domingo, 15 de novembro de 2009

O MÁGICO CANTO DAS CIGARRAS




Diz uma canção que “o canto da cigarra acende o verão”. Pois hoje ouvi o primeiro canto de cigarras após quase 6 anos de vácuo total do canto dos passaredos e insetos de verão nas grandes cidades onde vivi.
Estava vindo do trabalho, caminhando calmamente pela calçada no primeiro dia do horário de verão , quando ouvi o canto inconfundível do Natal. Quase não acreditei!! Cigarras em pleno Rio de Janeiro?? Vinha de umas castanheiras em frente a uma escola, perto de casa. Canto forte, contínuo, impregnado de lembrança. Depois desse dia, em plena Candelária, na Presidente Vargas, no centrão do Rio, com trânsito barulhento, fumaça, gente prá lá e prá cá, essa maravilha se repetiu, e fiquei ali, extasiada, alheia à tudo que se passava à minha volta, ouvindo toda aquela “estridência” sobrevivente, como se estivesse na sala de concertos do Teatro Carlos Gomes em Blumenau, ouvindo meus barrocos preferidos.

Na cidade onde nasci o canto das cigarras, abundante naqueles dias da infância, anunciava o tempo de festas de final de ano. Advento, Natal, Dia de Reis, Ano Novo, etc.ocasiões estas em que ser criança era a maravilha das maravilhas.
Era o tempo em que minha mãe aguardava por um agradável dia nublado, um raro dia de dezembro sem muito calor, para assar os deliciosos Biscoitos de Natal e Biscoitos de Mel. Era o início do nosso “tempo de Advento”.
Ambos os biscoitos são tradicionais da culinária alemã de Natal, e hoje, só os encontramos mesmo no sul do país, e, duvido muito que, mesmo lá no sul, alguém ainda se dê ao trabalho de assá-los em casa, já que são um tanto trabalhosos. Todas as feiras-livres, confeitarias e padarias de Blumenau, Pomerode e todas as cidades colonizadas por alemães, os vendem, apesar de não terem mais muita fidelidade de sabor, pois a receita alemã genuína leva “cardamomo”, especiaria que não temos disponível na região.

