segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Casa da minha "ÔMA" 1 - A casa

Minha ôma, minha mãe e eu (na janela)
A primeira lembrança que me vem à mente quando falo de minha vó (Ôma, para os alemães), é de sua velha e acolhedora casa de enxaimel, encravada num vale muito verde, no interior de “Raphael”, comarca de Ibirama/SC, com a chaminé sempre fumegante e as janelas de madeira com suas cortinas fininhas tremulando ao vento.
Consigo materializar a imagem dela sentada na pequena escada da entrada, com uma gamela cheia de batatas cozidas frias, e sua inseparável faquinha cortando fatias e mais fatias que ela comia agradecendo aos céus por aquele prazer.
Era uma casa de amplos cômodos, disposta ao sabor de todas as brisas daqueles verdes campos interioranos. Ouvia-se, nas tardes preguiçosas, quando era chegado o tempo de descascar toneladas de tangerinas para fazer-se doce, o ranger das dobradiças das velhas janelas já seculares. Canto mágico este, impregnado de nostalgias. Naquele varandão ajudávamos nosso tio na deliciosa “tarefa” de descascar as frutas recém colhidas, empanturrando-nos mais do que alimentando os cestos de frutas descascadas. Era irresistível! Nessa varanda, gostava de ficar horas sozinha, sentada no chão de tábuas e recostada à parede, só ouvindo a paz daquele silêncio, quebrado apenas com o farfalhar da palha de milho que o vento invadia para brincar, terminando por pousar nas entranhas das laranjeiras em flor. A madeira do chão e dos corrimões talhados em forma de coração já estava toda enrugada, corroída por anos e anos de chuva, geada, vento e paz. Vez por outra via patos e galinhas andando calmamente entre os laranjais e desejava ter sido um deles para nunca mais sair dali, nunca mais ter que ir embora.
Na sala, minha “ôma” dispunha os quadros com fotografias dos antepassados. Casamentos, nascimentos, festas, os músicos da escola de meu “ôpa”, e o próprio, empunhando o velho bandoneon, instrumento que tocava com maestria nos bailes das domingueiras nas cercanias de “Raphael”. Adorava ficar olhando a história daquela casa, caprichosamente imortalizada naquelas lindas e antigas molduras.
Essa sala era na verdade um imenso salão, e até onde me recordo, era utilizado em todas as grandes festas dançantes de família: casamentos, reuniões, aniversários, o final da colheita de fumo ou simplesmente festas para comemorar a vida, a reunião dos filhos e netos no aconchego daquelas paredes de tijolinhos aparentes. Sempre havia danças e música tocada pelo meu “ôpa” em bailes que davam o que falar por muitas semanas, por toda a vizinhança do sítio. Festas inigualáveis, regadas a muita comida, bebida e música alemã.

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Casa da minha "ÔMA" 1 - A casa

Minha ôma, minha mãe e eu (na janela)
A primeira lembrança que me vem à mente quando falo de minha vó (Ôma, para os alemães), é de sua velha e acolhedora casa de enxaimel, encravada num vale muito verde, no interior de “Raphael”, comarca de Ibirama/SC, com a chaminé sempre fumegante e as janelas de madeira com suas cortinas fininhas tremulando ao vento.
Consigo materializar a imagem dela sentada na pequena escada da entrada, com uma gamela cheia de batatas cozidas frias, e sua inseparável faquinha cortando fatias e mais fatias que ela comia agradecendo aos céus por aquele prazer.
Era uma casa de amplos cômodos, disposta ao sabor de todas as brisas daqueles verdes campos interioranos. Ouvia-se, nas tardes preguiçosas, quando era chegado o tempo de descascar toneladas de tangerinas para fazer-se doce, o ranger das dobradiças das velhas janelas já seculares. Canto mágico este, impregnado de nostalgias. Naquele varandão ajudávamos nosso tio na deliciosa “tarefa” de descascar as frutas recém colhidas, empanturrando-nos mais do que alimentando os cestos de frutas descascadas. Era irresistível! Nessa varanda, gostava de ficar horas sozinha, sentada no chão de tábuas e recostada à parede, só ouvindo a paz daquele silêncio, quebrado apenas com o farfalhar da palha de milho que o vento invadia para brincar, terminando por pousar nas entranhas das laranjeiras em flor. A madeira do chão e dos corrimões talhados em forma de coração já estava toda enrugada, corroída por anos e anos de chuva, geada, vento e paz. Vez por outra via patos e galinhas andando calmamente entre os laranjais e desejava ter sido um deles para nunca mais sair dali, nunca mais ter que ir embora.
Na sala, minha “ôma” dispunha os quadros com fotografias dos antepassados. Casamentos, nascimentos, festas, os músicos da escola de meu “ôpa”, e o próprio, empunhando o velho bandoneon, instrumento que tocava com maestria nos bailes das domingueiras nas cercanias de “Raphael”. Adorava ficar olhando a história daquela casa, caprichosamente imortalizada naquelas lindas e antigas molduras.
Essa sala era na verdade um imenso salão, e até onde me recordo, era utilizado em todas as grandes festas dançantes de família: casamentos, reuniões, aniversários, o final da colheita de fumo ou simplesmente festas para comemorar a vida, a reunião dos filhos e netos no aconchego daquelas paredes de tijolinhos aparentes. Sempre havia danças e música tocada pelo meu “ôpa” em bailes que davam o que falar por muitas semanas, por toda a vizinhança do sítio. Festas inigualáveis, regadas a muita comida, bebida e música alemã.

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