe “sal-amoníaco”, que é o ingrediente principal dos biscoitos natalinos, é boa época de pedir para uma amiga do sul enviá-lo pelo correio ou comprar pela internet mesmo.
* E por falar em correio, que tal passar por lá para participar do Natal dos Correios, escolhendo uma cartinha com um pedido ao Papai Noel de uma criança carente?
* No 1º domingo de Dezembro, montar uma coroa de Advento para enfeitar a mesa.

•2 semanas antes: *Aproveitar que o clima ainda está fresco e começar uma boa faxina de Natal (lavar as cortinas e janelas, colocar colchões ao sol, limpar armários e geladeira, etc) e * fazer algumas fornadas de biscoitos de Natal. * Escolher entre as roupinhas e os brinquedos em desuso das crianças, o que pode ser doado e encaminhá-los lavados e já embrulhados, e se possível, juntar aí uma bela e completa Cesta-básica. * Comprar cartões de Natal (são tão menos impessoais que uma lista de endereços pronta numa conta de e-mail...). *Hora de preparar o Stollen, * de comprar os enlatados (creme de leite, leite condensado, milho, ervilhas, palmito, pepinos, azeitonas, etc.), leite, canela em pó, farinha, açúcar, chocolate em pó, côco ralado ou fresco, biscoitos champagne, molhos de tomate pronto, maioneses, panetone.
* Pendurar na porta a bota de feltro ou quem sabe um Calendário de Advento e colocar diariamente, uma surpresinha, como uma contagem regressiva para o Natal. * E que tal concretizar aquele antigo sonho de encher um saco de brinquedos e distribuir às crianças carentes???
1 semana antes: * verificar o nível do gás de cozinha, afinal, logo serão feitos assados, bolos, sobremesas, e toda sorte de “acepipes” que dependerão disso para existir * Enviar os cartões de Natal. * Verificar a decoração da casa, que deve ser a mais festiva possível, afinal, tem criança na casa e isso já faz parte do presente – dos pais – deixá-los com os olhos brilhando!! Ocupe-as com trabalhinhos manuais de motivos natalinos para a decoração, para inserir a criança no espírito de Natal.
* Produzir gelo, afinal, nesse clima quente não há ser vivente que sobreviva sem gelo. Aproveitar para botar as bebidas para gelar. *Comprar o peru.
* Embrulhar os presentes, caso a loja não tenha feito esse serviço.
* Montar a árvore e chamar a criançada para ajudar a enfeitar (como se precisasse chamar...).

• 2 dias antes : *Comprar um vaso com bico-de-papagaio para enfeitar e alegrar a entrada da casa. *Colocar CDs e DVDs de Natal para entrar no clima. * Repassar a lista dos ingredientes da ceia e presentes... ôpa! Presentes à essa altura, NÃO!!!

• 1 dia antes: * Ver qual vai ser a roupa da festa. * Bater e assar o bolo. * Dar uma geral na casa. * Dar um rolé no salão de beleza para fazer unha e cabelo* Separar os ingredientes para a sobremesa. * Separar pratos, copos e talheres que serão usados na ceia, limpá-los e poli-los. * Escolher a toalha e enfeites que vão cobrir a mesa da ceia.

• No dia : * de manhã, comprar as frutas, verduras e ervas frescas e colocá-las na geladeira. * Montar a sobremesa. * Faça uma refeição frugal no almoço, nada elaborado. * Começar a assar o peru no início da tarde. * Rechear e cobrir o bolo. * Fazer as rabanadas. * Tomar um banho demorado e relaxante. * Encher as crianças de expectativas quanto à vinda do Papai Noel. * Telefonar para os parentes e amigos para desejar Feliz Natal. Daí em diante é só seguir a maré: beber, cear, abrir presentes, receber amigos, Papai Noel, assistir ao especial de Natal da Globo (u-huuuuu!!) , brincar, e curtir a data magna da Cristandade com muita paz, harmonia e amor nos corações.

• No dia, para os nostálgicos:
Embora tenha seguido algumas coisas desse roteiro, e mesmo assim você vá passar o natal sozinho(a) ou como no ano passado, apenas com marido e filha, longe do restante da família, não caia na tentação piegas da nostalgia de relembrar os Natais da infância, isso é suicídio em pleno dia 24!!. Entendo bem esse sentimento, esse aperto horroroso na garganta ao ouvir música natalina nesse dia, esse vazio que oprime o peito, principalmente com a falta que faz a família toda na mesa da ceia, seja pela distância geográfica, emocional ou simplesmente porque algum membro já não está mais entre nós. Mas é Natal, e o que importa na realidade é o sentimento que Jesus colocou em nossos corações assim que nasceu e que até hoje deve reviver em nós nessa data. A alegria das crianças da casa não pode ser ofuscada com a tristeza das nossas lembranças e fantasmas do passado. Troque o som! Coloque ao invés de “Jingle-Bells” e “Noite Feliz”, um CD de jazz, ou MPB, Axé, Samba, é ótimo, relaxante e dispersa os pensamentos!! Remetem à leveza do Natal do nosso país, à praia, ao verão, cheiro de manga-rosa e abacaxi, fogos e alegria. Dê uma volta no quarteirão, e se for o caso, vista-se de Papai Noel, aproveite e leve alegria para as crianças da sua rua e assista-as desembrulhando presentes, observe a beleza das árvores iluminadas e pense sobre os planos para o Ano Novo, converse com os vizinhos. No retorno, o coração estará certamente mais leve e esse dia já estará mais próximo de acabar e lembre que você, apesar da solidão do dia, é um privilegiado por ter em algum lugar, certamente, alguém a quem amar e quem te ame... E afinal, não é o AMOR o maior símbolo do Natal?