No entanto, até meados da década de 80, minha mãe gostava de fazê-los em casa, apesar do trabalhão que dava, do calor de dezembro, da gritaria das cigarras, do forno à lenha e dos intermináveis afazeres que a época nos impunha. Em toda família de descendentes de alemães da cidade (e eram muitas), era ponto de honra a dona-de-casa saber fazê-los, e cada qual com sua receita própria, seu toque especial, sua maneira de decorá-los. Isso trazia ao coração de todos, a magia e o espírito dessa época do ano.
Minha mãe não fugia à regra, e deixava tudo à postos, aguardando o tal dia perfeito, nublado ou chuvoso, geralmente quando se ouvia a primeira cigarra da estação, estourando de tanto ciciar no pomar ou nas árvores da vizinhança. A esta solitária cigarra, aos poucos, se uniam outras e mais outras, e isso gerava um coral estridente e ensurdecedor ecoando por toda a rua. Canto desengonçado e engraçado, mas que fazia todo o clima da época, misturado ao calor do verão, dos votos de “boas festas” das casas comerciais nos programas de rádio, das pessoas passando em frente ao nosso portão carregando imensas árvores de natal, do burburinho e ruas enfeitadas, das músicas de Natal cantadas sem compromisso por algum transeunte.
Quando via minha mãe limpando as latas dos últimos farelos de biscoito do ano anterior e pegando grandes bacias e untando formas de “cuca” (outra especialidade alemã), meu olho brilhava: era dada a largada para a época de comer muito biscoito!!!
Hoje existem biscoitos de todos os tipos e sabores possíveis, disponíveis desde os grandes supermercados até vendinhas de beira de estrada, mas na minha infância, os únicos que existiam eram os de maisena, o “Maria” e um tal de “mata-fome”, um bolachão sem graça que realmente matava a fome, pelo tamanho que tinha.
Por isso os biscoitos de Natal eram iguaria muito especial, ansiosamente aguardada e prazerosamente devorada, ainda mais por significar “NATAL” .
O forno à lenha ficava na área onde ficavam a churrasqueira e a garagem, e como era uma área grande e fresca, com uma comprida mesa de canela preta, era lá o lugar onde se desenrolava todo o “ritual mágico”. Formas untadas, massas prontas, era hora de abrí-las no rolo e cortá-las em formas especiais de Natal. Eram feitas de folha de flandres, leves, brilhantes e vazadas, guardadas à sete chaves durante o ano todo, amarradas umas às outras só esperando a hora de serem úteis: tinham a forma de: dois tipos de pinheiros (1 liso e 1 serrilhado), 1 estrela, 1 flor serrilhada, 1 anjo (era o formato que mais gostava pois o biscoito pronto era comprido e fino e cabia diretinho na boca da xícara de café...), 1 coração, 1 boneco de neve, 1 papai-noel e uma roda serrilhada, . Normalmente, minha mãe fazia os biscoitos de mel num só formato: de coração e cobria todos iguais com glacê e bolinhas prateadas, prá distingui-los quando iam para a lata, acho.
E esse era o 2º passo do ritual que eu mais gostava de ajudar a fazer. Minha mãe punha fogo na lenha dentro do forno, e à medida que ia queimando, ela abria grandes porções de massa com um rolo sobre a mesa enfarinhada e eu, saltitante, ia cortando, comendo massa e vibrando com as formas tão natalinas. Logo as formas de cuca iam se enchendo de biscoitinhos. Tudo cortado, forno pronto, lá iam eles para assar. Em poucos minutos o aroma de cravo e sal-amoníaco iam impregnando o ar com cheiro de Natal. Que delícia!
Essa parte do ritual levava praticamente toda a manhã. A parte da tarde estava reservada para a melhor tarefa: decorar os biscoitos!!
Depois de um almoço frugal e de um rápido cochilo, voltávamos, eu e minha mãe, para finalizar o trabalho. Quem cochilava, lógico, era só minha mãe. Eu ficava andando de lá para cá, de olho no relógio e nos biscoitos esfriando, agoniada para recomeçar os “trabalhos”.
Os biscoitos repousavam cheirosos numa bacia de alumínio, uma montanha deles!! Aí tínhamos que tirar, com um pano limpo, os restos de farinha que ficavam sobre os biscoitos. Tudo tinha que ser muito bem tirado para que o glacê não soltasse depois. Após esse serviço, minha mãe começava a bater as claras em neve, juntava o açúcar, batia mais, verificava o ponto, e eu olhava ansiosa, esperando com impaciência que o ponto certo fosse atingido logo. Enfim, no ponto!! Tínhamos vários pratinhos para colocar as maravilhas decorativas: açúcar colorido!!!
Cada pratinho continha uma cor de açúcar diferente, e à medida que minha mãe colocava o glacê no biscoito e o recolocava na forma de cuca, eu pegava punhados de açúcar e espalhava sobre eles. Ficavam lindos. Sujava os dedos de glacê e de açúcar, lambia, ficava com a língua colorida, levava bronca, e assim após horas de trabalho, terminava a árdua, mas deliciosa tarefa. O biscoito era posto novamente no forno, dessa vez morno, só para secar o glacê. Isso exigia de minha mãe um cuidado especial, para que não amarelasse a cobertura, o que para uma descendente de alemães perfeccionista, seria um verdadeiro desastre! Mas como minha mãe era mestra nisso, dava tudo certo sempre.
E assim, ao fim do dia, eu tinha duas grandes latas, cheinhas de biscoitos para comer assistindo televisão, no café da manhã no lanche, antes de dormir, enfim, em qualquer ocasião. A melhor delas era quando o Weihnachtsman (Papai-Noel) chegava e eu, morrendo de medo, oferecia um pratinho com biscoitos à ele. E que felicidade vê-lo comendo do biscoito que eu ajudei a fazer!!!

Hoje, minha filha de 4 anos já está totalmente empenhada na tarefa, pois faço questão de preservar com ela e em casa, essa linda, divertida e deliciosa tradição alemã e dos meus Natais de outrora. Escolho também um dia agradável (raro nessas épocas, no RJ), e mãos à massa!!! Ficamos nós duas na cozinha por uma tarde inteira, curtindo o momento e alimentando suas futuras lembranças. Ela já adora tudo! Que bom!

Tive que garimpar a receita, do jeito que minha mãe fazia, junto à minha amiga Urda Klueger, quando eu ainda morava na Bahia (a quem agradeço eternamente), pois a receita original extraviou-se numa das enchentes que assolaram minha cidade na década de 80, e espero manter por muitos anos a delícia de fazer esse que é um dos mais gostosos símbolos do Natal prá mim.

A receita do WEICHNACHTS PLÄTZSCHEN BY URDA KLUEGER , VERSÃO TÂNIA HASKEL

Massa: (parte fácil)
• 1 Kg de farinha de trigo
• 500 gr de açúcar refinado
• 250 gr. Manteiga
• 6 ovos
• 2 colheres (sopa) de sal-amoníaco
• 1 colher (sopa) de raspas de limão
• 1/2 colher (sopa) de cravo-da-índia moído ou em pó (esse item não encontrei na receita da minha amiga, e na 1ª vez que fiz senti que faltava algo que minha mãe usava na receita dela. Garimpei a geladeira atrás de alguma especiaria que tivesse o aroma que faltava e depois de cheirar canela achei o cravo e reconheci-o como sendo o ingrediente certo. Como não tinha cravo em pó, coloquei os cravinhos num saco e bati com martelo até virarem pó, e prá incrementar na receita, peneirei. Fiz questão de acrescentá-lo na receita da Urda e ficaram idênticos. Eureka!! É como trazer um detalhe palpável da infância através da máquina do tempo).

Modo de fazer: sem mistérios: misturar tudo até formar uma massa que não grude nas mãos. Abrir com rolo, cortar com as forminhas e assar um forno médio por uns 15 min, ou até dourar. Cuidar, pois assam rápido.

Glacê: (parte mais delicada)
• 4 claras
• 18 a 20 colheres cheias (sopa) para cada 2 claras de açúcar refinado ou confeiteiro (parece exagero mas é a continha certa, ficam lindos e perfeitos).
• 6 gotas de limão ou vinagre branco.

Modo de fazer: Bater as claras até o ponto de neve, acrescentando o açúcar aos poucos. Pingar o limão. Se preferir, pingar anilina colorida nesse ponto e soltar a imaginação.
Passar nos biscoitos, decorá-los com confeitos à gosto, levar ao forno com a porta entreaberta, à 270º por exatos 7 minutos. Se tirar do forno antes, fica úmido, se passar do tempo ou fechar totalmente a porta do forno, amarelam...Cuidado, então.

(A receita, o modo de fazer, o tempo no forno do glacê eu testei exaustivamente até atingir o ponto certo porque nenhuma receita que encontrei foi clara nesse ponto. Testei colher por colher de acúcar, minuto por minuto no forno, deu um trabalhão mas compensou. Odiava quando encontrava uma receita boa de glacê e na hora da quantidade de açúcar, dizia: “o quanto baste”. isso lá é medida??????? Essa quantidade de biscoito é para uma família grande. Como na minha, atualmente, só somos em 3, uso a metade dos ingredientes. Dá certinho! Bem, depende do apetite da família...esse ano já fiz a receita 2 vezes...e até o Natal, acho que vou ter que repetir...)

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domingo, 15 de novembro de 2009

O MÁGICO CANTO DAS CIGARRAS




Diz uma canção que “o canto da cigarra acende o verão”. Pois hoje ouvi o primeiro canto de cigarras após quase 6 anos de vácuo total do canto dos passaredos e insetos de verão nas grandes cidades onde vivi.
Estava vindo do trabalho, caminhando calmamente pela calçada no primeiro dia do horário de verão , quando ouvi o canto inconfundível do Natal. Quase não acreditei!! Cigarras em pleno Rio de Janeiro?? Vinha de umas castanheiras em frente a uma escola, perto de casa. Canto forte, contínuo, impregnado de lembrança. Depois desse dia, em plena Candelária, na Presidente Vargas, no centrão do Rio, com trânsito barulhento, fumaça, gente prá lá e prá cá, essa maravilha se repetiu, e fiquei ali, extasiada, alheia à tudo que se passava à minha volta, ouvindo toda aquela “estridência” sobrevivente, como se estivesse na sala de concertos do Teatro Carlos Gomes em Blumenau, ouvindo meus barrocos preferidos.

Na cidade onde nasci o canto das cigarras, abundante naqueles dias da infância, anunciava o tempo de festas de final de ano. Advento, Natal, Dia de Reis, Ano Novo, etc.ocasiões estas em que ser criança era a maravilha das maravilhas.
Era o tempo em que minha mãe aguardava por um agradável dia nublado, um raro dia de dezembro sem muito calor, para assar os deliciosos Biscoitos de Natal e Biscoitos de Mel. Era o início do nosso “tempo de Advento”.
Ambos os biscoitos são tradicionais da culinária alemã de Natal, e hoje, só os encontramos mesmo no sul do país, e, duvido muito que, mesmo lá no sul, alguém ainda se dê ao trabalho de assá-los em casa, já que são um tanto trabalhosos. Todas as feiras-livres, confeitarias e padarias de Blumenau, Pomerode e todas as cidades colonizadas por alemães, os vendem, apesar de não terem mais muita fidelidade de sabor, pois a receita alemã genuína leva “cardamomo”, especiaria que não temos disponível na região.

No entanto, até meados da década de 80, minha mãe gostava de fazê-los em casa, apesar do trabalhão que dava, do calor de dezembro, da gritaria das cigarras, do forno à lenha e dos intermináveis afazeres que a época nos impunha. Em toda família de descendentes de alemães da cidade (e eram muitas), era ponto de honra a dona-de-casa saber fazê-los, e cada qual com sua receita própria, seu toque especial, sua maneira de decorá-los. Isso trazia ao coração de todos, a magia e o espírito dessa época do ano.
Minha mãe não fugia à regra, e deixava tudo à postos, aguardando o tal dia perfeito, nublado ou chuvoso, geralmente quando se ouvia a primeira cigarra da estação, estourando de tanto ciciar no pomar ou nas árvores da vizinhança. A esta solitária cigarra, aos poucos, se uniam outras e mais outras, e isso gerava um coral estridente e ensurdecedor ecoando por toda a rua. Canto desengonçado e engraçado, mas que fazia todo o clima da época, misturado ao calor do verão, dos votos de “boas festas” das casas comerciais nos programas de rádio, das pessoas passando em frente ao nosso portão carregando imensas árvores de natal, do burburinho e ruas enfeitadas, das músicas de Natal cantadas sem compromisso por algum transeunte.
Quando via minha mãe limpando as latas dos últimos farelos de biscoito do ano anterior e pegando grandes bacias e untando formas de “cuca” (outra especialidade alemã), meu olho brilhava: era dada a largada para a época de comer muito biscoito!!!
Hoje existem biscoitos de todos os tipos e sabores possíveis, disponíveis desde os grandes supermercados até vendinhas de beira de estrada, mas na minha infância, os únicos que existiam eram os de maisena, o “Maria” e um tal de “mata-fome”, um bolachão sem graça que realmente matava a fome, pelo tamanho que tinha.
Por isso os biscoitos de Natal eram iguaria muito especial, ansiosamente aguardada e prazerosamente devorada, ainda mais por significar “NATAL” .
O forno à lenha ficava na área onde ficavam a churrasqueira e a garagem, e como era uma área grande e fresca, com uma comprida mesa de canela preta, era lá o lugar onde se desenrolava todo o “ritual mágico”. Formas untadas, massas prontas, era hora de abrí-las no rolo e cortá-las em formas especiais de Natal. Eram feitas de folha de flandres, leves, brilhantes e vazadas, guardadas à sete chaves durante o ano todo, amarradas umas às outras só esperando a hora de serem úteis: tinham a forma de: dois tipos de pinheiros (1 liso e 1 serrilhado), 1 estrela, 1 flor serrilhada, 1 anjo (era o formato que mais gostava pois o biscoito pronto era comprido e fino e cabia diretinho na boca da xícara de café...), 1 coração, 1 boneco de neve, 1 papai-noel e uma roda serrilhada, . Normalmente, minha mãe fazia os biscoitos de mel num só formato: de coração e cobria todos iguais com glacê e bolinhas prateadas, prá distingui-los quando iam para a lata, acho.
E esse era o 2º passo do ritual que eu mais gostava de ajudar a fazer. Minha mãe punha fogo na lenha dentro do forno, e à medida que ia queimando, ela abria grandes porções de massa com um rolo sobre a mesa enfarinhada e eu, saltitante, ia cortando, comendo massa e vibrando com as formas tão natalinas. Logo as formas de cuca iam se enchendo de biscoitinhos. Tudo cortado, forno pronto, lá iam eles para assar. Em poucos minutos o aroma de cravo e sal-amoníaco iam impregnando o ar com cheiro de Natal. Que delícia!
Essa parte do ritual levava praticamente toda a manhã. A parte da tarde estava reservada para a melhor tarefa: decorar os biscoitos!!
Depois de um almoço frugal e de um rápido cochilo, voltávamos, eu e minha mãe, para finalizar o trabalho. Quem cochilava, lógico, era só minha mãe. Eu ficava andando de lá para cá, de olho no relógio e nos biscoitos esfriando, agoniada para recomeçar os “trabalhos”.
Os biscoitos repousavam cheirosos numa bacia de alumínio, uma montanha deles!! Aí tínhamos que tirar, com um pano limpo, os restos de farinha que ficavam sobre os biscoitos. Tudo tinha que ser muito bem tirado para que o glacê não soltasse depois. Após esse serviço, minha mãe começava a bater as claras em neve, juntava o açúcar, batia mais, verificava o ponto, e eu olhava ansiosa, esperando com impaciência que o ponto certo fosse atingido logo. Enfim, no ponto!! Tínhamos vários pratinhos para colocar as maravilhas decorativas: açúcar colorido!!!
Cada pratinho continha uma cor de açúcar diferente, e à medida que minha mãe colocava o glacê no biscoito e o recolocava na forma de cuca, eu pegava punhados de açúcar e espalhava sobre eles. Ficavam lindos. Sujava os dedos de glacê e de açúcar, lambia, ficava com a língua colorida, levava bronca, e assim após horas de trabalho, terminava a árdua, mas deliciosa tarefa. O biscoito era posto novamente no forno, dessa vez morno, só para secar o glacê. Isso exigia de minha mãe um cuidado especial, para que não amarelasse a cobertura, o que para uma descendente de alemães perfeccionista, seria um verdadeiro desastre! Mas como minha mãe era mestra nisso, dava tudo certo sempre.
E assim, ao fim do dia, eu tinha duas grandes latas, cheinhas de biscoitos para comer assistindo televisão, no café da manhã no lanche, antes de dormir, enfim, em qualquer ocasião. A melhor delas era quando o Weihnachtsman (Papai-Noel) chegava e eu, morrendo de medo, oferecia um pratinho com biscoitos à ele. E que felicidade vê-lo comendo do biscoito que eu ajudei a fazer!!!

Hoje, minha filha de 4 anos já está totalmente empenhada na tarefa, pois faço questão de preservar com ela e em casa, essa linda, divertida e deliciosa tradição alemã e dos meus Natais de outrora. Escolho também um dia agradável (raro nessas épocas, no RJ), e mãos à massa!!! Ficamos nós duas na cozinha por uma tarde inteira, curtindo o momento e alimentando suas futuras lembranças. Ela já adora tudo! Que bom!

Tive que garimpar a receita, do jeito que minha mãe fazia, junto à minha amiga Urda Klueger, quando eu ainda morava na Bahia (a quem agradeço eternamente), pois a receita original extraviou-se numa das enchentes que assolaram minha cidade na década de 80, e espero manter por muitos anos a delícia de fazer esse que é um dos mais gostosos símbolos do Natal prá mim.

A receita do WEICHNACHTS PLÄTZSCHEN BY URDA KLUEGER , VERSÃO TÂNIA HASKEL

Massa: (parte fácil)
• 1 Kg de farinha de trigo
• 500 gr de açúcar refinado
• 250 gr. Manteiga
• 6 ovos
• 2 colheres (sopa) de sal-amoníaco
• 1 colher (sopa) de raspas de limão
• 1/2 colher (sopa) de cravo-da-índia moído ou em pó (esse item não encontrei na receita da minha amiga, e na 1ª vez que fiz senti que faltava algo que minha mãe usava na receita dela. Garimpei a geladeira atrás de alguma especiaria que tivesse o aroma que faltava e depois de cheirar canela achei o cravo e reconheci-o como sendo o ingrediente certo. Como não tinha cravo em pó, coloquei os cravinhos num saco e bati com martelo até virarem pó, e prá incrementar na receita, peneirei. Fiz questão de acrescentá-lo na receita da Urda e ficaram idênticos. Eureka!! É como trazer um detalhe palpável da infância através da máquina do tempo).

Modo de fazer: sem mistérios: misturar tudo até formar uma massa que não grude nas mãos. Abrir com rolo, cortar com as forminhas e assar um forno médio por uns 15 min, ou até dourar. Cuidar, pois assam rápido.

Glacê: (parte mais delicada)
• 4 claras
• 18 a 20 colheres cheias (sopa) para cada 2 claras de açúcar refinado ou confeiteiro (parece exagero mas é a continha certa, ficam lindos e perfeitos).
• 6 gotas de limão ou vinagre branco.

Modo de fazer: Bater as claras até o ponto de neve, acrescentando o açúcar aos poucos. Pingar o limão. Se preferir, pingar anilina colorida nesse ponto e soltar a imaginação.
Passar nos biscoitos, decorá-los com confeitos à gosto, levar ao forno com a porta entreaberta, à 270º por exatos 7 minutos. Se tirar do forno antes, fica úmido, se passar do tempo ou fechar totalmente a porta do forno, amarelam...Cuidado, então.

(A receita, o modo de fazer, o tempo no forno do glacê eu testei exaustivamente até atingir o ponto certo porque nenhuma receita que encontrei foi clara nesse ponto. Testei colher por colher de acúcar, minuto por minuto no forno, deu um trabalhão mas compensou. Odiava quando encontrava uma receita boa de glacê e na hora da quantidade de açúcar, dizia: “o quanto baste”. isso lá é medida??????? Essa quantidade de biscoito é para uma família grande. Como na minha, atualmente, só somos em 3, uso a metade dos ingredientes. Dá certinho! Bem, depende do apetite da família...esse ano já fiz a receita 2 vezes...e até o Natal, acho que vou ter que repetir...)

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